Cheira-me que vive os dias mais felizes da sua vida.
Jorge Jesus é uma bela súmula do que é ser o português ferrabrás. Alma até Almeida, coração enorme, mas também fezada, improviso, mania das grandezas, alguma arrogância até e soberba provocatória a disfarçar a fragilidade ou (como se diz agora) autoestima lá em baixo. Português, o maior, mas mortal ainda assim.
Jorge Jesus é obcecado com o que faz, meticuloso e em constante auto-melhoramento. Sendo de geração diferente da de Mourinho, é mais da rua, da fábrica, do café, da sueca, da chicla e da caneta Parker que do Moleskine ou da Montblanc.
JJ será ainda muito persuasivo e impositivo, em especial junto daqueles que são emocionalmente frágeis como ele, como os jogadores de futebol portugueses, sul-americanos e latinos e alguns dirigentes. É aí que é Mister: Comes as sandes de courato que quiseres mas fazes como eu quero e se é para chegar todos os dias às 6 da manhã é porque é mesmo para chegar todos os dias às 6 da manhã. É homem do calduço mas também da festinha. Seria um fantástico pastor evangélico no Sul dos EUA, como seria um magnífico senador no Brasil ou um líder de agricultores em França. É um personagem com poucas dúvidas e que raramente se engana.
Como qualquer um de nós, JJ quer ser amado e admirado, e, muito à portuguesa, numa dinâmica que parece ser perpétua, vê na teimosia e na casmurrice qualidades superiores.
Fiquei muito contente com a dupla conquista brasileira de JJ porque o amadorense – homem com defeitos e qualidades – me parece ser muito grato e disponível para aqueles que o aplaudem. Ora isso é uma enorme qualidade e bastante rara. Jesus é um genuíno e entusiasta protagonista numa atividade (o futebol ao mais alto nível) que consumimos com a avidez de crianças. Não se esconde e fala, gesticula, explica, partilhando connosco o que lhe vai acontecendo. Acho esse pacto que fez connosco, os adeptos, uma coisa fantástica e por isso muitos vibramos com uma vitória que lhe caiu do céu (mas essa parte não é para dizer).
JJ é uma espécie de ator de um filme que ele próprio tem criado na carreira, desde que subiu lá acima, quando foi para o Benfica. Habilíssimo na relação com jornalistas e influencers (os mais velhos, malta do Solar dos Presuntos), passou a fase do amealhar dinheiro e aspira agora à admiração, à glória e à imortalidade. Sempre com fezada. Cheira-me que vive os dias mais felizes da sua vida. Parabéns!