Comparar Ronaldo a Eusébio
Não é nada fácil compararmos jogadores de épocas diferentes. Porque as mudanças registadas em cada década no futebol - do plano da organização táctica das equipas à preparação física, passando pelo acompanhamento clínico - é totalmente diferente.
Mesmo assim, continuamos a assistir às incessantes comparações entre Eusébio e Cristiano Ronaldo com vista à designação do melhor futebolista português de todos os tempos. Com muitas opiniões favoráveis ao antigo goleador do Benfica, infelizmente já falecido. Sobretudo pela sua brilhante prestação no Campeonato do Mundo de 1966, em que Portugal surpreendeu tudo e todos com a conquista do terceiro lugar.
Não consigo acompanhar estas teses.
Eusébio conseguiu uma única proeza a nível de selecção. Essa mesmo, em 1966. De resto, com ele no activo, a selecção nacional falhou o apuramento para os Mundiais de 1962, 1970 e 1974. E falhou as presenças em todas as fases finais de europeus (1964, 1968, 1972).
Além disso Eusébio jogou na selecção praticamente com a equipa do Benfica: as rotinas estavam mais que firmadas, os automatismos estavam mais que estabelecidos. Nada a ver com os tempos actuais, em que a selecção é uma manta de retalhos, com jogadores das mais diversas proveniências, alguns dos quais nem chegaram a jogar em Portugal.
Cristiano Ronaldo participou em cinco Mundiais - chegando num deles, em 2006, às meias-finais, tal como Eusébio, mas com mais equipas em competição na fase final. E actuou em seis Europeus: num deles sagrámo-nos campeões (2016), noutro fomos à final (2004), noutro atingimos as meias-finais (2012).
Não há comparação possível.
Com Eusébio, a regra era falharmos o apuramento.
Com Ronaldo, a regra é conseguirmos o apuramento.
Aos Mundiais de 1930, 1934, 1938, 1950, 1954, 1958, 1962, 1970, 1974, 1978, 1982, 1990, 1994 e 1998 nem lá chegámos. Antes de Cristiano Ronaldo.
Aos Europeus de 1960, 1964, 1968, 1972, 1976, 1980, 1988, 1992 nem lá chegámos. Antes de Cristiano Ronaldo.
Depois de Ronaldo, não falhámos um.