Como Rúben venceu duelo com Conceição
Sporting, 2 - FC Porto, 0
Pedro Gonçalves acaba de marcar o segundo golo, apontando para Gyökeres, que o assistiu
Foto Miguel A. Lopes / Lusa
Foi um clássico que nos correu muito bem. O melhor desde que afastámos o FC Porto das meias-finais da Taça da Liga, está quase a fazer três anos. Vencemos anteontem a turma azul-e-branca em Alvalade. E convencemos, sem margem para discussão.
Desmentindo os prognósticos das aves agoirentas que piavam por aí, o Sporting dominou com toda a naturalidade, foi claramente a equipa mais pressionante. Derrotámos o adversário por 2-0 (golos de Gyökeres e Pedro Gonçalves), poderíamos ter ganho por 4-0, estivemos sempre mais próximo de ampliar a vantagem do que os portistas de a reduzirem.
O FCP marcou um golo ilegal, bem anulado, em flagrante deslocação. Nós marcámos quatro limpos: num deles o vídeo-árbitro Tiago Martins transformou uma tentativa de falta defensiva em falta atacante, anulando um belíssimo golo de Gyökeres - e anulando também o magnífico trabalho de Eduardo Quaresma na construção desse lance.
O jovem central bem merecia que tivesse sido validado. Não apenas em respeito à verdade desportiva, mas para recompensar a excelente exibição neste que foi o seu primeiro jogo como titular leonino em três anos.
Ele secou Galeno, o mais perigoso e competente dos portistas.
Pepe - expulso com vermelho directo por flagrante agressão a Matheus Reis, aos 51' - nunca conseguiu travar (sem falta) Gyökeres, o nosso abre-latas, com impressionante dinâmica do princípio ao fim. Claramente o melhor em campo. Claramente o homem do jogo. Claramente o grande jogador desta Liga 2023/2024.
Resultado e exibição confirmam que Rúben Amorim preparou melhor a partida, leu melhor o jogo, esteve superior ao colega do FC Porto. E contornou com talento a súbita dificuldade nascida da lesão de Coates, afectado por mialgia na última sessão de treino antes deste clássico. Parecia um golpe de azar, mas não foi.
O infortúnio de uns propicia oportunidades a outros. Vamos precisar de Quaresma nos difíceis meses de Janeiro e Fevereiro, mesmo que venha novo defesa (Eric Dier?) neste mercado de Inverno. Convém lembrar que Diomande e Geny estarão ausentes, ao serviço das respectivas selecções, enquanto St. Juste é um lesionado crónico e Coates, em bom rigor, anda preso por arames há muito tempo.
Enfim, fomos superiores em todos os processos de jogo. Na manobra defensiva, na construção apoiada, nos lances em profundidade, no controlo do corredor central, no domínio das alas - e até na finalização, algo que costumava desequilibrar estes clássicos a nosso desfavor.
Vitória não só dos jogadores: também do treinador, nomeadamente ao incluir sem receio Eduardo Quaresma no onze inicial. Arriscou, foi recompensado.
Conclusão: Rúben Amorim venceu no duelo muito particular que mantém com Sérgio Conceição. Foi outro triunfo que celebrámos em Alvalade. Nós, os que desejamos mesmo ver o Sporting novamente campeão.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Capitão por ausência do uruguaio, só fez duas defesas com elevado grau de dificuldade (45'+4 e 64'), respondendo bem. Assim transmitiu confiança redobrada aos companheiros.
Eduardo Quaresma - No primeiro jogo como titular da equipa principal em três anos, secou Galeno, o melhor portista. Sete duelos ganhos, seis desarmes conseguidos. Grande exibição.
Diomande - Voltou a passar com distinção o difícil teste de substituir Coates como comandante do nosso bloco defensivo, apesar de ter apenas 20 anos. Vencedor absoluto nos duelos aéreos.
Gonçalo Inácio - Aos 22 anos, era o mais idoso dos nossos centrais neste clássico. Cumpriu a missão que lhe cabia na meia esquerda. Ao ver um quinto amarelo, fica fora do próximo jogo.
Geny - Ala titular pela direita, ajudou a anular Galeno. Vem melhorando no processo defensivo, preenchendo bem os espaços. Com um belo passe vertical, foi ele a iniciar o segundo golo.
Morten - Talvez a sua melhor exibição de leão ao peito. Excelente nas recuperações (20' e 82'), protagonizou um desarme perfeito na nossa grande área (42'). Exímio nos passes longos.
Morita - Combinação perfeita com o internacional dinamarquês, seu parceiro no domínio do meio-campo: graças a eles, o corredor central foi nosso. Essencial para neutralizar Pepê.
Matheus Reis - Vem-se revelando mais influente. Com toque de classe, assistiu Gyökeres no primeiro golo. Anulou João Mário. Agredido por Pepe aos 49', levou o FCP a jogar só com dez.
Pedro Gonçalves - Voltou aos golos, marcando o segundo aos 60', neste seu jogo 150.º pelo Sporting. Mas permitiu defesa (64') e rematou ao lado (82') quando podia fazer bem melhor.
Edwards - Agarrou-se demasiado à bola, com pouca propensão colectiva. Aos 58', porém, esteve à beira de marcar um grande golo, de pé direito: Diogo Costa fez a defesa da noite neste lance.
Gyökeres - Outra exibição superlativa. Marcou (11'), deu a marcar (60'), viu um golo limpo ser anulado (44'). Balanço provisório: 17 golos e sete assistências em 20 jogos. Uma máquina.
Nuno Santos - Quando entrou (61'), substituindo Quaresma, já estava amarelado: portou-se mal no banco ao reter uma bola. Quis redimir-se com um centro perfeito para Pedro Gonçalves (64').
Esgaio - Entrou aos 75', rendendo Geny, já exausto. Também teve sucesso a neutralizar Galeno, seu competidor directo. Viu um cartão amarelo desnecessário aos 90'+6.
Paulinho - Em campo desde o minuto 75, por troca com Edwards, até marcou um golo, aos 90'+3. Que o vídeo-árbitro Tiago Martins deu indicação para anular, de modo errado. Era golo limpo.
Daniel Bragança - Substituiu Morita aos 84'. Envolvido no lance do nosso segundo golo anulado, erradamente invalidado por suposta falta que não cometeu.
Trincão - Entrou aos 84', substituindo Pedro Gonçalves. Teve o mérito de ajudar a suster jogo quando já tínhamos uma vantagem confortável: o resultado estava construído.