Clássico emotivo e empolgante até ao fim
FC Porto, 1 - Sporting, 1
Fresneda eufórico no estádio do Dragão: decorria o minuto 42, acabara de marcar ao Porto
Foto: José Coelho / EPA
Foi um clássico emotivo e empolgante, do primeiro ao último minuto. Um clássico com duas partes muito distintas. Na primeira com domínio do Sporting, que silenciou o público do Dragão aos 42', quando Fresneda a meteu lá dentro. Lateral dextro rematando de pé canhoto, como ponta-de-lança improvisado, sem marcação visível, com Quenda a servi-lo no mais belo lance individual do desafio.
Instalava-se o nervosismo nas bancadas portistas. Era caso para isso: o Sporting vencia ao intervalo, o Porto não conseguira melhor do que um remate de Eustáquio que embateu no ferro. Brinde de Gonçalo Inácio que podia ter-nos custado caro.
Vale a pena assinalar que este era um Sporting com remendos. Além das ausências de Nuno Santos e Pedro Gonçalves, lesionados de longa duração, também não pudemos contar com Geny, igualmente lesionado. Enquanto Morita e Gyökeres, já recuperados mas longe da forma ideal, se sentavam no banco e de lá só saíram ao minuto 69.
Para agravar a questão, aos 23' ficámos com outro futebolista fora de combate: João Simões saiu em lágrimas, com lesão traumática, após choque violento com Eustáquio, oito minutos antes. Foi assistido, ainda tentou retomar a partida, mas não conseguiu. Teve de ser substituído à pressão por Debast, central direito adaptado a médio-centro.
Andamos assim: tapa-se de um lado, destapa-se de outro. Rui Borges continua a aparentar calma. Mas a tarefa dele está longe de ser fácil.
Tudo isto ajuda a explicar o motivo por que a nossa equipa se retraiu no segundo tempo, abandonou a intensa pressão ofensiva dos 45 minutos essenciais e começou a recuar linhas, talvez em excesso, concedendo iniciativa ao adversário.
O Porto, vendo-se a perder e sentindo os adeptos à beira de um ataque de nervos, atirou-se para a frente quase em desespero. Ao ponto de o novo treinador, Anselmi, ter desfeito a linha dos três centrais e ordenado aos jogadores para avançarem no terreno. A ausência de Gyökeres facilitou-lhes a tarefa. Harder é combativo, mas não ataca a profundidade com a mesma intensidade do craque sueco.
O técnico leonino esperou demasiado a mexer no onze, para além da alteração forçada do primeiro tempo. Percebeu-se porquê quando Viktor e Morita entraram, acusando falta de ritmo competitivo: nenhum deles esteve à altura do que já nos habituou. Mesmo assim o ponta-de-lança ofereceu o golo a Quenda aos 70', infelizmente sem resultado: bastou-lhe um minuto em campo para dar nas vistas. Mas o seu primeiro remate digno desse nome só aconteceu aos 90'+3: levava força, mas foi à figura. Diogo Costa defendeu sem dificuldade.
Entre os nossos postes brilhou Rui Silva, aos 68', voando para impedir um cabeceamento de Pepê. Acabaram-se as dúvidas: temos mesmo reforço na baliza.
Houve muita pressão nervosa nos minutos finais. O Sporting mostrava-se compacto e competente a defender, o Porto tentava explorar todas as vias de acesso à nossa baliza, destacando-se o jovem Rodrigo Mora, sem dúvida um talento equivalente ao nosso Quenda.
Aos 90' mantinha-se o 0-1. Que só se desfez quando faltava cumprir minuto e meio do tempo extra concedido pelo árbitro. Samu cruzou sem pressão, colocado em jogo por Diomande, e à boca da baliza surgiu Damaso - que Gonçalo Inácio deixou movimentar-se à vontade - metendo-a lá dentro. Rui Silva nada pôde fazer aqui.
