Citação
Um dos melhores escritores portugueses actuais, Bruno Vieira Amaral, apesar da infelicidade de ser benfiquista (no melhor pano cai a nódoa) escreveu isto:
"Eu tinha 10 anos e o sonho de ser guarda-redes. Estava sentado na bancada poente do velho estádio D. Manuel de Melo, no Barreiro. Era o jogo de apresentação do Barreirense. O Sporting foi a equipa convidada mas que como se sabia que não iria levar as maiores estrelas o estádio estava quase vazio. Na baliza à minha frente, estava o guarda-redes, de costas para os raros expectadores. Os colegas, miúdos com idade para serem filhos dele, chutam umas bolas molengas, tentando desenhar com a preguiça de Agosto arcos sobre o guarda-redes, que nem se esforça para chegar às bolas, basta seguir a trajectória com o olhar. Uma sobrevoou a baliza e aterrou duas filas abaixo de onde me encontrava. O guarda-redes virou-se para a bancada e eu atirei-lhe a bola, que não lhe chegou. Atirei-a novamente, então com todas as forças para não o desiludir. Ele segurou a bola e voltou para a baliza, para o lugar que era o dele. Depois de mais alguns remates, recolheram aos balneários e, para mim, o jogo que ainda não começara terminou nesse momento, o momento em que Vítor Damas se virou para a bancada e eu pude admirá-lo na elegância intacta dos seus 40 anos. Nós, benfiquistas, tínhamos o Bento louco, corajoso, cão de guarda; os sportinguistas tinham um príncipe, um guardião. O Damas não era do Sporting, era meu. Era ele que inspirava o meu sonho de ser guarda-redes. Foi a única vez que o vi num campo de futebol, no ocaso da carreira mas, inegável e soberano, ainda era o Damas. Nunca mais me esqueci daqueles minutos."
E está dito.