Aprender com quem sabe
O meu amigo Eduardo Hilário é muito mais benevolente do que eu na sua avaliação do plantel leonino. Embora eu perceba a defesa intransigente que faz de jogadores com um mínimo de qualidade para vestir de verde e branco, considero que leva a generosidade longe de mais.
A SAD não chegaria longe, em termos contabilísticos, se apenas vendesse Renan, Ilori, Rosier, Eduardo e Mattheus Oliveira: tudo junto, mal daria uns trocos. Apesar da minha reiterada simpatia pelo guarda-redes brasileiro, a quem devemos duas taças.
A incómoda verdade é que, para salvar a época em termos financeiros, o Sporting terá de recorrer novamente a receitas extraordinárias - e, excluindo a indesejável antecipação de nova fatia dos proventos da NOS, isto só se consegue vendendo jogadores pelo melhor preço de mercado possível. Não a preço de saldo, como aconteceu há um ano com Bas Dost, ou de borla, como acontecera pouco antes com Nani. Quando não havia sequer a crise pandémica a funcionar como desculpa.
Já sem Bruno Fernandes nem Raphinha, e com Mathieu agora retirado, resta-nos ver partir pelo menos três ou quatro jóias da coroa - jogadores com presença internacional ao serviço das selecções dos seus países ou um par de talentos da nossa formação.
Preparemo-nos, portanto, para a despedida de Acuña - sem dúvida aquela que mais nos custará, entre os jogadores estrangeiros. Creio que também Battaglia, Borja, Doumbia e Ristovski estarão junto à porta de saída.
O pior, para nós, será vermos partir Jovane, Joelson ou até Max: andando as coisas como andam, já nada me admira. Dou por adquiridas as saídas de Miguel Luís, Pedro Mendes e Rodrigo Fernandes, que não pesarão muito em termos contabilísticos. E só espero que pelo menos Eduardo Quaresma, Nuno Mendes e Matheus Nunes se mantenham. Embora sem fazer apostas, atendendo ao que foi a calamitosa gestão do mercado de transferências em Agosto-Setembro de 2019.
O que eu gostaria era de ver replicada no Sporting a capacidade de gestão revelada pelo FC Porto na época desportiva há pouco terminada. Tendo perdido - por motivos semelhantes aos nossos - jogadores da craveira de Brahimi, Herrera, Óliver, Felipe e Militão, além de ficar sem Casillas por doença do guarda-redes que foi campeão europeu e mundial, a agremiação portista conseguiu reinventar-se ao ponto de vencer o campeonato. Obteve êxito desportivo sem descurar a componente financeira. Mudou, sim, mas para melhor.
Será pedir de mais algo semelhante no Sporting? Não: seria reivindicar o mínimo num clube com a dimensão do nosso. Infelizmente, o nível de exigência vai baixando de ano para ano em Alvalade e a gestão das expectativas tornou-se tão baixa que já quase nada esperamos ainda antes de soar o apito inicial da temporada.