Crepúsculo da época
1. Em termos futebolísticos a época 2019/2020 acabou por não correr assim tão mal. Tendo-se conseguido obter mais 6 pontos do que o surpreendente Famalicão (e 5 do que o já veterano Rio Ave), conseguiu-se um até inesperado quarto lugar. Este possibilita mesmo a hipótese de um apuramento para as competições europeias do próximo ano, o que, a concretizar-se, terá efeitos económicos positivos directos (subsídios, bilheteiras, publicidades) e indirectos (hipotéticas valorizações das licenças profissionais dos jogadores). E alegrará a massa adepta, bem como animará o plantel.
2. Em termos de preparação do próximo ano também me parece que as coisas acabaram por correr bem, qual serendipidade. Nos últimos cinco jogos deste tão estranho campeonato, com jogos sem público, o clube empatou dois - com o forte Moreirense e com o aflito mas tão simpático Vitória de Setúbal (meu segundo clube, que muito espero que se safe hoje da descida de divisão) -, e perdeu os dois "clássicos". Esta inesperada constatação de que o treinador Ruben Amorim afinal não é divino é muito bem-vinda. Pois talvez permita acalmar as hostes sportinguistas, esfriando cabeças e amornando teclas. Assim impedindo que desbragadas expectativas envenenem a próxima época.
O Sporting foi o 4º classificado, com esforço, e para o ano será candidato às competições europeias. Partimos com vantagem para isso: o Rio Ave deixará de ser treinado pelo excelente Carlos Carvalhal, o Braga e o Vitória de Guimarães também mudarão de treinador. E as peculiares características do futebol do Famalicão, plataforma giratória ao serviço de uma empresa de comercialização de licenças desportivas, deixa presumir alguma irregularidade qualitativa na constituição dos seus plantéis futebolísticos. Ou seja, a priori, o Sporting parte com alguma vantagem sobre os mais directos concorrentes, pois mantém a sua equipa técnica. Se houver competência nos sempre necessários ajustes do plantel isso será ainda mais real.
3. Por outras razões também saúdo esta classificação final. Mesmo que em última análise ela tenha resultado de uma derrota com o sempiterno rival Benfica, como soube nesta madrugada, algo sempre resmungável. É certo que me afiançam ter o clube sido muito esbulhado, pois, há atrasado, li que em Moreira dos Cónegos houve uma grande penalidade favorável que não foi marcada (outros observadores constataram até duas, li relatos de uma violentíssima agressão a Coates dentro da grande área mesmo no final do jogo, para além do infracção sofrida no início por Jovane). E leio também que ontem, no estádio da Luz, logo no início do jogo houve um canto mal assinalado, desfavorecendo o clube. Ainda assim, mesmo com essas inacreditáveis decisões que mostram a sórdida campanha avessa aos interesses do Sporting, decerto que instaurada pelo conluio entre Vieira, Pinto da Costa, Proença e Fernando Gomes, não deixo de saudar este nosso 4º lugar, atrás do Braga. Pois, como escrevi a 4 de Março, poucos dias antes de nos confinarmos: "não há pinga de ética (do tal "sportinguismo" de que tantos fala[va]m) quando a um terço do final do campeonato se vai contratar o técnico do clube rival, com o qual se ombreia na luta pelo terceiro lugar. Esta manobra de Varandas (da qual o arguto Salvador se rirá, de bolsa cheia e sabedor da estrutura que tem em casa, que decerto entende suficiente para alcançar os objectivos que delineou) é uma vergonha, e será uma mácula indelével no historial moral do Sporting Clube de Portugal. Aliás, este tipo de manobras deveria ser proibida pelos organismos que gerem o futebol, tal como o são as contratações a destempo de jogadores."
O Sporting é sempre prejudicado pela malvadez alheia ? Talvez. Mas colocar os túbaros de molho é capaz de ser mais útil. Para que se pense o 2020/2021. E para que nos deixemos - ou seja, que se deixe o clube - de artimanhas.