Aos sonsos da bola
Vou colecionando pérolas de indignação instantânea sobre o Sporting. Uma das últimas aconteceu há dias quando Jorge Jesus disse que um seu jogador tinha levado o guião errado para o campo. Eu percebi que era o reconhecimento de um erro do treinador mas depressa tive que "concluir" que tinha que estar a ver mal a coisa. A imprensa em peso (e a malta adepta de outros clubes, em especial) disse que JJ estava a responsabilizar o jogador pelo desaire. Deu manchete em jornal e horas e horas de auto de fé nos media com alguns sportinguistas a rasgarem as vestes, pelo caminho.
Hiper-reagimos ainda demasiado, com excesso de boa fé na avaliação de tudo o que ouvimos. Por vezes somos muito anjinhos e brutais nas sentanças instantâneas. Uma enorme fragilidade que temos vindo a combater e que é fundamental mitigar para termos futuro quando temos uma máquina de propaganda tão desequilibrada contra nós.
Como conservar a capacidade crítica e a exigência sem cair num instante em lógicas primárias? A pertinência desta pergunta e o diagnóstico do campo desequilibrado nos media da bola ajuda a reagir com uma deriva de fechamento: a verdade está nos nossos meios de comunicação e não nos media tradicionais.
Em tudo o resto que não o futebol, abomino esta lógica de diabolização dos media, mas no futebol concedo que a questão de princípio de valorizar os media como filtros profissionais leva com tiros de canhão a cada nova manchete com demasiada frequência. No mínimo, sejamos cautelosos.
Bruno de Carvalho é mau como as cobras, um mau caráter e Jorge Jesus resume-se ao seu ego gigantesco que só ganhou títulos por causa da estrutura do Benfica. Tudo o resto são bons rapazes, educados, humildes, que não se queixam quando as coisas lhes correm a mal. Poços referenciais de dignidade, educação e ética.
Meus caros, tem sido esta a tese na agenda de muitos e vai continuar a ser. Esses não são adversários cordiais, são gente desprezível e a combater. Sendo certo que tem havido alguma lenha para alimentar estes arautos (e estou entre aqueles que não têm, nem terão qualquer inibição de o assinalar sempre que ache que se passam as marcas), a verdade é que se trata, no essencial, de uma agenda de sonsos, virgens ofendidas num mundo de prostitutas.
Voltando à pérola de que falava, uns dias depois, antes do jogo seguinte, o treinador disse preto no branco que quem dá os guiões é ele, por isso, se reconhecia que o guião tinha sido errado, a responsabilidade era dele e não do jogador. O treinador tinha feito asneira a ler o que esperar do jogo e correu mal. Lá houve umas mini chamadas de pé de página e, claro, a conclusão de que JJ estava a emendar o erro das declarações anteriores. Faz parte do circo que montam em torno do Sporting, de constante reinterpretação e truncagem da mensagem com fito de ajustar à tese acima enunciada.
Foi nos arautos desta lógica e desta agenda que pensei ontem ao ouvir o discurso do presidente reeleito. Talvez eu preferisse chamar-lhes sonsos, mas não sou sobrinho-neto do Pinheiro de Azevedo
Termino citando o ponto final do texto do Pedro Almeida Cabral:
Bruno de Carvalho tem condições ímpares para continuar o seu projeto: uma votação esmagadora, um clube unido e obra feita. Espero que neste segundo mandato saiba continuar o que fez de bem e melhorar o que fez de mal. Os sportinguistas merecem vitórias. E Bruno de Carvalho também.
É isto que penso e é para isto que modestamente darei o meu contributo, sempre que possível.
Entretanto já hoje temos mais campeões para celebrar no atletismo e, estou confiante, que daqui a quatro estaremos mais ricos como clube do que hoje.
Viva o Sporting e um abraço a todos os que de outros clubes conseguem ir além da espuma e da sonsice estupidificante.