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És a nossa Fé!

«Azevedo

a sua carreira e as suas preferências

João Azevedo é o guarda-redes mais categorizado. O seu nome pronuncia-se com simpatia e admiração por todos quantos, de uma ponta à outra do país, se interessem pelo futebol. E mais ainda: - a personalidade do guarda-redes nacional goza no estrangeiro do justo prestígio que conquistou pelas suas brilhantes e famosas defesas.
O futebol português, que tem tido algumas boas figuras, na baliza, encontrou em Azevedo um estilo próprio, subindo gradualmente em perfeição, oferecendo-nos rasgos de bela energia a um sentido admirável de visão, ao concluírem-se à boca das redes as mais perigosas jogadas.
O nosso “keeper” está na ordem do dia, É o n.º 1 do nosso futebol.
Fomos conversar com o famoso Azevedo do Barreiro. Encontrá-lo, não é coisa fácil, mas ao fim e ao cabo, Azevedo, bom rapaz, não deixou de cavaquear um pouco connosco. Ei-lo na nossa frente, recordando os seus bons tempos de garoto, datas, e revivendo os mais variados casos.
Azevedo tem 30 anos de idade e 14 de jogador de futebol – sempre em guarda-redes. Porquê? Ele nos conta…
- Nunca joguei em outro lugar senão nas redes. Mesmo em miúdo era só este posto que ocupava. E revelo-lhe os porquês. Por ser o lugar de mais descanso… Jogávamos na praia, cá no Barreiro, desafios que ocupavam toda a manhã. Tanta hora a jogar na areia era de arrasar! Assim, eu na baliza, descansava. Interessei-me depois por este lugar e continuei. Quando enverguei pela primeira vez uma camisola de clube desportivo foi para ocupar a defesa das redes do grupo infantil do Barreirense. Tinha talvez menos de 16 anos e lá me conservei três épocas. Depois fui para o Luso, só um ano e na época de 1935-36 ingressei no Sporting.
- Cuja carreira tem sido vitoriosa, atalhamos.
- Sim. Reconheço que valho alguma coisa no futebol, por intuição, por habilidade, mas também porque tenho procurado rodear a minha vida de jogador da bola de cuidada preparação, técnica e física.
- Pensa ainda jogar muito tempo?
- A não ser alguma infelicidade ou qualquer imprevisto, pretendo estar na primeira categoria do Sporting até aos 35 anos. Até quando puder! Por enquanto sinto-me em boa forma..
- Quando aparecer o substituto para o “team” nacional, o Azevedo continuará…
- Quanto a mim – um facto não prejudica o outro. Admito que surja em qualquer altura um elemento capaz de me substituir. O mesmo sucedeu quando eu subi. Continuarei a jogar. Que tem isso?
- Qual o jogador que actualmente revela mais qualidades para o substituir?
Azevedo já deve ter pensado neste caso, pois nos responde com prontidão.
- Martins, Valongo e Capela, este mais jovem… São por enquanto os três valores que vejo no nosso futebol com mais possibilidade de me substituírem em lugar tão ingrato e difícil.
Azevedo deve ser um dos nossos jogadores o que melhor visão tem do jogo. No seu posto, observa com inteligência, a jogada… Sabe recolher impressões.
- Qual o avançado português que mais o perturba?
- Espírito Santo. Quando se acerca das minhas balizas com a bola nos pés, sinto perigo. E saio para a defesa com o dobro da atenção e do cuidado. Veloz, salta bem, sabe evitar de forma especial a defesa, e é magnífico a desmarcar-se. Este atrativos acompanham o seu bom chute.
Continuamos a falar de jogadores.
- Depois, aprecio Moreira, Arsénio, Francisco Ferreira, Quaresma, e dos jogadores novos, uma que me impressiona muito bem, o belenense Andrade. Dos da minha idade considero-os todos bons. Lá nos “leões” é tudo fixe. Dos antigos recordo, entre outros, Mourão e Pinga. E, agora que falamos de gente da bola não posso esquecer o elemento, precioso para a minha vida de jogador – o massagista Manuel Marques. Além de ser de uma competência na sua profissão, tem tido especiais cuidados comigo. Conhece-me dos pés à cabeça. Sabe como funciona o meu corpo melhor que eu, como funciona e reage. Assistido pelo massagista Manuel Marques tenho uma fé enorme na minha actividade…
- Que lhe parece o comportamento do Sporting?
- Boa equipa, e podemos ainda ganhar o campeonato. Questão de força e vontade.
- Com uma carreira já longa e recheada de jogos perigosos, qual terá sido a defesa mais difícil de Azevedo?
- Talvez pareça estranho, mas a melhor defesa, quanto a mim, que fiz no decorrer destes 14 anos, foi um mergulho formidável, aos pés de um avançado portuense, Já não me recordo do nome do avançado, pois isto aconteceu há uns anos. De resto, não tenho recordações especiais. Tardes boas e má, vitórias, derrotas, o jogo com a Alemanha, no empate a 2 bolas, e agora o jogo com os ingleses.
Aproveitamos para falar do estrangeiro. Azevedo já alinhou em 14 jogos internacionais e visitou a Espanha, Alemanha, Itália, Suíça e França.
- Em todos estes desafios encontrou grandes jogadores?
Azevedo pensa um pouco, revê a série de encontros, e diz-nos:
- É inegável que, de todos, os que mais me impressionaram foram os dois extremos ingleses da R.A.F.
- Que resultado prevê no próximo Portugal – Espanha?
- É possível ganharmos. Se o grupo entrar em campo com a vontade com que pisou a relva do Estádio Nacional no jogo com a R.A.F., não será extremamente difícil vencer os espanhóis. Temos categoria.
Abordámos aina um assunto que constitui uma passagem importante na vida de Azevedo. A sua projectada viagem ao Brasil. O “Keeper” nacional não se surpreendeu com a nossa curiosidade.
- Todos os assuntos que a ele se referem estão adormecidos. Talvez um dia…
- Durante a sua carreira de jogador tem recebido convites para alinhar por outros clubes?
- Nunca recebi dessas propostas. Já agora – “leão” até ao fim.
Terminámos a conversa. Chegara a vez de oferecermos aos nossos leitores a página dedicada a João Azevedo – que ela merece logo que publicámos a primeira. Quando abandonámos o Barreiro trazíamos connosco, além destas palavras, a certeza de que teremos Azevedo para muito tempo.»

Entrevista de Fernando Sá publicada na revista STADIUM, n.º 171, de 13 de Março de 1946. pp. 4, 15

{ Blogue fundado em 2012. }

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