Armas e viscondes assinalados: O capitão afundou o navio à deriva e o comandante não resistiu
Sporting 1 - Estoril 2
Taça da Liga - 2.ª Jornada da Fase de Grupos
31 de Outubro de 2018
Salin (2,5)
Estava a ser uma noite agradável para o francês, regressado à baliza do Sporting após a ocorrência hospitalar de Portimão, até porque Renan Ribeiro foi emprestado pelo Estoril, Viviano não andará longe de ser obrigado a sair à rua com uma estrela verde, e Luís Maximiano ainda não convenceu ninguém a torná-lo o futuro guarda-redes do Wolverhampton. Até à meia-hora final de jogo resolveu praticamente todos os problemas, incluindo aquele enorme problema que arranjou ao demorar a despachar a bola para longe, acabando por ser obrigado a atirá-la pela linha lateral com um adversário à ilharga. Depois foi o dilúvio, sem grandes culpas para ele.
Bruno Gaspar (2,0)
Evitou o que poderia ter sido o primeiro golo do Estoril, possibilitado pela sua lentidão a subir no terreno, deixando em jogo um avançado do Estoril. A melhor arrancada pela direita foi travada por um agarrão que, por razões que a razão desconhece, não foi devidamente premiado com o cartão amarelo. Numa noite em que foi o melhor da linha defensiva tem ainda a atenuante de o parceiro de ala não ter dado grande ajuda.
André Pinto (1,0)
Passou a ser o capitão de equipa aquando da saída de Bas Dost, pois Bruno Fernandes, Coates e Nani estavam no banco de suplentes, e o mínimo que se pode dizer é que a braçadeira estaria amaldiçoada. No golo do empate perdeu o duelo directo com o mais veloz e mais despachado Sandro Lima, permitindo-lhe desfeitear Salin, e logo de seguida estabeleceu o resultado final com um autogolo de cabeça, na sequência de um pontapé de canto. Gabe-se-lhe a coragem de ter permanecido no relvado até ao apito final.
Marcelo (2,0)
Terminou o jogo como avançado, pois quem não tem Coates (nem fio de jogo) caça com Marcelo, sem conseguir a segunda reviravolta da noite. Até então estava a ser o menos culpado por uma desgraça (in)felizmente testemunhada por poucos milhares no estádio, executando alguns cortes de bom nível.
Jefferson (1,5)
No último jogo que fizera, contra o Loures, distinguira-se pela qualidade dos cruzamentos, desperdiçados devido à ausência de Bas Dost. Desta vez o holandês do ataque não se chamava Castaignos, mas o lateral-esquerdo brasileiro dedicou-se a demonstrar que errar não só é humano como também é uma hora. Aquela hora que passou no relvado, mais precisamente. Logo no início alheou-se de um passe de morte feito por Carlos Mané, num presságio do que estaria para vir.
Petrovic (2,5)
Coube-lhe quase sempre o início da construção das jogadas do Sporting, o que se revelou menos catastrófico do que seria de esperar. O sérvio juntou muita entrega e algum critério à presença física que lhe é intrínseca, apenas quebrando o encantamento ao ensaiar um remate que nem ao País de Gales valeria três pontos. Recuou para central na hora do tudo ou nada, sem que a derrota caseira se avolumasse.
Gudelj (2,0)
Procurou assumir o jogo em todas as suas vertentes, incluindo os lances de bola parada. Sem grande sucesso, há que referi-lo, pois os adversários conseguiram quase sempre travá-lo, mas com inteiro compromisso até a um final extremamente infeliz.
Carlos Mané (2,0)
Como as opiniões são livres e os factos sagrados, é um facto que o único ‘made in Alcochete’ em campo falhou duas ocasiões soberanas de golo. Na primeira parte rodou mal o corpo ao aproveitar uma assistência de Bas Dost e mesmo no final permitiu a defesa do guarda-redes tendo todas as condições para fazer o mal menor chamado 2-2. No resto do jogo, tirando uma assistência primorosa a que Jefferson se fez desentendido, teve demasiadas movimentações para nada.
