Como é possível?
Olho incrédulo, uma vez mais, para a primeira página do jornal A Bola, edição de hoje. "Como é possível não apostarem nestes miúdos?", interroga-se com indignação o matutino que alguns - cada vez menos - ainda consideram a "Bíblia do futebol".
Tanta indignação a propósito de quê? Da "fantástica exibição" de um jogador que o Benfica dispensou, remetendo-o para o principado do Mónaco, onde agora actua às ordens do ex-treinador sportinguista, Leonardo Jardim. E do "grande golo" ontem marcado por Carlos Mané, selando a vitória da selecção portuguesa sub-21 frente à Holanda.
"Titularidade de Rúben Neves no FC Porto é uma saudável excepção na aposta em jovens na liga portuguesa", destaca ainda o jornal. Mentindo. Rúben Neves pode ser excepção, mas no Porto. Porque no Sporting - que também integra a Liga portuguesa - a regra é aproveitar os jovens jogadores, oriundos da formação. Exactamente ao contrário do que A Bola dá a entender, omitindo o nome do nosso clube.
Na última página, em editorial subscrito por José Manuel Delgado, o tom é o mesmo. "Esta tentação provinciana e periférica de desvalorizar o que é nosso e preferir o que vem de fora deve ser combatida", insurge-se o editorialista. Talvez pretenda visar o Benfica, mas falta-lhe o desassombro para chamar as coisas pelos seus nomes. E é incapaz de mencionar o Sporting, também aqui, como excepção à regra.
Vamos a factos.
Na equipa principal do nosso clube alinham actualmente - com regularidade - estes jogadores, todos oriundos da Academia de Alcochete:
Rui Patrício (26 anos)
Cédric Soares (23 anos)
William Carvalho (22 anos)
Adrien Silva (25 anos)
André Martins (24 anos)
João Mário (21 anos)
Carlos Mané (20 anos)
Nani (28 anos)
Além destes, dois outros elementos da nossa formação treinam com regularidade na equipa A:
Ricardo Esgaio (21 anos)
Tobias Figueiredo (20 anos)
Dez, portanto. Número insuficiente, no entanto, para impressionar o jornal A Bola. Que devia ter a honestidade intelectual de distinguir o Sporting dos outros clubes e de saber que o "grande golo" de Carlos Mané enquanto sub-21 não surge por acaso: é fruto de muito e bom trabalho em Alvalde.