Mas nos instantes seguintes poderia ter havido nova reviravolta. Com energia inesgotável, em novo lance individual, Quenda infiltrou-se na área portista e acabou derrubado por Zé Pedro em tacle deslizante. O defesa azul e branco tocou na bola, mas derrubou o jovem extremo leonino. Era lance para vídeo-árbitro, mas o VAR Tiago Martins não deu sinal de vida e João Pinheiro deixou passar.
Critério largo? Nem por isso. Logo a seguir "avermelhou" dois dos nossos. Matheus Reis com dois amarelos por protestos com escassos segundos de intervalo, algo pouco compreensível. E Diomande por ter encostado a cabeça a Fábio Vieira numa picardia entre ambos com o portista a atirar-se para o chão como se tivesse fractura exposta.
Maneira feia de terminar um clássico que teve lances bonitos. Mantemos oito pontos de vantagem sobre o Porto - que serão nove para eventuais efeitos de desempate. Mas Rui Borges tem a certeza antecipada de ter dois jogadores a menos no próximo desafio, contra o Arouca. E poderão ser três caso João Simões não recupere até lá.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (6) - Seguro na baliza, excepto num lance em que Samu o apanhou adiantado e quase marcava de chapéu. Enorme defesa aos 68'. Bom jogo de pés.
Fresneda (6) - Brilhou pelo segundo jogo consecutivo ao marcar novamente à ponta-de-lança. O golo valeu-nos um ponto. Quebrou fisicamente a partir dos 60'.
Diomande (5) - Esteve muito bem durante quase todo o jogo. Impôs-se na defesa, em diversos cortes. Claudicou no golo portista e viu um vermelho escusado a segundos do fim.
Gonçalo Inácio (4) - Exibição oscilante. Desconcentrado, entregou a bola aos 27': quase nos custou um golo. E deu margem de manobra para Namaso marcar aos 90'+4.
Maxi Araújo (6) - Articulou-se bem com Quenda no corredor esquerdo: teve ponto alto no lance do nosso golo, iniciado por ele. Bom corte aos 74'. Saiu esgotado.
Morten (7) - Pendular, como já nos habituou. É ele a controlar e pautar o nosso jogo, tanto ofensivo como defensivo. O primeiro remate com perigo, de cabeça, foi dele logo aos 4'.
João Simões (4) - Azarado. Estava a combinar bem com Morten no meio-campo quando se lesionou após choque com Eustáquio. Saiu em lágrimas.
Daniel Bragança (4). Muito apagado. Longe da influência no plano táctico e da robustez no plano físico que as suas movimentações como médio ofensivo exigem.
Trincão (6) - Tentou o golo aos 35': saiu ligeiramente ao lado. Construiu para Harder marcar, aos 52'. Foi o melhor que fez. Mas soube trabalhar para a equipa, à frente e atrás.
Quenda (8) - Lance de génio em progressão, sentando três portistas. Daí resultou o passe para golo. Podia ter marcado no último lance quando foi rasteirado na área. Melhor em campo.
Harder (5) - Fez o que pôde, mas foi insuficiente. Falhou o golo aos 52'. Esteve mais perto de marcar aos 57', após canto apontado por Quenda, mas também sem conseguir.
Debast (5) - Entrou aos 23', rendendo João Simões. Numa posição em que não está rotinado. Cumpriu os mínimos, sem brilho. Faltou-lhe dinâmica a complementar Morten.
Gyökeres (6) - Só saltou do banco aos 69', substituindo Harder. Mais acutilante, logo a seguir ofereceu golo a Quenda. Remate forte aos 90'+3. Derrubado por Djaló na área em lance duvidoso.
Morita (5) - Substituiu Bragança aos 69'. Contribuiu para fechar o corredor central, mas percebe-se que está longe do fulgor físico que evidenciava antes da lesão mais recente.
Matheus Reis (3) - Entrou aos 86, substituindo Maxi Araújo. Perdeu a cabeça nos instantes finais, protestando sem parar, o que lhe valeu dois amarelos e a expulsão. Fica fora do próximo jogo.