Boa análise ao desempenho de Trincão
Era de esperar. A brilhante exibição de Francisco Trincão no jogo de anteontem contra a Dinamarca, pela selecção nacional, está a despertar a atenção de vários emblemas da Premier League. Manchester United, Newcastle e Arsenal já terão manifestado o seu interesse pelo jogador junto da SAD leonina.
Trincão está ligado ao Sporting por uma cláusula de 60 milhões de euros, mas metade do seu passe pertence ao Barcelona, o que pode desencorajar uma transferência já neste mercado de Verão. Mas é natural que desperte a cobiça de grandes clubes internacionais pela qualidade do seu futebol e pelos números que apresenta nesta época: nove golos e 13 passes para golo. Incluindo os dois que marcou na selecção, onde ainda só teve oportunidade de jogar 72 minutos.
A melhor análise que já li ao desempenho do campeão leonino saiu hoje no Público, assinada por Diogo Cardoso Oliveira, sob o título «Na selecção de Martínez não há espaço para Trincão».
Passo a citá-lo, com a devida vénia, destacando alguns trechos:
«Só neste terceiro jogo com Martínez Trincão pôde actuar como um extremo interior - nas duas vezes anteriores entrou para uma posição mais "colada" à linha. Porquê? Porque Martínez tem desenhado uma ideia que não prevê a existência de um jogador como Trincão. (...) Tem pedido aos laterais da selecção que joguem quase como complementos ao ponta-de-lança. Mendes e Dalot, à vez, têm pisado terrenos interiores - o primeiro mais em condução, o segundo mais em posicionamento entre linhas. (...) Inicialmente, essa parecia ser uma ideia para dar conforto a Rafael Leão e chegou a ter sucesso (...), mas dificulta a vida de jogadores como Trincão, cuja vida é feita de explorar zonas interiores, jogar em espaços curtos e usar o pé esquedo de fora para dentro - para remates, passes a rasgar a defesa ou cruzamentos em arco.»
«Frente à Dinamarca, já na segunda parte, Martínez mudou a tal ideia de laterais por dentro e alas bem abertos no corredor. Moveu Mendes e Semedo para posições exteriores, bem abertos, e os alas (Jota e Trincão) para posições mais condizentes com o futebol de cada um deles - ambos por dentro, com Jota mais vertical e incisivo e Trincão mais refinado a encontrar espaços por dentro. Foi nesse contexto que o jogador do Sporting encontrou caminhos para o golo e levou Portugal à meia-final da Liga das Nações.»
«Outro entrave à afirmação de Francisco Trincão aos olhos de Martínez também se chama Francisco. "Chico" Conceição tem sido um dos preferidos do seleccionador nacional. (...) Trincão dribla menos e é mais um jogador associativo do que de um contra um puro - Conceição tem valores de drible mais altos, Trincão supera em todas as métricas do passe. Através do Sofascore é possível comparar os mapas de calor de Conceição e Trincão e perceber que se movimentam de forma bem diferente - Conceição tem zonas vermelhas muito carregadas e bem coladas à linha, enquanto Trincão tem várias zonas a vermelho, evidenciando muito maior abrangência de movimentos.»
Os sublinhados, naturalmente, são meus.