Diaby (2,0)
Repetiu a titularidade e, com ela, tudo o que fez no domingo anterior tirando detalhes como assistências para golo e cruzamentos bem medidos. Ter ficado até ao apito final acabou por ser um castigo. Para ele e para quem precisava de refrear o entusiasmo quanto ao maior velocista da Liga.
Wendel (3,0)
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. O refrão de ‘Pra Não Dizer que não Falei das Flores’, de Geraldo Vandré, veio à cabeça quando ganhou a bola à entrada da área, puxou o pé para trás e desferiu o remate indefensável, mesmo junto ao poste, que inaugurou o marcador e parecia anunciar uma noite sossegada. O jovem brasileiro fez por isso, manobrando no meio-campo e combatendo a tendência para viver sem razão de alguns colegas, e em alguns momentos, talvez devido ao bigode, deu ares de versão ‘levezinha’ de William Carvalho. Pena que tivesse de sair, por notórios problemas físicos, levando José Peseiro a esgotar as substituições quando havia muitos em campo que mereceriam ser ajudados a acabar o mandato com dignidade.
Bas Dost (3,0)
Ainda não foi o holandês voador que ouve o estádio a cantar o seu nome quando marca golos, mas o neotitular tem enorme quota de responsabilidade no golo do Sporting, visto que a sua pressão sobre o jogador do Estoril ajudou Wendel a ganhar a bola, e assistiu de cabeça para o que deveria ter sido o 2-0. Num jogo em que recuou muito para ajudar os colegas teve uma hora para ganhar ritmo para outras competições, pois repetir a conquista da Taça da Liga estará praticamente ao nível das miragens.
Lumor (2,0)
Teve direito aos primeiros minutos de jogo nesta época, beneficiando do estado de calamidade de Jefferson e da ausência de Acuña e Mathieu. Começou nervoso e trapalhão, mas serenou e ainda fez uma boa triangulação que Montero não conseguiu transformar em golo.
Montero (2,5)
Melhor a construir jogo para os colegas do que no cara-a-cara com o guarda-redes, o colombiano foi o homem que mais lutou quando o jogo começou a correr terrivelmente mal ao Sporting. Uma das suas jogadas de insistência, quase sempre no limite da falta ofensiva, poderia ter permitido o mal menor - e talvez evitasse um despedimento a altas horas da madrugada -, mas o Diaby estava nos detalhes e Mané não teve pontaria.
Bruno Fernandes (1,5)
Entrou para o lugar de Wendel e não conseguiu pegar na batuta do futebol leonino. Talvez lhe faltasse a braçadeira que ia queimando os braços de André Pinto, talvez estivesse escrito que era noite para redefinir o rumo.
José Peseiro (1,0)
As suas declarações na conferência de imprensa, a última deste consulado e ainda mais penosa do que as anteriores, levariam a pensar que José Peseiro andará a perder tempo precioso a definir o seu voto nas eleições intercalares dos Estados Unidos, pois é evidente que vive no estado da Negação. Ninguém o poderá acusar de repetir onzes, pois fez entrar em campo tão poucos titulares do jogo anterior (Bruno Gaspar, Gudelj e Diaby) que alguns terão temido que o jogo fosse perdido na secretaria, devido aos regulamentos criativos da Taça da Liga. A noite até parecia bem encaminhada, mais controlada do que segura, quando resolveu resguardar Bas Dost e salvar Jefferson de si mesmo. Só não percebeu que o Estoril, equipa do segundo escalão que tem mais e melhor capital humano do que o Loures, começava a tomar conta do jogo, e esgotou as substituições para retirar o tocado Wendel. Seguiram-se quase 30 minutos de Halloween em Alvalade, mais em versão Michael Myers do que no registo “trick or treat”, com o ‘talismã’ Jovane Cabral e o nervoso Nani a assistirem no banco aos sucessivos inconseguimentos dos colegas que ocupavam as suas posições no relvado. Peseiro foi despedido de madrugada, podendo espalhar aos quatro ventos que deixou o Sporting a dois pontos da liderança da Liga, no segundo lugar do grupo da Liga Europa e apurado para a eliminatória seguinte da Taça de Portugal. Mas é, no mínimo, duvidoso que Frederico Varandas venha a pensar nele como Sousa Cintra pensa em Bobby Robson...