Armas e viscondes assinalados: Onze de cada lado e no final ganha o Sporting nos pénaltis, mesmo que a sangrar do nariz
Sporting 1 - FC Porto 1 (3-1 no desempate por grandes penalidades)
Taça da Liga - Final
26 de Janeiro de 2019
Renan Ribeiro (3,5)
Desta vez só defendeu um pénalti, mas a sua aura de especialista contribuiu para que Éder Militão e Felipe falhassem o alvo, pelo que é justo chamar-lhe herói da revalidação do título de vencedor da Taça da Liga, nas pisadas de Rui Patrício, também sujeito a desempate por grandes penalidades na meias-finais e final da edição anterior. Foi a melhor forma de o brasileiro se redimir pelo golo do FC Porto, nascido de uma defesa incompleta e atrapalhada para a frente. Poucas vezes posto à prova, apesar do enorme domínio dos adversários na segunda parte, ainda fez uma defesa magnífica a um cabeceamento de Felipe.
Ristovski (3,0)
Encontrou o irrequieto Brahimi e o pendular Alex Telles pela frente, o que em nada contribuiu para a sua participação no esforço ofensivo. Numa das raras ocasiões em que o fez decidiu mal, optando por um remate torto à entrada da área quando poderia ter servido Bas Dost, que estava em posição frontal e livre de cobertura. Restou-lhe fazer um jogo de grande sacrifício, sempre incansável e sem medo do contacto físico, até à maior vitória de um macedónio desde os tempos de Alexandre.
Coates (4,0)
Quis o destino e a chuteira direita que fosse o único sportinguista a falhar no desempate por grandes penalidades. Como diria um ex-dirigente do clube, seria chato se o melhor jogador em campo ficasse ligado à derrota por causa disso. Felizmente não sucedeu essa gritante injustiça para o uruguaio, desta vez sem Mathieu ao lado, que foi vendo colegas de eixo defensivo caírem ao relvado com o nariz a sangrar enquanto fazia mais cortes nas jogadas prometedoras do FC Porto do que Mário Centeno tem feito nas despesas sociais.
André Pinto (3,5)
Mal o jogo tinha começado e já estava a fazer um excelente corte ao cruzamento de Corona, livre como um pássaro na ala direita. Serviu de mote para uma primeira parte de grande nível, na qual contribuiu para ultrapassar o sufoco inicial e lançar a equipa para o domínio improvável com que o Sporting chegou ao intervalo. Mas estava escrito que seria uma final azarada para o central português: antes do intervalo viu um amarelo (questionável) ao carregar Marega e depois da reentrada em campo fracturou o nariz numa disputa de bola com o mesmo avançado. Ainda tentou manter-se no relvado, com duas compressas ensopadas de sangue em cada uma das narinas, mas viu-se forçado a sair.
Acuña (2,0)
Tudo indica que a final da Taça da Liga foi o último jogo do internacional argentino pelo Sporting, e o mínimo que se poderá dizer é que terá sido uma despedida inglória. Tremendamente ineficaz a conter as incursões de Corona, também não muito mais eficaz a fazer cruzamentos para a grande área portista, e claramente no modo “rebelde sem causa” que atrai cartões amarelos, Acuña foi substituído ao intervalo. Se for mesmo para o Zenit deixará saudades por muitos outros jogos que não este.
Gudelj (3,0)
Depois de numerosas exibições a puxar para o fraco, eis que deu um ar da sua graça e lidou com os líderes da Liga NOS da mesma forma que um seu conterrâneo lida com donos de restaurantes manhosos noutro programa da grelha da TVI. Sem ter feito uma exibição isenta de erros - tanto deixou que Felipe cabeceasse para a melhor defesa de Renan como fez uma tentativa ridícula de remate à entrada da grande área -, empenhou-se em não deixar que os outros vencessem pela primeira vez a Taça da Liga com o tipo de determinação que os sérvios costumam reservar para os croatas, bósnios ou kosovares. Saiu após o golo de Fernando, quando Marcel Keizer apostou tudo no ataque, mas deixou a sua marca.
Wendel (3,0)
Destacou-se a sair com bola para o meio-campo adversário, sem qualquer medo de apostar no um contra um ou no um contra dois. A qualidade intrínseca do jovem brasileiro acabou por sair afectada do desgaste acumulado na segunda parte, ao ponto de controlar mal um belíssimo passe de Nani para dentro da área portista, e não fossem as circunstâncias particulares do jogo poderia muito bem ter dado lugar à entrada de Miguel Luís.
Bruno Fernandes (3,5)
Merecia que Raphinha tivesse aproveitado melhor o passe de qualidade sobrenatural com que, pouco antes do apito final, fez algo à defesa portista que deveria tê-lo forçado a casar com ela. Apenas um dos toques de génio com que demonstrou estar a regressar à melhor forma, e que permitem ao Sporting viver acima das suas possibilidades. Já no último lance da primeira parte o deixara bem claro, na cobrança de um livre directo que saiu a centímetros do poste. Melhor esteve no desempate por grandes penalidades, demonstrando uma eficácia e frieza tais que o guarda-redes do FC Porto podia ter aproveitado para ler os clássicos naqueles segundos que passou a decidir para onde se lançaria.
