Ainda na frente, mas com menor distância
Sporting, 2 - Arouca, 2
Rui Borges preocupado: mais dois lesionados, outro jogador expulso e um autogolo absurdo
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Há jogos candidatos a ficarem-nos na memória pelos piores motivos, mesmo quando não perdemos. Foi o caso desta recepção ao Arouca, há quatro dias. Prometia ser um desafio de baixo grau de dificuldade frente à equipa classificada em 12.º lugar na Liga 2024/2025. E podia, na verdade, ter sido assim.
Lamentavelmente, complicámos o que é simples. E proporcionámos dois golos de bandeja à turma forasteira, ainda na primeira parte. O primeiro - em lance digno dos "apanhados" - após atraso totalmente disparatado de St. Juste para Rui Silva, que se encontrava fora da baliza. O holandês, sem olhar, despachou um balão que o guarda-redes tentou dominar com os pés mas com tanta inabilidade que acabou por cometer autogolo. Digno de riso, excepto para nós.
Aos 45'+1, novo brinde. Desta vez de Morten, que parecia um jogador inexperiente, cometendo penálti claro em lance de bola parada. Chamado a converter, quatro minutos depois, Henrique Araújo não vacilou.
Assim fomos para o intervalo. A perder 1-2 em Alvalade. E com dois jogadores a menos, ambos lesionados: St. Juste aos 11', Daniel Bragança aos 13'. Ninguém lhes tocou: magoaram-se sozinhos. Infelizmente, a lesão de Daniel é grave: rotura de ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Já não volta esta época.
E no entanto até nem estivemos mal a espaços. Com Quenda muito dinâmico do lado esquerdo, criando movimentos de ruptura, e Harder a pressionar muito a saída de bola do Arouca, funcionando como primeiro defesa da equipa. Maxi também acutilante como lateral esquerdo com vocação ofensiva - bem mais do que Fresneda no lado oposto.
A melhor notícia, à partida, era o regresso de Gyökeres. Aparentemente recuperado da fadiga muscular que o afastara da titularidade três jornadas antes. Ainda longe da melhor forma, manteve-se em campo até ao fim. E foi dele a assistência para o nosso golo inicial, aos 17'. Marcador: Harder, num eficaz remate cruzado, sem hipótese para o guarda-redes.
O jovem avançado dinamarquês combinou bem com o sueco lá na frente. Demonstrando a Rui Borges que podem ambos coexistir como titulares. Nenhuma dúvida quanto a isso.
Mas Harder, neste jogo, foi superior. Ao ponto de podermos elegê-lo sem hesitar como melhor em campo. Marcou e deu a marcar - neste caso aos 74', num passe para o golo de Trincão, que fixou o empate.
Soube a pouco? Claro que sim. Resta-nos a consolação de termos visto a equipa muito combativa na meia hora final, quando já estava reduzida a dez por expulsão de Morten aos 62'. Rui Silva redimiu-se do autogolo com três grandes defesas. Maxi, Quenda e João Simões vão melhorando de jogo para jogo. E até houve oportunidade para surgir novo estreante: o médio Alexandre Brito, substituindo precisamente Simões.
Foi também óptimo ver que os adeptos estão com a equipa, o que se tornou visível (e audível) na prolongada ovação que dispensaram aos nossos futebolistas mal soou o apito final.
Prenúncio de novos tempos, cada vez mais favoráveis. É bom saber.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (6) - Merecia nota zero pelo autogolo logo aos 8'. Mas redimiu-se durante o jogo com três grandes defesas aos 40', 58' e 90'+4.
Fresneda (5) - Certinho mas sem brilho nem rasgo, demasiado posicional, arriscando o mínimo em lances de desequilíbrio.
St. Juste (1) - Traiu o guarda-redes atrasando sem olhar em vez de mandar a bola fora. Saiu logo a seguir. É um eterno lesionado.
Gonçalo Inácio (4) - Muito passe transviado, muita falta de confiança. Marcou com os olhos aos 40': a bola foi à trave. Uma sombra do que já foi.
Maxi Araújo (6) - Articulou-se bem com Quenda à esquerda. Grande centro para Harder (90'+4). Ainda se agarra em excesso à bola.
Trincão (7) - Quando tudo parece quase perdido, ele salva a equipa. Voltou a acontecer marcando o segundo aos 74'. Leva 20 jogos seguidos sem parar.
Morten (3) - Irreconhecível. Comete o penálti que daria o segundo golo do Arouca (45'+5). Viu o segundo amarelo aos 62' por falta desnecessária.
João Simões (5) - Vai-se tornando mais influente, sem receio de arriscar no um-para-um. Falta-lhe melhorar a ligação com o ataque.
Quenda (7) - Muito irrequieto à esquerda: grandes centros aos 4', 19' e 36'. Quase marcou aos 42'. Pré-assistência no golo do empate.
Daniel Bragança (2). Tocou dez vezes na bola e sentou-se. Aos 12'. No minuto seguinte teve de sair, com lesão grave. Mais um.
Gyökeres (6) - Enfim, recuperado. Assistiu Harder no primeiro golo, esteve próximo de marcar ele também aos 35', 74' e 90'+2.
Debast (4) - Substituiu St. Juste (11'). Intranquilo, sem confiança, articulando mal com Gonçalo. Sem arriscar na construção com passes à distância.
Harder (8) - Substituiu Daniel (13'). O mais inconformado, em pressão constante. Marcou (17') e deu a marcar (74'). Merece ser titular.
Biel (4) - Entrou aos 85, substituindo Fresneda. Gyökeres ofereceu-lhe golo, mas ele mandou a bola para a bancada (90'+6).
Alexandre Brito (-) - Substituiu João Simões aos 85'. Em estreia na equipa A. Sem tempo para mostrar qualidades nem eventuais defeitos.