Primeiro: as declarações sucintas, mas de inequívoco teor abonatório, do presidente do Sporting ao jornal desportivo espanhol de maior audiência, sobre Rúben Semedo, futebolista da nossa formação que vive horas muito difíceis em Espanha.
Segundo: a resposta irónica, e ajustadamente breve, de Bruno de Carvalho a Moita Flores, que o destratara num artigo com expressões insultuosas enquanto dizia "apoiar sempre o Sporting" (ao que parece, sem pagar quotas há mais de quatro anos).
Isto é comunicar bem.
Tanto melhor por ter havido dois exemplos no mesmo dia.
Sei bem que o 'Record' tem jornalistas competentes, como já salientei neste blogue. Dizem-me que se prepara uma reorganização interna no jornal que reforçará o peso e a importância desses profissionais mais competentes. É bom para eles e é bom para nós. O 'Record' nasceu precisamente, no final dos anos 40, para servir de contraponto ao excessivo e quase doentio benfiquismo do jornal 'A Bola' e teve ao longo da sua história vários directores conotados com o Sporting - basta lembrar o saudoso Artur Agostinho.
Caro Pedro, toda a gente têm o direito de gostar ou pertencer a qualquer entidade, seja ela política, religiosa ou desportiva, mas, e no caso específico dos jornalistas, o dever de isenção em funções ou de informação têm de ser sempre sagrado. Se optarem por defenderem ideias ou ideais deixam de ser jornalistas de informação para serem opinadores e infelizmente parece que a nossa comunicação social e desportiva enveredou por esse caminho há já algum tempo. Muita gente não tem a noção, mas uma das mais poderosas armas actuais é a manipulação da informação. Com essa manipulação tem se derrubado regimes, cometido genocídios e "ganho" guerras desnecessárias.
Além de todos os erros comunicacionais que o Sporting têm cometido ultimamente, era urgente, a meu ver, criar um departamento interno com especialistas em comunicação que dominassem as várias áreas de informação ou contra-informação. A comunicação do clube não pode ficar limitada aos post do presidente e aos tweeters do Saraiva. Hoje em dia e como se têm visto comunicar bem é meio caminho para o sucesso.
Caro Leão da Estrela, permita-me discordar invocando trinta anos de experiência profissional como jornalista. O dever de isenção não é sagrado: o dever de relatar os factos com rigor, tendo sempre como critério superior a procura da verdade, esse é que é sagrado.
O jornalista não tem de ser isento. Um jornalista da Rádio Renascença tem o direito - e provavelmente o dever - de ser católico. Tal como um jornalista do 'Avante' tem o direito/dever de ser comunista. Ou o jornalista do jornal Sporting tem o direito/dever de ser sportinguista.
Indo mais longe: entre a ditadura e a democracia, o jornalista tem o direito - e o dever - de alinhar pela democracia. Entre a violação dos direitos humanos e a defesa dos direitos humanos, tem o direito - e o dever deontológico - de sair em defesa dos direitos humanos.
Desagrada-me profundamente, enquanto jornalista, ver quase todos os dias esta profissão denegrida e aviltada neste blogue, designadamente nas caixas de comentários (mas não só). Como se não houvesse jornalistas sérios, rigorosos, escrupulosos, acima de qualquer suspeita. Há - e são a grande maioria. Reagirei sempre contra quem, generalizando abusivamente, confundir a árvore com a floresta.
Neste blogue há pessoas com as mais diversas profissões. Há professores universitários, bancários, engenheiros, juristas, professores, funcionários públicos, economistas, advogados - e, sim, também há vários jornalistas. Gostaria de transmitir isto aos leitores: todas as vezes que lançarem lama sobre os jornalistas enquanto profissão, estão a ofender vários autores deste blogue.
Se têm críticas a apontar ao jornalista X ou Y, façam-no. Tudo bem. Eu sou o primeiro a fazer isso. Mas nunca arraso o "jornalismo": critico este ou aquele jornalista e procuro sempre fundamentar o meu argumento.
Sou incapaz de arrasar uma classe profissional inteira. A dos advogados, a dos engenheiros, a dos economistas, a dos funcionários públicos, etc, etc, só porque discordo deste ou acho indecoroso o comportamento daquele.