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Álbum de recordações (1)

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Record, 6 de Julho de 2012

UM SONHO TORNADO PESADELO

 

Os sonhos podem transformar-se rapidamente em pesadelos: eis o primeiro pensamento que me assalta ao revisitar esta antiga edição do Record, o jornal diário desde sempre mais conotado com as nossas cores.

Aqui a regra impôs-se: capa quase toda de verde-e-branco com um título triunfal: «Aí está o Sporting 2012/13». Ilustrado com foto de perfil dum treinador de juba: Ricardo Sá Pinto, em perfil combativo.

Era um «especial de 9 páginas», prometia o diário. E cumpriu, no dia em que o técnico, contratado quatro meses antes para render o periclitante Domingos Paciência, iniciava a época ao comando do plantel leonino. Com algumas hipérboles de permeio: «Loucura na Índia com transferência de Sunil Chhetri para Alvalade» era talvez a mais risível.

 

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O que se pretendia, jurava o jornal - em texto assinado por João Rui Rodrigues, então editor-chefe - era «regressar ao topo». Anseio justificado, pois (escrevia ele) «já lá vão 10 anos desde que o Sporting festejou pela última vez a conquista do título nacional».

A temporada anterior terminara com o clube num modestíssimo quarto lugar da Liga. Apesar disso, este texto de introdução prosseguia, pleno de optimismo: «Hoje o emblema de Alvalade voltou a ter um plantel que vale dinheiro, em que os jogadores estão valorizados no mercado e podem permitir altos encaixes financeiros. Neste campo, o trabalho de Carlos Freitas a contratar acabou por ser decisivo, tão decisivo como o esforço financeiro feito por Godinho Lopes.»

 

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O último troféu conquistado pelo futebol do Sporting havia sido a Supertaça de 2009, conseguida com Paulo Bento ao leme da equipa. Mas isso não diminuía o júbilo do Record, que enaltecia Sá Pinto noutra página, chamando-lhe «o mais desejado»

O técnico, à época com 39 anos, tinha chegado enfim «à sua cadeira de sonho» e sabia colocar «o grupo acima de tudo» graças à sua «cumplicidade com os jogadores».

 

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Mas quais seriam os trunfos do treinador em campo?

Record detalhava-os.

Chegara Labyad, «um diamante marroquino lapidado na Holanda», protagonista de «uma transferência livre de encargos para a SAD verde e branca» e «blindado com a maior cláusula da história do clube»: 50 milhões de euros.

Viera também um médio defensivo chamado Gelson Fernandes, suíço de origem caboverdiana.

Cédric e Adrien, formados em Alcochete, regressavam de um empréstimo à Académica, que com eles no onze nos derrotara pouco antes na final da Taça de Portugal. Já com Sá Pinto a orientar a nossa equipa.

«Contas feitas, zero de custo em aquisições», celebrava o Record. Sem imaginar sequer que começava aí a pior temporada futebolística de sempre.

Ponta-de-lança, só havia um: Ricky Von Wolfswinkel. E mesmo esse, adiantava o jornal, estava «na montra». Tal como Rui Patrício, que saíra «supervalorizado» do recente Campeonato da Europa. João Pereira já rumara a Valência, arrumara as chuteiras ao fim de nove épocas, Matías Fernández tinha «mercado em Espanha», Izmailov admitia «repensar a carreira».

Bojinov e Pongolle ainda integravam o plantel, mas não contavam.

 

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«Leão prepara caça no calor da Andaluzia», titulava o jornal, anunciando a primeira semana de trabalho.

No eixo da defesa, só quatro nomes: Carrilho, Onyewu, Xandão e Alberto Rodríguez.

Rui Patrício, Schaars e Izmailov - que haviam representado Portugal, Holanda e Rússia no Euro-2012 - falhariam essa semana inicial de estágio.

Rubio esperava «evoluir».

Arias aspirava à vaga de João Pereira na lateral direita.

O argentino Rinaudo, optimista, debitava o lugar-comum da praxe: «Esperamos ter um bom ano.»

 

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Acabaria por chegar também Marcos Rojo, lateral-esquerdo argentino de 21 anos, oriundo do Spartak de Moscovo. 

Na primeira página desta edição, o Record falhou em toda a linha ao apresentá-lo «com um pé no Benfica» enquanto assinalava que o clube encarnado havia ultrapassado o Sporting nesta corrida. 

Um passo em falso. Não do jogador, mas do jornal.

 

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Mas o destaque máximo, em matéria de reforços, era atribuído ao tal indiano. Com direito a quase uma página desta edição.

«Transferência de Chhetri já é fenómeno mediático», proclamava o Record, assegurando que «na imprensa de toda a Índia o nome do Sporting foi um dos grandes destaques do dia». Apesar de no primeiro parágrafo da notícia se especificar que «o críquete domina esmagadoramente», em matéria desportiva, nesse gigantesco país.

O avançado, de 27 anos e confesso adepto do Barcelona, vinha de um futebol colocado no 165.º da tabela classificativa da FIFA. «Quero dizer que fui capaz de vingar num dos mais difíceis campeonatos mundiais», declarou o recém-chegado na conferência de imprensa de apresentação.

 

Chhetri viria a fazer uns jogos no Sporting B, sem nunca se estrear na equipa principal, antes de se eclipsar de volta ao torrão natal com bilhete só de ida. 

Sá Pinto permaneceria menos de três meses na tal "cadeira de sonho": a 4 de Outubro, Godinho Lopes apontava-lhe a porta da rua. Em ano de pesadelo.

3 comentários

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    Pedro Correia 21.11.2020

    Não custa vaticinar que Sá Pinto regressará um dia ao Sporting.
    Está escrito nas estrelas.
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo 21.11.2020

    Surpreende-me esse seu desejo, mas afaste esse pensamento. Sá Pinto não se aguenta muito em nenhum clube. A sua carreira tem demonstrado isso. É um gajo porreiro mas não passa disso. Há ali qualquer coisa na cabeça dele que não funciona. O murro ao Artur Jorge foi o expoente mais alto. Mesmo que este o merecesse nunca devia ter acontecido. Um regresso ao Sporting nunca deveria ser como treinador. Não me custa aceitar que viesse como dirigente desportivo, ou para qualquer caso que não potenciasse a explosão das suas emoções. Estas dúvidas relativamente ao regresso de um grande sportinguista não faz de mim menos sportinguista.
    AHR
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