Alcochete blues
Mais um final de Liga, mais uma final da taça, a invasão de Alcochete está a completar um ano.
Dezenas permanecem presos, sem saberem sequer se vão ser acusados ou que acusação lhes será imposta. Uns serão barra pesada, mas haverá outros que foram apanhados no comboio das emoções e já levam quase um ano de “preventiva” na pildra, onde por certo estarão a ter tempo para pensar nos grandes temas de Portugal. Trump, Bolsonaro, a subida da extrema-direita em Espanha, o novo Star Wars lá para o Natal, o site da HBO que vai abaixo em dia de Game of Thrones, as calotes polares que derretem, as eleições europeias, o penteado do André Ventura, para que clube vai o João Felix, o excesso de turistas, a qualidade da comida no SUD, o índice de popularidade de Marcelo, se houve marosca com as casas de Pedrógão, se Mário Centeno vai para o Chelsea, a lampreia que este ano está mais ou menos, etc.
Presos há quase um ano sem culpa formada, ninguém liga, ninguém quer saber. Podia ser uma série da Netflix, mas é aqui, em Portugal, com gente verdadeira. Fizeram mal em invadir Alcochete? Claro, mas digam-lhes quanto devem à sociedade. Um mês, um ano, 5 anos, 500 anos? O que for, mas digam-lhes. Já vai sendo tempo de a Amnistia, os partidos políticos e as mil e uma ONGs que vivem penduradas na indústria dos subsídios abrirem o bico.