Coragem
Seria preciso uma coragem brutal para perceber que são ínfimas as possibilidades de Marcel Keiser dar em treinador que consegue extrair o melhor de uma equipa que tem que singrar no futebol português e europeu de alto nível.
A direção acredita mesmo que sem o melhor jogador da época passada, sem o capitão da equipa e sem o verdadeiro treinador de campo, por mais que se reforce com um ou dois craques, o atual treinador tem unhas para levar a época a bom porto?
Não falemos de gratidão, nem de palmarés recente, falemos de evolução da equipa, da história real do caminho que se fez até às conquistas recentes e da convição quanto às probabilidades de sucesso futuro e, também, de empolgamento e reunião na fé.
Se a direção acreditar - até porque assiste no dia a dia aos treinos, ao desempenho e comportamento da equipa - que o defenda intransigentemente e que trace o seu destino com o destino do treinador. Sim, também é disso que estamos a falar. É a tragédia do Sporting, mas é o Sporting que temos.
Mas se tem dúvidas, se percebeu que, de facto, o treinador terá timings e ideias que lhe ditarão o fracasso antes de qualquer evolução significativa, que tenha a coragem de arrepiar caminho. Muito simplesmente: Marcel Keiser pode não ser treinador para um Sporting sem Bruno Fernandes e a atual direção pode não resistir com saúde às consequências da concretização desse facto.
O situação é absurda. Seria absurdo despedir o treinador que conseguiu dois títulos numa época mas é também absurdo esperar que ele tenha sucesso outra vez. Seria esperar muitos milagres, em especial, sem Bruno Fernandes no plantel.
Por estranho que possa parecer, acho que o ato de maior coragem não será o de se manter fiel ao treinador, protegendo-o neste noite negra. Digo-o porque - sem estar na academia e só assistindo aquelas partes que se traduzem em fracasso ou glória, os jogos - não acredito que quem perceba de futebol ache mesmo que não estamos perante um erro de casting que nos levará a uma época absolutamente penosa de equívocos e erros com resultados humilhantes como o 2:4 em Alvalade ou o 5:0 em Faro-Loulé, sem os disfarces saborosos de glória que a genialidade de Bruno Fernandes nos ofereceu.
Juntando uma ou duas peças chave ao plantel, creio que teremos uma equipa combativa mas não teremos general, nem o já referido treinador de campo. E sem isso não haverá coragem em defender um fraco líder, só uma péssima decisão que se pagará muito caro.
Noite difícil, momento pivot para a época do Sporting.
Se calhar também teria sido mais corajoso eu ter ficado calado. Ou talvez não.