Armas e viscondes assinalados: Foguete imparável em mais uma noite sem arraial
Sporting 1 - Paços de Ferreira 0
Liga NOS - 26.ª Jornada
12 de Junho de 2020
Luís Maximiano (4,0)
Compensou os dois pontos oferecidos em Guimarães com dois ou mesmo três pontos numa triste noite de Santo António, na qual a pandemia deixou as bancadas vazias e isentou vários jogadores de assobios e milhares de espectadores de uma nulidade intervalada por raros grandes momentos de futebol. A crise em curso no ex-clube de Ruben Amorim deixou-o em igualdade pontual com o clube que vai pagar 14 milhões de euros pelo treinador, mas convém não esquecer que o Paços de Ferreira, antepenúltimo classificado da Liga NOS superou a equipa da casa em remates enquadrados e saiu de Alvalade a queixar-se da sorte e do videoárbitro. Maximiano teve uma noite de excepção, impedindo a bola de encontrar as redes em sucessivas ocasiões, incluindo aquela em que a sua linha defensiva permitiu que um adversário lhe aparecesse isolado à frente. Sempre atento aos remates dos adversários, evitou males maiores numa equipa que precisaria de uma quarentena muito mais duradoura do que esta.
Eduardo Quaresma (3,0)
Só a intervenção no lance de maior perigo do Paços de Ferreira, deixando um avançado em posição regular, e a fraca percentagem de sucesso nos duelos aéreos – algo que poderá ser ultrapassado com treino, pois ninguém com 185 centímetros pode ser acusado de nanismo – impediram que a primeira titularidade em Alvalade fosse ainda mais memorável. Excelente no controlo das operações e saída da bola, apesar de desta vez ter menos ajuda do colega de ala direita, cimentou o lugar na equipa e no imaginário dos adeptos.
Coates (3,0)
Voltou a mostrar-se patrão, e até os seus vigorosos e sensatos protestos no lance em que chegou a ser assinalado pénalti contra o Sporting ajudaram a ganhar tempo para que o videoárbitro revertesse uma decisão que poderia permitir a Maximiano ser o homem do jogo, forçar Jovane Cabral a horas extraordinárias ou impedir os três pontos que tanto jeito dão numa corrida em que o terceiro lugar é tão possível quanto o sétimo. Pior acompanhado do que é costume, o uruguaio não deu tréguas aos adversários.
Borja (2,0)
Podemos recorrer à suspensão da descrença e dizer que o colombiano não cometeu qualquer irregularidade no lance do pénalti revogado, mas é inegável que deixou escapar um adversário rumo à baliza. Foi apenas a manifestação mais flagrante das limitações de um profissional que decerto procura dar o melhor, tendo o problema irresolúvel de não ser capaz de estar ao nível exigível como central descaído para a esquerda. Falta-lhe, além de tudo o resto, a capacidade de saída com bola que deveria fazer de Mathieu imprescindível enquanto as pernas aguentarem e o contrato for válido.
Rafael Camacho (2,0)
Fez o primeiro remate do Sporting, desenquadrado da baliza, e depois lançou-se numa colectânea de falhas técnicas indignas de quem custou mais ou menos o mesmo que o orçamento de algumas equipas da Liga NOS. Todas as boas indicações que deixou em Guimarães foram esquecidas, quase como se procurasse provar que não foi feito para lateral-direito.
Acuña (2,5)
Gastou quase tudo o que tinha para dar ao jogo logo nos primeiros minutos, arrastando a sua inegável classe no relvado até que Ruben Amorim decidiu recorrer ao trabalho infantil.
Matheus Nunes (3,0)
Manteve o lugar no onze titular, desta vez como médio mais defensivo, e esteve bem na missão de garantir posse de bola e servir de pêndulo entre defesa e ataque, arriscando-se a ficar na ficha de jogo ao fazer a recarga bem sucedida de um livre que entrou na baliza antes de ser devolvido ao campo de jogo. Pouco depois começou a perder gás, o que não é um bom cartão de visita num jovem de 21 anos, e deu lugar a quem fez bem pior do que ele.
