Aposta na formação
Nos comentários ao meu último postal dedicado à equipa B duas coisas ficaram muito claras, uma o interesse dos Sportinguistas pela formação e por esta equipa em particular, outra as diferentes formas com que encaram essa mesma formação, e os critérios que utilizam para avaliar o seu desempenho.
Para alguns a formação é competir e ganhar. Ganhar nos iniciados, nos juvenis, nos juniores, nos sub23, na B, ganhar o mais possível e dentro disso ganhar aos dois rivais. Quando isso não acontece, quando não se ganham títulos e se perdem jogos, pedem responsabilidades e questionam as lideranças em causa. É transportar para a formação a lógica subjacente à equipa A.
Para outros, pelo contrário, a formação é para acarinhar. E ponto. Proibido criticar quem está na formação ou quem vem da formação. As críticas ficam para quem vem de fora.
Para outros ainda e para mim em particular, a formação não é fim em si mesmo, antes é um instrumento essencial para atingir o sucesso desportivo e financeiro do Sporting. Para isso é preciso saber atrair (recrutar com olho de lince e determinação de falcão), reter (gerir o relacionamento com a "bolha" do jogador e manter a situação contratual adaptada ao rendimento), fazer evoluir (transmitir e testar competências técnicas e comportamentais), e saber descartar-se no momento certo (avaliando idade vs evolução e procurando retorno financeiro) de jovem talento nacional ou estrangeiro. Nesta óptica, os títulos na formação são secundários, e nunca devem ser obtidos através de jogadores que não conjuguem os requisitos físicos e técnicos necessários para vingar profissionalmente ao nível duma 1ª Liga de acordo com a posição que ocupam no terreno. No fundo formar para ganhar desportivamente (na equipa A) e/ou financeiramente.
Nessa perspectiva também, um elemento essencial da formação do clube é... o treinador principal. Porque só ele pode avaliar o talento existente e abrir a porta da equipa A aos jogadores em que vai apostar. E libertar os outros para serem rentabilizados doutra forma. Por isso treinadores como Boloni e Paulo Bento foram muito importantes no Sporting para além daquilo que ganharam, foram eles que lançaram jovens como Quaresma, Hugo Viana, Cristiano Ronaldo, Rui Patrício, Nani, Moutinho, Veloso e tantos outros, e assim desafiaram toda a estrutura da formação a trabalhar mais e melhor para outros lá chegarem também. O pior possível é ter como treinador principal alguém obcecado pela experiência e maturidade, que prefere comprar feito a fazer ele mesmo.
Com Rúben Amorim, apoiado numa Academia de Alcochete reformulada em todos os sentidos e onde Tomáz Morais me parece ser uma peça essencial, a aposta na formação atingiu um nível nunca antes visto. Agora existe um plantel principal com um peso da formação de cerca de 50%, mas também existe um plantel sombra, de jovens na calha para lá chegar. Do Callai ao Dário Essugo, do Everthon ao Joelson, sabemos que o futuro do Sporting está acautelado. Claro que poderia existir mais quantidade de qualidade, mas os tempos são bem diferentes daqueles em que Aurélio Pereira batia à porta e convencia os pais, a concorrência é feroz e nem sempre o Sporting consegue chegar a um miúdo que se destaca.
Tal como um dia o jovem entra em Alcochete mais novinho como o Luís Maximiano ou o Rui Patrício, ou mais crescidinho, como o Matheus Nunes ou o Gonzalo Plata, outro dia haverá em que esse jovem saia do Sporting rumo a novos objectivos profissionais, não me recordo de nenhum que tenha ficado até ao final da carreira. Nessa altura, que seja como com o Tomás Silva ou o Luís Maximiano: que não saia magoado, que não fuja de capuz pela porta dos fundos e, pior ainda, que não passe a tratar o clube com o maior desprezo o clube que o formou.
E é mesmo verdade. Alguns dos melhores futebolistas do mundo formaram-se, não no Benfica, não no Porto, formaram-se no... Sporting Clube de Portugal.
PS: No que respeita aos sub23, tem andando numa pré-época bem diferente do normal, desde uma sessão nos Comandos até a uma visita a Alvalade noticiada hoje n´A Bola, onde conheceram o estádio, o museu Sporting, o pavilhão João Rocha, assistiram ao treino do hoquei em patins e a uma palestra da Cátia Azevedo, recordista nacional dos 400 mts. Formação não é apenas sobre jogar à bola.
#OndeVaiUmVãoTodos
SL