Como um atleta chegado do Olimpo
Acabou finalmente, por alguns meses, a ruidosa especulação à volta da venda de Viktor Gyökeres. Foram mais de seis semanas de entretenimento de muitos comentadores remunerados, nos jornais e televisões, com o intuito de esmifrar o publico em elucubrações numa não notícia. O fenómeno percebe-se: o jornalismo, vivendo uma profunda crise, não poderia deixar de explorar o filão duma potencial transferência que esteve longe de acontecer. Afinal, a “não notícia” reunia o interesse do grosso dos adeptos do universo da bola: por um lado afligindo os sportinguistas incautos, e por outro alimentando expectativas aos seus adversários. Foram litros de tinta e horas de sagazes cometários que se irão desvanecer rapidamente na espuma do esquecimento. Afinal também foi para isto que se fez o 25 de Abril.
Mas a mim interessa-me principalmente o fenómeno Gyökeres em campo. Serão certamente lugares-comuns os adjetivos a aplico à arte com que o jogador nos surpreende a cada jornada. A força brutal aliada à técnica refinada e resistência resulta mesmo num caso raro. Vê-lo, quase ao fim do jogo, fazer um sprint para recuperar uma bola na defesa, ou esgadelhar-se para marcar só mais um golo é um deleite para quem gosta de futebol. Dou Graças a Deus de ter vindo para o Sporting, e da felicidade que transparece pela experiência. O seu sorriso ao final de cada partida bem-sucedida denuncia um entusiasmo benignamente infantil. Dizem-me que já arranha a língua de Camões e que a namorada é portuguesa.
Finalmente, Gyökeres evidencia uma estampa politicamente incorrecta que me apraz de sobremaneira: aparentando uma escultura clássica, sem ostentar no corpo tatuagens ou outros artifícios, transmite sobriedade, a contrariar a imagem de decadência do europeu médio. Como um atleta chegado do Olimpo.
Rezo para que a sua experiência seja muito feliz entre nós.