Wendel (3,5)
Regressou a Alvalade sem o mesmo grau de exposição corporal e com visual renovado. A barba talvez tenha servido para o brasileiro se assumir como o ancião de 22 anos em que se tornou, tendo em conta a quantidade de adolescentes ao seu lado e a veterania decorrente da terceira época no plantel principal, apenas superada por Coates e Acuña entre os titulares. Mas o mais importante de Wendel são os pés com que executa arrancadas como a que deu origem ao livre que resolveu a embrulhada. Tenha ele confiança para repetir mais vezes tais iniciativas, em vez de se deixar enredar na modorra, e o Sporting poderá ir mais longe, mesmo que à custa de o internacional olímpico brasileiro ir para ainda mais longe.
Jovane Cabral (4,0)
Também ele passou a maior parte da primeira parte à espera do comboio na paragem do autocarro. Mas quando engrenou, ocupando-se da esquerda, fez o que faltava ser feito. Já tinha partido os rins a um adversário, cruzando para um Sporar em dia nunca, quando pegou na bola para marcar um livre ainda a uns passos da grande área e soltou um foguete imparável para animar mais uma noite sem arraial em Alvalade. A pontaria e potência com que a bola embateu na trave, bateu dentro da baliza e voltou a sair pareceu uma segunda passagem de Bruno Fernandes pelo estádio, com o detalhe do festejo de mãos na orelha, a homenagear o ex-capitão leonino, que a partir de Manchester continua a servir de mentor. Seria justo que Jovane conseguisse bisar mesmo no final da partida, após um fulgurante contra-ataque, mas dessa vez a barra reagiu mal ao estrondo da bola.
Vietto (3,0)
Pouco antes de se lesionar num embate com um adversário, ficando com uma luxação que lhe poderá custar as oito jornadas restantes, protagonizou o melhor momento da primeira parte, numa assistência de génio a que Sporar não deu seguimento. E estava a conseguir fazer acelerar o processo ofensivo da equipa, impondo o seu estilo de camisola 10 vendido como avançado.
Sporar (1,5)
Foi a antítese do aproveitamento pleno de oportunidades em Guimarães, desperdiçando duas boas ocasiões de golo. Na primeira parte, servido por Vietto, conseguir avançar até à grande área mas rematou muito acima da baliza, e na segunda parte dessincronizou-se com o cruzamento de Jovane Cabral, mesmo em frente à linha de golo. Tirando estes dois momentos foi discreto, quando não inexistente.
Gonzalo Plata (1,5)
Passou mais de 50 minutos em campo sem propósito e quase como um corpo estranho na equipa, falhando no flanco e no miolo. Tem de afinar o seu enorme potencial, o que talvez passe por uns telefonemas de Bruno Fernandes.
Nuno Mendes (2,0)
Estreou-se na equipa principal ainda com 17 anos, reforçando a ideia de que a pandemia está a fomentar o trabalho infantil. Algumas arrancadas deram boas indicações de quem já parece estar à frente de Borja.
Eduardo (1,5)
Pouco depois de entrar já tinha cometido uma fífia que felizmente não foi aproveitada pelo Paços de Ferreira. Não satisfeito, participou num sururu, recebendo um amarelo dois minutos após substituir Matheus Nunes. Seguiram-se mais uns 15 minutos de incapacidade a níveis pré-pandémicos.
Francisco Geraldes (1,5)
Terá percebido que conta muito pouco quando Vietto ficou agarrado ao braço e Ruben Amorim mandou aquecer Gonzalo Plata. Teria direito a pouco mais de dez minutos, destinados a fazer descansar Wendel e num momento do jogo em que o domínio dos visitantes era cada vez mais pronunciado, nos quais nada mais pôde fazer além de cometer faltas.
Ruben Amorim (2,5)
Alcançou o Sporting de Braga, que mantém o terceiro lugar por todos os critérios, mas para lá chegar venceu pela margem mínima o antepenúltimo, jogando em casa, e ficando atrás no número de remates. Dizer que é poucochinho passa por eufemismo, havendo muito trabalho para fazer de modo a garantir que Alvalade verá jogos europeus nos próximos tempos sem ser enquanto barriga de aluguer de fases finais da UEFA. Louva-se-lhe a aposta nos mais jovens e na formação, mas há que aprimorar a qualidade existente no plantel. E também a comunicação, pois a rábula final da explicação da ausência de Mathieu foi um acto falhado que não prestigia o treinador e desrespeita um dos melhores jogadores que honraram a camisola nos tempos mais recentes.