Balanço. Ou balancé...
Os balanços fazem-se no fim.
Queria eu que viesse aqui fazê-lo de hoje a oito dias, mas por obra e (des)graça dos marroquinos, cá estou hoje a fazer o balanço da participação do conjunto de jogadores portugueses que um empresário prestador de serviços, a contas com a justiça fiscal (mau agoiro desde logo) entendeu chamar para uma voltinha ali ao Catar.
Partimos para o emirado com o objectivo de vencer, nas palavras do timoneiro; Portanto quaisquer desculpas de "ah e tal, só tínhamos ido aos quartos duas vezes", não colhem. A missão foi um redundante falhanço.
E não foi um redundante falhanço apenas porque caímos nos quartos de final, mas foi um ainda maior falhanço ao nível exibicional, com excepção, que por norma faz a regra, do jogo com a Suíça, onde começámos com uma pontinha de sorte e terminámos em grande. Talvez o único jogo em que o senhor da santa deu liberdade aos seus jogadores de fazerem aquilo que tão bem sabem: Jogar à bola!
O jogo da desgraça, já antevisto no terceiro jogo da fase de grupos, com a Coreia do Sul e de certa forma no primeiro jogo com o Gana, foi o espelho onde estava reflectida a imagem de um homem que hoje não tem condições para gerir uma geração de extraordinários jogadores, que correm o risco de nada ganharem se o contrato com a empresa de prestação de serviços de aconselhamento, escolha e treino de jogadores, continuar até à data prevista para o seu final. Nestas coisas costuma-se viver por ciclos e com esta prestação desastrosa, não só ao nível desportivo mas ao nível relacional (a canalhice que fez a Cristiano Ronaldo deveria por si ser motivo para rescisão contratual), será o final do caminho para esta colaboração que até deu frutos sumarentos. Não esquecer o Euro/16 e a Taça das Nações, ou Confederações, ou lá como se chama mais uma competição que a FIFA inventou para facturar mais um punhado de dólares.
Não deixa de ser curioso que da única vez que a equipa jogou o que os seus jogadores sabem, "espetou" seis à Suíça, o que quer dizer, na minha modesta opinião, que se utilizasse sempre os melhores, nos lugares onde rendem e os deixasse ser eles próprios, sem aferrolhoar o jogo, até podiam perder, que no futebol há três resultados possíveis, mas estariam sempre mais perto de ganhar. O empresário saiu-se bem em 2016 tendo sido campeão com apenas uma vitória na final e convenhamos por obra e graça da santinha e então vai daí e toca a utilizar sempre a mesma táctica, "bem fechadinhos cá atrás" e esperar que Ronaldo resolva. Curiosamente foi resolvendo, até na caminhada bem sucedida para o Catar, que o senhor engenheiro empresário pouco fez por merecer.
Ao longo dos anos que por aqui vou escrevendo, sempre coloquei a honorabilidade do senhor empresário acima de qualquer suspeita, está no histórico, não encontrarão outra opinião. Confesso no entanto que vou estranhando algumas das suas opções, nomeadamente a troca de Rui Patrício por Diogo Costa, a troca de William por Ruben Neves, a titularidade absoluta a João Félix (que contrariamente ao que esperava, esteve uns furos acima da minha previsão) e a cereja no topo do bolo, esquecer que tem na equipa só o melhor jogador do Mundo e não "armar" a equipa em função desse jogador. Revejam o jogo com a Coreia do Sul e vejam quantos centros (não) foram feitos para um tipo que se eleva em pulo a 2,95cm (dois metros e noventa e cinco centímetros). Eu contei dois.
A forma como escolheu os titulares, esquecendo por exemplo o melhor jogador do campeonato italiano, leva-me a pensar nalguma "joint venture" com o senhor empresário que manda no futebol mundial. A sério que já meti mais as mãos no lume pelo homem.
A federação portuguesa de futebol deve ao empresário com quem acordou um contrato de prestação de serviços, dois títulos internacionais, inéditos. Mas deve a um jogador, à sua fibra, à sua liderança, ao seu exemplo, tudo o que aquele parceiro de negócios conseguiu.
Sem Cristiano Ronaldo, o empresário absentista não existiria, esse é que é o ponto.
E agora que é hora de balanço, ele que não permaneça no balancé. Que desça e para o lado certo. É hora de sangue novo no banco e isso não é compatível com a renovação do contrato de prestação de serviços.
Não me parece que haja vontade de uma varridela profunda, mas seria uma bela oportunidade para se aproveitar e correr com aquela cangalhada toda que por ali anda a gravitar à volta dos tipos que suam em campo e se andam a encher, pouco contribuindo para o avanço do futebol luso. Essa será matéria para outra oportunidade.