Ajax
Rejubilei com a magnífica vitória do Ajax (resumo aqui). Meu clube, não por aqui no Benelux (quem se lembra ainda deste acrónimo?) - vi o jogo num canal flamão (como aqui dizemos flamengo) no qual os locutores exultavam, naqueles seus sons tão africanderes, com o desenrolar do resultado. Mas porque me fiz adepto de futebol no tempo do seu expoente máximo, décadas depois subalternizado por esta economia de futebol totalmente desequilibrada, a da concentração dos clubes nas mãos dos oligarcas internacionais.
Há pouco aqui evoquei a época em que me fiz adepto de futebol, a de 1971 que me tornou fiel ao Sporting e, lá (então muito) longe, um pouco ao Barcelona e ao Arsenal, devido a belas vitórias televisionadas, quando os jogos na tv eram bem raros. A mesma época em que o Ajax encetou o trio de taças dos campeões europeus (e o Feyennord tinha ganho na época anterior), com uma equipa fabulosa, da qual ainda tenho de cor alguns nomes - Krol, Haan, Hulshoff, Suurbier, Neeskens, Stuy na baliza, Rep, Muhren, um centrocampista magnífico, Keizer - o tio do nosso, que era um excepcional jogador. E o maior mestre do futebol mundial, Johan Cruyff, um jogador monumental, que comandou essa equipa e a selecção "laranja mecânica" que devia ter sido bicampeã mundial (ele já não participou em 1978 pois já num problemático ocaso de carreira), refez o Barcelona como jogador e depois viria a refazê-lo como técnico, nisso deixando como legado o clube destas últimas décadas - e o ciclo internacional Guardiola, também. Sim, o Ajax ainda viria a ser campeão em 1995, muito já em contra-ciclo no cada vez mais hierarquizado mundo do futebol, com uma bela e jovem equipa com jogadores (Litmanen, Seedorf, de Boer, Kluivert, Davids, Overmars, e o veterano Rijkard que não jogou pelo Sporting) que marcaram uma era no futebol europeu.
Mas o encanto, a paixão mesmo, e nisso o júbilo de ontem, vem-me daquelas transmissões a preto-e-branco, de som roufenho de há quase 50 anos. Estou velho, não há dúvida. E como quase todos os velhos fiquei resmungão. O que faltou ontem? O equipamento
Espero que na final possam jogar (e ganhar) com as suas cores. Espero mesmo e muito, a torcer (ainda vou a Amsterdão no caminho, se me sobrarem umas moedas).
Da derrota do horrível Real (sem Cristiano a gente já pode dizer isto) muitos dirão que lhe falta o CR7. Decerto que sim. Mas ao ver o jogo de ontem uma coisa salta à vista. As caras de putos (felizes) de tantos dos jogadores do Ajax (blindados com Blind, claro) e o ar maduro (se calhar uma média etária 5-7 anos superior) dos do Real. Zidane soube sair, percebeu o fim de ciclo e anunciou-o. Renovar uma equipa tricampeã é difícil e o Real vacilou nisso, e algo borregou - por melhor que seja o belga Courtois será que o problema do Real estaria na baliza?
O CR7 também o terá percebido. O seu ocaso também está a chegar, e ele está a enfrentá-lo com uma grandeza extraordinária. E nisto tudo, ontem pensei na nossa selecção. O "engenheiro de Paris" estará consciente de tudo isto, e mais o deve ter apreendido ontem, se tal lhe fosse ainda necessário. E terá que o enfrentar, e parece está-lo a fazer. Mas enquanto o CR7 carbura e bem (e o nosso Patrício se afirma ainda mais), vêm-se chegar jogadores com as tais caras de putos, Dalot, os centrais do Benfica (e outros que poderão explodir, que em centrais é costume surgirem surpresas), Ruben Neves como jogador de excepção, este João Félix - e Sanches, se o Benfica usar a fortuna que vai agora fazer para o resgatar e o entregar a Lage que o conhecerá (sim, digam lá mal do sportinguista que louva o Benfica). O monumental Bernardo Silva, essa pérola que desperdiçámos Rafael Leão que tem tudo para ir aos céus, se tiver cabeça, aquele Jota que brilha na pérfida Albion, talvez Gelson se Jardim ... Temos Ajax na casa pátria.
Tê-lo-emos no nosso Alvalade?