Atitude e competência
Sempre que o Sporting perde ou tem algum resultado menos bom lá vem a ladainha da falta de atitude, que varia desde a versão soft, "não correm, não se empenham", até à versão hard/ultra, "palhaços joguem à bola, que a camisola é para suar". Ainda no último jogo em casa, tive que gramar com alguém nas costas que invectivava tudo e todos pela falta de atitude, especialmente o Bas Dost, aquele que pelos vistos estava a jogar com um traumatismo craniano.
Ora, se atitude só por si ganhasse jogos, não valia a pena formar jogadores, ou contratá-los a peso de ouro, bastava jogar com a equipa dos Comandos da Amadora, ou então com a do Canelas, essa até com atitude dentro e fora do campo. E com tanta conversa de atitude, queixam-se depois que alguns alucinados assumam a questão e invadam a academia para ensinar os jogadores a ter atitude à cacetada.
O que efectivamente ganha jogos é a competência, desde logo a do treinador em montar, treinar e liderar a equipa e depois a dos jogadores em campo.
E contra o Tondela o que não houve mesmo foi essa competência. Desde logo em Marcel Keizer e na sua equipa técnica porque mandou para o terreno uma equipa às cegas das características do adversário, e dos jogadores, todos eles, uns mais que outros, a acumular erros dificeis de aceitar. Competência a concluir jogadas de golo, competência a rematar de longe, competência a marcar cantos, competência nos duelos individuais. Foi por falta de atitude que Diaby falhou dois ou três golos feitos ? Que B. Fernandes não acertou na baliza de livre quando o do Tondela obrigou o Renan a uma grande defesa ? Ou que B. Gaspar abriu a porta ao avançado do Tondela no primeiro golo ? Aliás esse golo, que foi mesmo à minha frente, estava na terceira fila da bancada a uns 5 metros do B. Gaspar, devia ser passado 50 vezes por Marcel Keizer para mostrar tudo aquilo que não se deve fazer, desde a perda de bola a meio campo, à passagem tranquila pelo Gaspar, ao posicionamento da defesa e à cobertura ao avançado que marcou o golo.
Mas voltando a Marcel Keizer, a verdade é que como já tinha dito anteriormente o seu estado de graça acabou, foi o tempo em que pode trabalhar tranquilamente e colocar a equipa a jogar num modelo de jogo diferente, obter rendimentos inesperados dos jogadores, enfim, ser inovador para a realidade da nossa liga. Passados dois meses, os outros treinadores já estudaram, analisaram e perceberam os pontos fortes e fracos, e cada um deles vai montar um esquema para combater os fortes e explorar os fracos.
E onde estão os principais pontos fracos do Sporting para este modelo 4-3-3 ofensivo que Keizer veio implantar ?
Estão aos olhos de qualquer um:
1. Não temos um trinco digno desse nome, ninguém com envergadura física que possa constituir um tampão efectivo da defesa e que tenha capacidade de passe a curta e longa distância, para lançar a equipa desde trás e obstar aos bloqueios do meio campo contrário. Tínhamos William, os rivais têm Fejsa ou Danilo, nós temos um 8 adaptado que deixa muito a desejar. Aliás os adversários já nem se incomodam em marcá-lo, poupam recursos para usar noutro lado.
2. Não temos defesas laterais em condições. Temos um extremo adaptado que enche o corredor mas que tem falhas de posicionamento, o resto são jogadores medianos, que atacam mal e defendem pior.
3. Não temos substituto para o Bas Dost. Como também não temos substituto à altura dos dois centrais titulares. Mas com Bas Dost é bem pior. Não há Bas Dost, os centros são invariavelmente condenados ao insucesso, não há penaltis causados pelo nervosismo dos defesas contrários, não há Sporting a lutar pelos primeiros lugares.
Concluindo, "quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita", o Sporting não conseguiu organizar a temporada em condições, o plantel é muito curto em quantidade e qualidade e com os pontos fracos atrás referidos. Precisam-se reforços que sejam reforços, ao nível dos melhores do plantel actual e para as posições carenciadas. E de alguém que explique a Keizer o futebol português também.
Dito isto, vem aí o líder, vem aí o Porto, se calhar o melhor que poderia acontecer para os nossos pontos fortes, que também os temos, terem ocasião de vir ao de cima e embalarmos para um resto de temporada compensador.
SL