Belo golo de Trincão e Bellerín já marca
Sporting, 2 - Estoril, 0
Héctor Bellerín, autor do primeiro golo leonino: há dois anos que não marcava
Foto: José Sena Goulão / Lusa
Há jogos assim: apenas para ver um golo - um grande golo - vale a pena ir ao estádio.
Aconteceu na passada segunda-feira, na recepção ao Estoril. Trincão pegou na bola na ala esquerda ofensiva, flectiu para o centro com ela dominada, colando-a ao pé esquerdo e fez uma incursão rápida pela área estorilista. Passou um, dois, três, quatro - e rematou de pé direito, sentando o guarda-redes.
Era o nosso segundo golo, aos 51'. De antologia, fazendo lembrar alguns dos melhores de Messi nos seus anos áureos. Candidato desde já a golo do ano neste campeonato 2022/2023. Sinal inequívoco de que Trincão - que várias vezes tenho criticado - precisa de ser mais trabalhado não no plano técnico, mas no plano mental.
O mais importante está lá. Os números comprovam: faltam a Trincão dois golos para conseguir o seu melhor registo como artilheiro numa época. Precisa de maior acompanhamento no capítulo psicológico para aumentar os níveis de confiança. Será o principal problema dele.
Selava-se o resultado, confirmava-se a vitória leonina numa partida que dominámos do princípio ao fim. Infelizmente, perante o mais baixo número de espectadores para um desafio deste campeonato no Estádio José Alvalade: apenas 22.303 compareceram.
Foi pena, mas não admira muito: os horários têm sido péssimos, os preços mantêm-se desencorajadores, as fracas exibições da nossa equipa não têm ajudado a atrair o público. A SAD do Sporting tem de encarar este conjunto de questões muito a sério - cada qual na sua ordem de prioridades.
O que se retira desta vitória? Desde logo esta evidência: St. Juste e Bellerín são reforços, não enganam. Pena o espanhol ter vindo só por empréstimo. Mas parece estar a aproveitá-lo bem. De tal maneira que foi ele o autor do nosso primeiro golo, aos 40', aproveitando da melhor maneira um ressalto como se fosse interior direito, já longe da ala.
Há dois anos que não marcava. A última vez tinha sido num Arsenal-Leeds, quando integrava o plantel dos gunners. Esperemos que a quebra deste jejum indicie que outros golos dele virão aí. Porro parece ter um digno sucessor como ala direito na nossa equipa.
Bellerín, titular, combinou muito bem no seu corredor com Edwards. O inglês esteve quase a abrir o marcador, aos 39', num espectacular remate em arco que rasou a barra estorilista. Mais uns centímetros abaixo e teria entrado. Seria outro golo espectacular.
Inversamente, Paulinho teve outra prestação muito apagada. Rematou uma vez, é certo: aos 18', após soberbo centro de Edwards, mas o cabeceamento foi bloqueado pelo guarda-redes. Depois o nosso avançado-centro sumiu-se da partida. Não sem antes tentar simular uma falta que não existiu - comportamento recorrente nele.
Várias vezes tenho apontado esta péssima característica de Paulinho. Há uma tendência no Sporting para criticar elementos de outras equipas que exibem os erros e defeitos evidenciados por alguns dos nossos, contestando muito os primeiros mas não os segundos, como se estes não fizessem o mesmo.
Prefiro ser mais exigente com os nossos. Daí considerar lamentável essas sessões de mau teatro.
Enfim, boa arbitragem do árbitro Manuel Mota, hoje um dos melhores em Portugal. Já foi um dos piores, o que comprova até que ponto o nível da arbitragem tem baixado.
Sem cartões, só 15 faltas, nenhum caso controverso. Mota é dos poucos que não confundem contacto físico com falta e não se deixam embarretar com os mergulhos para o relvado. Para termos futebol à inglesa precisamos de arbitragens à inglesa. Como esta foi.
Logo a seguir, no Vitória-Braga desse mesmo dia 27, apitado pelo famigerado senhor Luís Godinho, voltou tudo ao mesmo. Em vez de festa do futebol, festival de apito.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Foi uma das boas notícias do jogo frente ao Estoril: manteve as nossas redes intocáveis. Grande defesa aos 22'. Saiu muito bem dos postes aos 37'. Voltou a transmitir confiança à equipa.
St. Juste - Recuperou a titularidade revelando segurança e solidez a defender e capacidade de avançar no terreno com a bola controlada. Iniciou a construção do primeiro golo.
Coates - Tem revelado algum cansaço. Desta vez, felizmente, não foi necessário adaptá-lo a ponta-de-lança improvisado. Se fosse preciso, lá estaria ele. Já marcou 30 golos de Leão ao peito.
Matheus Reis - Regressou ao onze, mas parece longe da boa forma que evidenciou noutras partidas. Perdeu a bola em zona proibida, aos 22', e pareceu ficar marcado por esse lance.
Bellerín - Revelou confiança e maturidade no lance do golo que desbloqueou o jogo. Confiança no domínio da bola e maturidade no disparo à baliza, sentando o guarda-redes.
Morita - Foi campeão das recuperações neste jogo sem Ugarte, seu parceiro no meio-campo. Chegou e sobrou para as encomendas, batendo-se como um leão nessa zona nevrálgica.
Pedro Gonçalves - Novamente devolvido ao meio-campo, embora mais adiantado do que Morita, já próximo das linhas avançadas. Muito móvel, baralhando marcações. Faltou-lhe o golo.
Nuno Santos - Foi dele o primeiro remate perigoso (13') num remate cruzado rasteiro que passou perto do poste esquerdo. Dois bons centros para Paulinho (32' e 36'), ambos desaproveitados.
Edwards - Ofereceu um golo a Paulinho e esteve a centímetros de marcar um golaço, ele próprio. Muito activo na ala direita, venceu no confronto com Joãozinho. Combinou bem com Bellerín.
Trincão - No primeiro tempo parecia alheado do jogo, mas regressou ao relvado com uma atitude totalmente diferente. Marcou um golão e podia ter marcado mais dois.
Paulinho - Outro jogo sem marcar. Cabeceou com intenção, bem servido por Edwards, mas viu o guarda-redes negar-lhe o golo (18'). Foi-se apagando até ser substituído.
Chermiti - Entrou aos 67', rendendo Paulinho. Aos 90' recebeu a bola de costas, em posição frontal: rodopiou e rematou, para defesa apertada do guarda-redes. Merecia mais tempo.
Gonçalo Inácio - Substituiu Coates (67'). Desta vez no eixo da defesa, contribuiu para a construção a partir de trás e ajudou a manter a nossa baliza impermeável.
Esgaio - Rendeu Bellerín aos 77'. Manteve a solidez defensiva na ala direita numa fase da partida em que o objectivo principal era segurar a bola, sem facilitar.
Arthur - Substituiu Nuno Santos (77'). Extremo clássico, pouco vocacionado para defender. Sente-se melhor a atacar. Os números comprovam: já tem quatro golos e quatro assistências.
Tanlongo - Rendeu Pedro Gonçalves aos 82'. Ainda não foi titular desde que chegou ao Sporting. Demonstra boa técnica, mas precisa de refrear melhor as entradas mais ríspidas.