Balanço
Tenho andado aqui a conter-me desde sexta-feira passada, mas não aguento mais.
Estarei tão decepcionado como todos os sportinguistas que aqui vêm, até mesmo aqueles que são do contra, tenho a certeza.
Para mim, já o escrevi aqui bastas vezes, este era o ano do tudo ou nada de Jesus no Sporting. Os clubes vivem de vitórias e não existem muitos "Arsenais" no mundo da bola que se possam dar ao luxo de ir protelando vitórias e gastando milhões ficando-se pelo caminho, tanto mais que não vivemos num país rico, mesmo em termos futebolísticos, apesar de os números com que "mexe" o futebol serem efectivamente pornográficos, se comparados com os do comum dos mortais.
Para que fique claro, não sendo o factor essencial o empurrar para baixo arbitral, ele foi um factor bastante importante neste período que está quase a chegar ao fim e tendo sem sombra de dúvida condicionado os resultados da equipa, não justificam tudo. E não foi o factor essencial, porque a uma equipa como a do Sporting se exige que seja superior a qualquer percalço e o que é um facto indesmentível é que o Sporting não foi competente. Não foi competente aos mais diversos níveis, que passarei a enumerar:
- Fraca utilização do ADN do Clube, ou seja, a potenciação dos jovens da academia. Não chegam João Mário, Gelson e agora Rafael Leão. Obviamente que da academia não saem apenas grandes craques, mas que diabo, o que devem a Alan Ruiz, Matheus Pereira e Iuri Medeiros, ou o que deve a Montero o Chico Geraldes, ou o que deve a Petrovic, João Palhinha? E por aí adiante que já chega de exemplos;
- Utilização, de forma exaustiva até "rebentarem", dos mesmos 12, 13 jogadores, sem se ter feito uma rotação necessária numa equipa que jogou em quatro frentes ao mesmo tempo;
- Deficiente construção da equipa, chegando-se ao ponto de, com a lesão do ponta-de-lança, se ter que jogar manco;
- Aquisição de um jogador que supostamente pegaria de estaca no PSG (numa operação-relâmpago que a todos nos surpreendeu e encheu de orgulho) e a sua não utilização, com a justificação torpe de que não estará adaptado ao futebol europeu (aposto que a partir de agora vai começar a jogar);
- No futebol praticado, a roçar o paupérrimo nalguns jogos. Curiosamente talvez o melhor jogo da época tenha sido o que perdeu no Porto na sexta-feira e que será a excepção. Sim, ganhou um troféu, mas todos sabemos como nos caiu do céu aos trambolhões. Perdemos com os que (passe um pouco de exagero) foram passando pelo último lugar da tabela, o que para uma equipa que almeja o título é um péssimo cartão de visita; Temos sido, por assim dizer, o abono de família dos pequeninos.
A pergunta que muitos estarão a engatilhar é se eu faria melhor. Não, certamente que não, não tenho conhecimento suficiente, que isto de se dizer que se vê futebol há não sei quantos anos não habilita ninguém para a função de treinador, de jogador, ou até de apanha-bolas, mas dá uma perpectiva, por comparação, de formas diferentes de se verem e fazerem as coisas. Desde logo pelos exemplos positivos. Exceptuando a primeira época de Jesus no Sporting, o período Bruno de Carvalho tem o seu expoente na primeira, com Leonardo Jardim ao leme da equipa e com um grupo de jogadores oriundos da academia e outros comprados na loja dos 300, que nos garantiu o segundo lugar e o acesso à Liga dos Campeões. Esse modelo, que na CL já com Marco Silva, até nem se portou tão mal quanto isso (jogos em campos altamente inclinados, se bem nos lembramos, e que estão na génese do coro de assobios nas noites da UEFA), deveria, apesar do desfecho do reinado do "sonso", ter continuado a ser a matriz da equipa. Aliás, convém não esquecer que a melhor época de Jesus foi conseguida com essa base de equipa, herdada de Jardim e Silva. Todos pensávamos que após aquela primeira época em que a equipa praticou um futebol entusiasmante, com algumas contratações para lugares que se percebia serem deficitários, finalmente o objectivo principal seria atingido. Nada mais errado! Tivemos uma segunda época de Jesus para esquecer, com contratações falhadas, desprezando o que de bom havia no alfovre de Alcochete, de tal forma que antes do Natal já tínhamos perdido a ilusão de conquistar qualquer título. Entretanto dois rapazinhos que haviam sido enviados para Moreira de Cónegos, Daniel Podence e Francisco Geraldes, faziam miséria na final da Taça da Liga desse ano, derrotando Benfica e Braga na final, treinados por um rapaz, também ele, corrido do clube por simpatias (ou falta delas) pessoais, Augusto Inácio, de seu nome e apelido. Podence viria a ser integrado e utilizado a espaços na equipa deste ano, até sofrer uma lesão que o vem retirando dos estádios, tendo-se sentido bastante a sua falta.
Este ano, mais uma vez com toda a esperança do Mundo, iniciámos a época depois de o presidente ter aberto os cordões à bolsa como nunca, dando ao treinador jogadores que estando dentro daquilo a que o clube poderia chegar em termos financeiros, se suporia terem qualidade suficiente para vingarem. Ora, desta gente toda, incluindo os que vieram em Janeiro, bons, bons, daqueles que dá gosto ver jogar e dos quais todos, inclusive eu, desconfiávamos, aproveitam-se Coentrão e Mathieu. E Bruno Fernandes, que é um caso à parte e o futuro capitão, se cá continuar por muito tempo. Durou mais tempo, este ano, a agonia. Agonia, sim, porque há tempos que a equipa vinha demonstrando andar presa por arames e a praticar um futebol de, desculpem, merda. É certo que a equipa fez grandes jogos na fase de grupos da CL e se bateu de igual para igual com Barcelona e Juventus, mas "no final do dia" isso traduziu-se em quê? Eu respondo: 1 ponto! Dir-me-ão que a mais não estaríamos obrigados; Verdade, mas então convém não fazer referência aos grandes jogos contra este e contra aquele, não nos leva a lado nenhum e aí até foi onde no cômputo geral a equipa esteve melhor. Já no primeiro jogo da Liga Europa, a nossa estranha apetência para sofrer golos ao cair do pano levou a equipa a sofrer um empate em casa perfeitamente desnecessário e até algo humilhante, apesar do apuramento.
O título é hoje uma miragem, a dois meses e pouco do final do campeonato. Na minha modesta opinião, uma hipotética e muito remota vitória na Liga Europa, ou uma possível vitória na Taça de Portugal, não limpam a época, portanto, importa ir fazendo balanços destes, mais ou menos desassombrados, e questionar se é tempo de mudança, ou é tempo de deixar tudo na mesma. Correndo o risco de levar alguma pancada na caixa de comentários, para mim chega. Não sei se é de Jesus, se é de nós, mas há que tentar com outro, este modelo está esgotado. O modelo de roubar aos jogadores as suas características inatas e de os obrigar a correr contra a sua natureza, para de cinquenta em cinquenta conseguir um Coentrão e dizer que construiu um jogador. E quantos destruiu?