Assim é que é: marcar três sem sofrer nenhum
Sporting, 3 - Rio Ave, 0
Jogo de sentido único, o de anteontem, contra o campeão nacional da segunda divisão, recém-promovido ao escalão principal. O Rio Ave - onde já jogou o nosso Matheus Reis e que deverá integrar em breve o ainda nosso Pedro Mendes - visitou Alvalade bem arrumado defensivamente, mas sem arriscar incursões ofensivas. Aferrolhou o mais possível as vias de acesso à sua baliza que só começaram a ser abertas a tiro, com disparos fortes dos nossos, ensaiando aquilo que nem sempre praticam: o remate de meia-distância.
Ugarte foi o primeiro, atirando bem colocado embora à figura do guarda-redes. Outros lhe seguiram o exemplo. Trincão - uma das figuras da partida - levou a pontaria ao extremo de acertar em cheio na barra, em remate sem defesa possível com o seu pé-canhão, o esquerdo.
Desta vez não havia Paulinho. O avançado-centro ficou fora, por lesão no treino da véspera. Edwards entrou como titular, tornando a nossa frente ofensiva mais forte, mais dinâmica e mais criativa. Sem necessidade de um elemento vocacionado para «arrastar os defesas» e abrir clareiras: elas foram-se rasgando por acção do trio da frente. Pouco antes do intervalo, em jogada com toque de génio, o inglês que há meses jogava no Guimarães demoliu a muralha defensiva e serviu para Pedro Gonçalves encostar.
Foi aos 36' - assim se chegou ao intervalo.
No segundo tempo, já com os de Vila do Conde bastante desgastados na corrida atrás da bola que mal tocavam. o futebol leonino ganhou mais acutilância e um toque suplementar de classe. Os dois golos desse período são a prova disso.
Aos 67', a uns 30 metros da baliza, Matheus Nunes encheu o pé e atirou-a para o ninho da águia, sem que o guarda-redes lhe tocasse: quase todos os 31.760 espectadores se levantaram dos seus lugares em espontânea manifestação de alegria. Era caso para isso: acabavam de assistir a um dos melhores golos deste campeonato ainda mal iniciado.
A alegria redobrou aos 75', quando Pedro Gonçalves bisou, marcando o terceiro. A culminar, à ponta-de-lança, rápida tabelinha com soberba assistência de Trincão. E o transmontano ainda viria a fazê-la tocar no poste, quatro minutos depois. Excelente notícia: temos de volta o melhor artilheiro da Liga 2020/2021.
Confirmando que mesmo sem "avançado de referência" conseguimos ir somando golos. Já vão seis, em apenas dois jogos. Com a vantagem óbvia, na comparação com o de Braga, de neste não termos sofrido nenhum.
Houve ainda tempo para cuidar de pormenores, como a troca de Neto por St. Juste para o holandês ganhar ritmo, talvez a pensar no próximo embate com o FC Porto. Também para os minutos concedidos a Fatawu, que tem boa técnica mas ainda revela insuficiências no plano táctico. E sobretudo para a entrada de Esgaio, aos 80', para merecido aplauso após as imerecidas injúrias de que foi alvo pela escumalha do costume nas redes ditas sociais.
O estado anímico de uma equipa também se avalia nestes detalhes, a cargo de um treinador muito perspicaz.
«Onde vai um, vão todos» continua a ser lema deste Sporting orientado por Rúben Amorim.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Noite tranquila: não chegou a fazer uma defesa digna desse nome. Melhor momento: saiu muito bem da baliza aos 32', anulando um contra-ataque.
Neto - Estreia neste campeonato após cumprir jogo de castigo. Transmitiu segurança e maturidade à equipa. Substituído aos 72'.
Coates - Impôs a sua cadência no plano defensivo, ganhou todos os lances aéreos, foi tranquilo sem ser passivo. Como de costume.
Gonçalo Inácio - Devolvido à ala esquerda dos centrais, sua posição natural, atreveu-se a sair com a bola mais de uma vez. O jogo permitia-lhe tal ousadia.
Porro - Imparável no domínio do corredor direito. Quis fazer tudo muito rápido, embora nem sempre os cruzamentos lhe saíssem bem. Cedeu lugar a Esgaio, perto do fim.
Ugarte - Estreia a titular no campeonato. Aposta ganha: funcionou como sucessor de Palhinha a recuperar bolas. Primeiro a tentar a meia distância. Saiu amarelado (65').
Matheus Nunes - Assumiu-se pelo segundo jogo consecutivo como patrão do nosso meio-campo. E marcou um golo em forma de tiro imparável que vale a pena rever.
Matheus Reis - Amorim preferiu apostar nele como ala esquerdo, deixando Nuno Santos no banco. O brasileiro parece mais retraído do que na época passada.
Trincão - Ao segundo jogo, prova que é reforço - e pode vir a ser uma das figuras do campeonato. Tiro à trave (26') e assistência para golo (75').
Pedro Gonçalves - Melhor em campo: marcou dois golos, enviou uma bola à barra e ainda teve ocasião soberana de marcar outro (46').
Edwards - Com Paulinho ausente, foi ele o titular. E cumpriu com distinção. Não marcou, mas deu a marcar o segundo e o terceiro. Criativo e desequilibrador.
Morita - Desta vez ficou no banco de início. Entrou aos 65', rendendo Ugarte, sem revelar a mesma intensidade do uruguaio como médio defensivo.
Rochinha - Voltou a ser suplente utilizado, substituindo Edwards aos 72'. Cumpriu, mesmo sem brilhar como na partida anterior.
St. Juste - Entrou aos 72' para o lugar de Neto. Amorim procura proporcionar-lhe minutos para que possa ascender a titular. Missão bem-sucedida.
Fatawu. Em campo desde o minuto 80 (rendeu Trincão). Procura com muita insistência o golo abusando da jogada individual. Bons dotes técnicos.
Esgaio - Substituiu Porro aos 80', entrando sobretudo para os aplausos que a massa adepta não lhe regateou. Mostrando-lhe que ele é um dos nossos.