Cenas da luta de classes no futebol
Alguns magnatas de clubes europeus untados por capitais de origem norte-americana e de outras proveniências lembraram-se de avançar com a chamada Superliga Europeia.
Objectivo: transportar a luta de classes para o futebol. Não de baixo para cima, como é de regra nas revoluções clássicas, mas de cima para baixo. Impondo-se como "super consagrados" nesta putativa competição que pretende agregar emblemas de três países: Inglaterra, Itália e Espanha. Para sacar a fatia maior dos direitos televisivos do futebol à escala planetária. E remetendo tudo o resto para planos inferiores.
Mas que emblemas são esses?
Fui conferir. Só encontro lá três campeões em título: Juventus, Liverpool e Real Madrid. Outros dois que se sagraram campeões em 2019: Barcelona e Manchester City. Sem esquecer o Chelsea, vencedor da Premier League em 2017.
E a restante metade?
O Manchester United venceu o campeonato inglês pela última vez em 2013. O Atlético Madrid foi campeão espanhol em 2014. O Milan está há dez anos em jejum e o Inter mais ainda: desde 2010 que passa ao lado do principal título do futebol italiano.
Pior, o Arsenal: campeão em 2004, foi incapaz de repetir a proeza desde essa data. Mas nenhum outro se compara ao Tottenham: a última vez que conquistou o título foi em 1961. O ano em que o Eusébio se estreou no Benfica e em que John Kennedy tomou posse como Presidente dos EUA.
Isto no plano das competições internas. No âmbito da Liga dos Campeões - e da Taça dos Campeões Europeus, que a antecedeu - quatro destes doze passaram sempre ao largo: Arsenal, Atlético Madrid, Manchester City e Tottenham jamais ascenderam ao primeiro lugar do pódio das equipas no Velho Continente.
Os outros oito clubes sagraram-se campeões europeus. Mas alguns já há bastante tempo: Juventus em 1996 pela última vez, Milan em 2007, Manchester United em 2008, Inter em 2010, Chelsea em 2012.
É com isto que querem fazer uma Superliga Europeia?
Simplesmente caricato.
ADENDA: Manchester City anuncia o abandono da tal "Superliga". O mesmo deve ser feito pelos outros clubes ingleses. Estamos perante um nado-morto.