Nani (3,5)
Ergueu o primeiro troféu desde o segundo regresso a Alvalade e contribuiu bastante para esse desfecho. Pertenceu-lhe o primeiro remate do Sporting, muito forte mas também bastante ao lado, aproveitando uma assistência de... Bas Dost, procurou sempre entregar a bola melhor do que a recebeu e voltou a procurar servir os colegas. Até redescobriu alguma velocidade nas pernas no lance em que respondeu ao golo portista com um cruzamento a que Bas Dost não conseguiu corresponder da melhor forma.
Raphinha (3,0)
Apresentou a velocidade como cartão de visita, o que lhe poderia ter valido um golo caricato, visto que a bola embateu violentamente no seu corpo ao acercar-se de um alívio fora de tempo do guarda-redes portista. Também na segunda parte, servido por... Bas Dost, foi placado por Felipe quando tinha condições para isolar-se frente ao guarda-redes. Pena a falta de eficácia nos instantes decisivos, como aquele em que permitiu a defesa que impediu a consumação da reviravolta leonina sem necessidade da “lotaria dos pénaltis”, ainda que seja aquele tipo de lotaria em que são onze contra onze e no final o Sporting ganha.
Bas Dost (3,5)
Muito mais interventivo do que nos últimos jogos, o holandês aproveitou o mau momento de Pepe e Felipe para ganhar bolas no contra-ataque e assistir Nani e Raphinha em jogadas perigosas. Pouco solicitado pelos colegas no seu “core business”, não hesitou em ajudar a defesa nos momentos de maior domínio do FC Porto e também não ficou longe de conseguir empatar logo após o deslize de Renan. Redimiu-se com a calma glaciar com que cobrou o pénalti que caiu do céu, repetindo a proeza, com menos força, direcção e estilo, no arranque da série que valeu a Taça da Liga ao Sporting.
Jefferson (2,5)
Lançado após o intervalo para o lugar de Acuña, o lateral-esquerdo brasileiro não teve tarefa fácil no um contra um com Marega, com quem trocou empurrões e palavras nada meigas (naquela que foi a maior brecha da noite no “fair play” até Sérgio Conceição ordenar à equipa que recolhesse aos balneários antes da entrega da Taça ao Sporting, e um dos seus adjuntos ter recorrido à medalha de finalista como arma de arremesso contra um adepto leonino). Mas aguentou a pressão e quase merecia ser feliz num cruzamento que lhe saiu mal ao ponto de forçar Vaná a uma defesa apertada para canto.
Petrovic (4,0)
Entrou para o lugar de André Pinto quando o central fracturou o nariz e... fracturou também ele o nariz, apressando-se a pedir uma camisola nova para substituir aquela que ficara da cor das duas equipas que não chegaram à final da Taça da Liga. Assim se manteve em campo, adaptado a central e com o nariz adaptado a uma batata, tal como provavelmente se manteria caso lhe tivessem amputado um dedo ou uma mão. E a verdade é que se portou muito bem, sendo o menos culpado no golo do FC Porto e demonstrando absoluta coragem física nos muitos lances em que fez valer o físico para afastar o perigo da sua baliza. Ainda conseguiu ver um amarelo por uma falta que não cometeu.
Diaby (2,5)
Entrou na hora do desespero e teve o mérito de estar no sítio certo à hora certa, sendo carregado dentro da grande área por Oliver Torres sem que o árbitro João Pinheiro, a meia-dúzia de metros de distância, reparasse nisso até ser chamado à atenção pelos dois videoárbitros. O resto é história.
Marcel Keizer (4,0)
A sua equipa tinha menos 24 horas de descanso nas pernas e, por muito que isso custe, mais do que 24 milhões de euros de diferença de valor de mercado. Promoveu o regresso de Bas Dost, substituiu Mathieu por André Pinto e viu os seus jogadores darem a volta aos primeiros minutos de domínio do FC Porto. Pouco demorou até o Sporting controlar as operações, num daqueles jogos muito divididos e pouco espectaculares que costumam suceder quando as duas melhores equipas portuguesas se encontram, mas depois da bonança veio a tempestade da segunda parte. Tinha gasto a primeira substituição ao intervalo, impedindo Acuña de se despedir deixando a equipa com dez, e gastou a segunda logo a seguir, trocando o ensanguentado André Pinto por um Petrovic que logo deixou também de ser senhor do seu nariz. A única substituição táctica a que teve direito ocorreu no final do jogo, trocando Gudelj por Diaby, e bastou para escrever direito por linhas tortas. Um título ao serviço do Sporting já ninguém tira ao holandês.