Assim vamos de mal a pior
Arouca, 1 - Sporting, 0
Nuno Santos parece incrédulo após quarta derrota do Sporting na Liga
Foto: Octávio Passos / Lusa
Rúben Amorim errou: preparou um onze titular de recurso, cheio de segundas linhas, para defrontar o Arouca. Tinha a possibilidade de reforçar a quarta posição, ficando apenas um ponto atrás do FC Porto. Saiu de lá com uma derrota (a primeira vez que a equipa local pontuou num desafio contra o Sporting), viu os portistas aumentarem a distância mesmo após empatarem com o Santa Clara (estão agora com mais quatro pontos) e o Braga já com mais seis. O líder, Benfica, está agora 12 pontos acima de nós, cada vez mais líder. Pior ainda: o Casa Pia volta a ultrapassar-nos, retomando o quarto posto. E amanhã o V. Guimarães, se vencer o Famalicão, remete-nos para um humilhante sexto lugar.
Perdemos por um golo sem resposta. Marcado aos 47' pelo capitão do Arouca, João Basso, após cobrança de um canto. Em quatro cantos de que dispôs, a equipa da casa transformou um em golo. Nós, como de costume, trememos a cada lance de bola parada defensiva. E somos incapazes de utilizar da melhor maneira aqueles de que beneficiamos. Desta vez foram dez cantos a nosso favor. O melhor que conseguimos foi aos 90', com um cabeceamento de Coates, travado pelo guardião arouquense.
Nessa altura já o nosso capitão funcionava como ponta-de-lança improvisado. Amorim, com Paulinho e Morita ausentes por lesão, decidiu piorar as coisas mantendo Edwards, Ugarte, Porro e Nuno Santos no banco. No onze que actuou de início surgiram Nazinho (em estreia como titular), Dário (estreante na equipa principal esta época), Rochinha e Arthur - além de Esgaio, regressado de uma espécie de "sabática" após exibição desastrosa contra o Marselha.
O experimentalismo do técnico, destinado a poupar meia equipa para o desafio de amanhã em Alvalade contra o Eintracht, fracassou. Não apenas derrubando as nossas últimas hipóteses de ainda sonhar com o título de campeão, ao somarmos a quarta derrota em onze jogos da Liga 2022/2023, mas também desmoralizando a equipa, que só pode sentir-se frustrada com mais este fracasso.
Além de deitar por terra aquele belo lema que nos serviu de inspiração ao título conquistado em 2021: "Jogo a jogo." Queimar a etapa de Arouca antes de receber o Eintracht para a Liga dos Campeões contraria o mote concebido por Amorim.
A verdade é que a equipa, preenchendo a linha ofensiva com três extremos, foi incapaz de converter as oportunidades criadas ao longo da partida. Nove, no total: por Trincão (8'), Gonçalo Inácio (18'), Rochinha (23'), Esgaio (42'), Porro (64' e 78') e Pedro Gonçalves (75' e 90'+1), além do já referido lance protagonizado por Coates - que foi, a par de Porro, o mais rematador dos nossos: quatro remates cada. O que diz muito do desempenho colectivo do Sporting em Arouca.
Sofremos anteontem mais um golo (já levamos 14 encaixados nas 11 partidas da Liga e 23 no total dos 17 jogos efectuados na temporada em curso, dez dos quais de bola parada). Já somamos tantas derrotas como as registadas nos dois campeonatos anteriores do princípio ao fim: desde a calamitosa época 2012/2013 que não tínhamos quatro nesta fase. Além de havermos sido eliminados da Taça de Portugal pelo Varzim, do terceiro escalão.
Adán foi, de longe, o nosso melhor neste desafio. Sem culpa no golo sofrido, aos 47', impediu o Arouca de ampliar a vantagem com excelentes defesas aos 40' e aos 51', a remates de Alan Ruiz e Tiago Esgaio.
O pior voltou a ser Trincão, que continua a parecer um corpo estranho nesta equipa, sem conseguir integrar-se na dinâmica colectiva. Pedro Gonçalves também andou mal, mas aqui por responsabilidade do técnico, que o forçou a jogar em linhas mais recuadas, distante da baliza - logo ele, melhor marcador leonino das épocas anteriores e que em 2020/2021 chegou mesmo a sagrar-se Rei dos Artilheiros no campeonato.
Tudo mais difícil a partir de agora? Sem dúvida. Não havia necessidade.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Sai de Arouca com a noção do dever cumprido apesar de mais um golo encaixado. Duas preciosas defesas suas impediram a turma da casa de nos ganhar por margem maior.
Gonçalo Inácio - A história do jogo certamente seria outra se tivesse cabeceado na direcção certa aos 18'. Ultrapassado em lance perigoso aos 40'. Saiu aos 53, já amarelado.
Coates - O capitão cumpriu missão de sacrifício no quarto de hora final, actuando como ponta-de-lança de emergência. Quatro remates - um dos quais ia dando golo, aos 90'.
Matheus Reis - Central à esquerda, preocupou-se muito em acorrer às dobras de Nazinho. Rende mais como ala. Assim faz menos uso tanto da velocidade como dos dotes técnicos.
Esgaio - Voltou a ser titular - e foi até dos pés dele, aos 42', que surgiu o nosso maior lance de perigo da primeira parte. O que já diz quase tudo sobre a ineficácia ofensiva leonina.
Dário - Com Morita fora de combate e Ugarte poupado a pensar no Eintracht, actuou como médio defensivo em estreia a titular. Falhou a cobertura no lance do golo arouquense.
Pedro Gonçalves - É desperdício vê-lo jogar como médio de transição, tendo a baliza mais distante. Tal como com o Chaves, voltou a não render neste posto. Convém não repetir.
Nazinho - Outra estreia como titular. Excelente passe cruzado, a partir da linha esquerda, servindo Esgaio num golo falhado. Mas divide com Dário responsabilidade no golo sofrido.
Trincão - Foi o primeiro a desperdiçar um golo do nosso lado, logo aos 8'. Falhou emenda ao segundo poste, aos 29. Andou muito errante, facilmente neutralizado pelo adversário.
Rochinha - Também ele parece um corpo estranho nesta equipa. Tarda em encontrar o seu lugar. Grande lance individual aos 23', mas falhou no último passe. Nada mais fez.
Arthur - Pareceu o mais dinâmico do nosso trio da frente, como avançado-centro improvisado. Não é ali que funciona melhor. Mesmo assim, sacou dois amarelos.
Ugarte - Substituiu Dário aos 53'. Deu intensidade ao nosso meio-campo, com a sua habitual entrega ao jogo. Mas mantém péssima relação com a baliza: dois disparos para a bancada.
Porro - Inconformado, cheio de vontade de virar o resultado, substituiu o apático Esgaio aos 53'. Quatro remates. Teve o golo nos pés aos 81': a bola roçou o poste.
St. Juste - Em campo desde o minuto 53, por saída de Gonçalo, reforçou a segurança defensiva. Mas o pior já estava feito, com o golo sofrido. O problema era lá na frente.
Edwards - Substituiu Rochinha (58'). Entrou na pior fase, quando o Arouca já estacionara, a defender a vantagem. À sua frente só havia uma floresta de pernas intransponíveis.
Nuno Santos - Entrou aos 58', rendendo Nazinho, depois de ter visto um amarelo ainda no banco, por protestos. Talvez isto o afectasse: foi incapaz de fazer a diferença.