As compras de Hugo Viana
Para o Sporting Clube de Portugal ter sucesso desportivo e financeiro é fundamental vender bem mas comprar melhor. Porque são as compras conjuntamente com a formação que compensam as obrigatórias vendas mantendo ou aumentando o nível competitivo do plantel, permitindo títulos e bons desempenhos, e alavancando vendas por melhores valores.
O que é então uma boa compra? É aquela que proporciona um valor superior ao custo, e enquanto o custo pode ser mais ou menos facilmente calculado pelo valor de aquisição, salários, prémios, etc, já o valor é bem difícil de determinar.
Imaginem que o Sporting chega à última jornada em igualdade pontual com o Porto e com vantagem no desempate, eles estão a ganhar o seu jogo, nós empatados, e no último minuto o Vinagre centra em diagonal e o golo acontece. Somos bicampeões. Qual é agora o valor do Vinagre e qual passaria a ser?
O valor dum jogador depende de muita coisa. Da sorte também, dele e da equipa.
Falei no Vinagre apenas porque é agora o saco de pancada dos mais exigentes, como já foi Paulinho, como já foi o próprio Amorim, como já foram Vietto e muitos outros antes. Mas o futebol é assim mesmo. Muitas vezes ouvi alguém ao meu lado na bancada passar o tempo a achincalhar determinado jogador para depois esse mesmo jogador fazer qualquer coisa de extraordinário e ele ter de engolir tudo o que disse...
Comprar jogadores não é uma ciência exacta. As más compras vão forçosamente acontecer por diversas razões -- inadaptações, infortúnios, erros de casting -, importa é que não aconteçam por incompetência ou gestão danosa.
Quando se compra um jogador que depois não tem oportunidades de jogo ou se arrasta de lesão em lesão, é de desconfiar de quem foi o responsável.
No mandato de Frederico Varandas que agora terminou, sempre com Hugo Viana como director desportivo, foram comprados (incluo também os empréstimos) os seguintes jogadores, que coloco, considerando também o custo envolvido, em 5 escalões:
A - Excelentes (10)
- Adán (Atl. Madrid)
- Porro (Man. City)
- Matheus Reis (Rio Ave)
- Matheus Nunes (Estoril)
- Pedro Gonçalves (Famalicão)
- Ugarte (Famalicão)
- Sarabia (PSG)
- Slimani (Lyon)
- Gonçalo Esteves (Porto)
B - Boas / úteis (20)
- Paulinho (Braga)
- Esgaio (Braga)
- Feddal (Betis)
- Neto (Zenit)
- Vando Felix (Leixões)
- João Mário (Inter)
- Nuno Santos (Rio Ave)
- Edwards (Guimarães)
- Vietto (At. Madrid)
- Plata (Independiente Equador)
- Antunes (Getafe)
- João Pereira (Trabzonspor)
- Tabata (Portimonense)
- André Paulo (Massamá)
- Marsà (Barcelona)
- Issahaku (Gana)
- Jallow (Zâmbia)
- Kiko Felix (Leixões)
- Etienne Catena (Roma)
- Geny Catamo (Amora)
C - Duvidosas (7)
- Vinagre (Wolves)
- Virgínia (Everton)
- Bolasie (Everton)
- Sporar (Slovan Bratislava)
- Doumbia (Grozny)
- Rosier (Dijon)
- Eduardo Henrique (BSad)
D - Flops / Erros de casting (5)
- Ilori (Reading)
- Camacho (Liverpool)
- Jesé Rodriguez (PSG)
- Fernando (Shakthar Donetz)
- Borja (Toluca)
Foram então, pelas minhas contas, 42 as compras de Hugo Viana.
No meu discutível entender - e naquilo que vimos até agora, para alguns amanhã pode ser diferente - dez excelentes, 19 boas/úteis, sete duvidosas e cinco flops.
A taxa de acerto é de 30/42 = 71%.
Basta olhar para os rivais para perceber que a deles é bem inferior.
Mas vamos olhar para os flops. Dois emprestados por poucos meses, três comprados.
Fernando vinha com um problema de saúde que não conseguiu resolver em tempo útil.
Ilori e Camacho vieram por uma boa ideia, formação no Sporting, passagem pelo Liverpool e por outras equipas do futebol inglês, rapazes conhecidos do presidente então médico em Alcochete, tinham tudo para triunfar. Mas...
Jesé Rodriguez fez um percurso semelhante a Sarabia, dum grande espanhol para o PSG. Perdeu-se por lá entre o social e o desportivo. Precisava de jogar para voltar ao que tinha sido. Mas...
Borja, lateral atacante colombiano, passada larga, capacidade de centro, Carlos Queiroz viu nele qualidade para a selecção A. Mas...
Mas... a cabeça de cada um deles não ajudou. Falta-lhes aquilo que um Neto tem de sobra. Resiliência, capacidade de sacrifício, concentração, humildade, muita coisa.
Erros de casting. Ou então de boas intenções.
SL