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As queixas do Porto e a luta do Sporting

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Passaram apenas quatro dias e eis o FC Porto - escandalosamente beneficiado pela arbitragem em três dos quatro jogos que já disputou para o campeonato nacional de futebol - aos gritos contra os senhores de apito. Desta vez contra um letão, que ontem arbitrou o Manchester City-FCP, jogo em que os portistas foram derrotados por 1-3 após terem estado dois minutos em vantagem no marcador. Alegam eles (alega o treinador Sérgio Conceição, pois Pinto da Costa desta vez meteu a viola no saco, batendo a bola baixa), e provavelmente com razão, que o apitador teve influência no resultado.

É uma espécie de partida do destino. Na noite de sábado, no clássico em Alvalade, o árbitro Luís Godinho e o vídeo-árbitro Tiago Martins tiveram uma actuação vergonhosa. Em benefício evidente da equipa visitante.

Godinho, ao deixar passar em claro uma entrada de Zaidu sobre Porro, aos 19', que podia ter deixado o nosso ala direito incapacitado para o futebol e ao expulsar o nosso treinador por ter dito a mesma palavra proferida pelo técnico do Porto minutos antes. Num estádio vazio, tudo isto se percebe muito bem - e alguns canais de televisão já demonstraram a chocante disparidade de critérios, com recurso a legendas. Faltando apenas, no caso de Conceição, a parte do vernáculo. Mas só Rúben Amorim foi castigado

Martins, ao recomendar a Godinho, já no tempo extra da primeira parte, que revertesse o penálti assinalado contra o FCP, que levou também à retirada do segundo amarelo a Zaidu - o tal jogador que devia ter sido expulso muito mais cedo com vermelho directo. Ao proceder como procedeu, o vídeo-árbitro violou de modo chocante o protocolo de intervenção do VAR, que só autoriza este a pronunciar-se sobre um lance se houver "erro claro e óbvio", o que não era manifestamente o caso.

 

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Não deixa de ser curioso - e até divertido - ver os beneficiados de sábado transfigurados em queixosos de quarta-feira. Agora com aparente razão: o letão de apito, com a bênção do VAR, fez vista grossa a um pisão sobre Marchesín (menos evidente, apesar de tudo, do que o de Zaidu a Porro), assinalou um penálti que não devia ter sido marcado e ainda inventou um livre directo em zona frontal, por falta inexistente e do qual resultou o segundo golo do City.

Qual a diferença? 

A diferença é que o FCP interfere há pelo menos 30 anos nos meandros da arbitragem nacional, mas é impotente para inclinar o campo a seu favor nas competições internacionais. Dar duas entrevistas em poucos dias - como acaba de fazer o presidente do FC Porto - com alusões nada veladas a Pedro Proença, presidente da Liga, pode bastar para que o "bafo do dragão" influencie os senhores de apito cá na terra, mas de nada serve a partir de Tui ou Badajoz.

 

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Tais entrevistas não constituem prova de força: são prova de fraqueza. O FCP perdeu cinco pontos em duas jornadas e soma três jogos consecutivos sem vencer. É quanto basta para fazer soar campainhas de alarme nas Antas. E lá voltam as cumplicidades do costume. O poderio de Pinto da Costa construiu-se nestas décadas num misto de intimidação e impunidade: eles podem dizer e fazer o que querem (no rectângulo português), contando sempre com uma comunicação social reverente - o que não admira, pois já foi tornado público que pagam viagens e hotéis a comentadores afins.

Um dos bitaiteiros que mais tempo passam nos estúdios televisivos fazia ontem e anteontem vénias ao velho crocodilo, expressando-lhe «todo o respeito», enquanto zurzia sem piedade em Frederico Varandas por se ter atrevido a «iniciar uma polémica» com o papa do Apito Dourado. Isto quando a arbitragem nacional ameaça regressar aos tenebrosos anos 90 - talvez a mais vergonhosa década das competições desportivas a nível nacional. 

 

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«A questão central no lance entre Zaidu e Pedro Gonçalves deixou de ser o possível penálti e passou a ser a de perceber se o protocolo permite que em lances de intensidade discutível possa haver intervenção. A resposta é não. By the book, essa só deve acontecer em situações em que seja cometido um erro claro e óbvio. Claro que há muitos lances subjectivos ou de intensidade que são evidentes e nesses o VAR deve actuar como já actuou. Mas o de Alvalade foi um dos tais impossíveis de carimbar.» [texto infelizmente sem ligação digital].

Palavras desassombradas de uma pena insuspeita de simpatizar com o Sporting: Duarte Gomes, em artigo publicado na edição de terça-feira do jornal A Bola. Um texto em que o ex-árbitro recomenda a divulgação das mensagens trocadas entre o árbitro e o vídeo-árbitro em lances que suscitem controvérsia. «Lá chegará o dia», assegura. Defendendo, para já, «um esclarecimento público sempre que aconteça uma situação atípica, que cause ruído e levante suspeitas». Exactamente ao contrário do que agora sucedeu, com o Conselho de Arbitragem remetido a um inaceitável silêncio.

Na mesma linha, esteve bem o Sporting ao difundir ontem um comunicado anunciando que apresentará medidas, na sede própria, para a adopção de «critérios claros e inequívocos» no âmbito da intervenção do vídeo-árbitro. Eis um: «Os diálogos entre o VAR e o árbitro, com o jogo parado, [devem ser] divulgados em directo, durante a transmissão do encontro, à semelhança do que acontece noutros desportos em que as decisões de VAR e equipas de arbitragem são transparentemente explicadas a todos os intervenientes do espectáculo e aos espectadores.»

 

5

O FC Porto - escandalosamente beneficiado nos jogos que já travou com Braga, Marítimo e Sporting - não aceitará, sou capaz de apostar. Embora seja, também ele, prejudicado nos desafios que disputa além-fronteiras. Como ontem aconteceu.

Isto não deve inibir, de forma alguma, o presidente do Sporting de lutar pelo primado da transparência. Com a certeza prévia de que, nesta matéria, qualquer graçola de Pinto da Costa constitui uma espécie de medalha. Sinal evidente de que Varandas está a incomodar um dos maiores protagonistas de atentados à verdade desportiva desde sempre cometidos no futebol português.

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