Ainda falta muita coisa para afinar
Sporting, 1 - Sevilha, 1 (Troféu Cinco Violinos)
Péssima primeira parte, muito razoável segunda parte - quase a compensar a confrangedora exibição dos 45 minutos iniciais. Rúben Amorim deve ter dito das boas aos jogadores no intervalo. Mesmo assim, neste confronto com o Sevilha, só conseguimos equilibrar a partida e até ficar por cima depois de o treinador espanhol, o nosso conhecido Julen Lopetegui, desatar a fazer substituições, desarticulando todo o seu onze titular.
Convém reconhecer mérito ao adversário. O Sevilha ficou em quarto lugar na Liga espanhola, vai disputar a Liga dos Campeões e tem um plantel qualificado - basta dizer que actuou com Corona, Acuña, Fernando, Ratikic, Jesús Navas e Óliver Torres, entre outros.
Mas vários problemas persistem nesta equipa do Sporting. Escassa produção ofensiva, fraca pontaria no momento do remate, incapacidade de progredir com a bola controlada no corredor central, que deixamos ao domínio adversário. Acrescidos agora da ausência de Palhinha, que funcionava como tampão e municiador precisamente na zona mais desguarnecida, e pela manifesta falta de articulação entre Ugarte e Matheus Nunes nessa área.
O nosso primeiro remate enquadrado surgiu quando já se haviam esgotado os 45 minutos iniciais, num pontapé de raiva de Nuno Santos para defesa muito apertada do guarda-redes. Os jogadores rumaram ao balneário com resultado desfavorável: aos 15' o Sevilha tinha aberto o marcador, aproveitando muito bem uma falha colectiva da nossa defesa - incluindo má reposição de bola de Adán, ontem intranquilo, o que nele não é habitual.
Ao contrário de Lopetegui, Amorim mexeu pouco: percebe-se que este onze será o titular. Única mudança aos 23', com troca de Ugarte (magoado) por Morita, que pode fazer a posição 6 mas não é um trinco puro até por morfologia física. O japonês acabou por ser um dos melhores em campo: muito móvel, com precisão de passe e boa visão de jogo.
Trincão foi o único reforço leonino no onze inicial. Ainda com manifesta falta de articulação com os colegas, o que se compreende, e alguma tendência para "adornar os lances", o que aumenta os aplausos nas bancadas mas diminui a nossa eficácia colectiva. Está longe de ser o único com tal tendência, muito cultivada por Matheus Nunes e que parece até ter afectado Porro e contaminado Coates - este em jogada no nosso meio-campo ofensivo que gerou perda de bola.
A pressão leonina acentou-se: percebia-se que a equipa procurava o empate. Mas faltava mexer na "casa das máquinas": foi o que Amorim fez ao trocar Matheus Nunes por Edwards e Trincão por Rochinha. Principal efeito destas substituições: o recuo de Pedro Gonçalves, que passou a jogar sempre de frente para a baliza e funcionou como nosso principal distribuidor de jogo. Aos 75', ofereceu um golo a Edwards que o canhoto inglês desperdiçou com o pé direito. Aos 82', novo brinde - desta vez tendo como destinatário Paulinho, que lhe deu a melhor sequência, com um tiro certeiro. Selando o empate que se manteve até ao fim.
Como estava em jogo o Troféu Cinco Violinos, agora na décima edição, havia que desatar o nó nas grandes penalidades. Todas muito bem convertidas, de um lado e do outro, até o recém-entrado Fatuwu (reforço ganês só com 18 anos mas já internacional pelo seu país) fazer disparar a bola com estrondo à trave. O troféu ficou para a equipa sevilhana, onde actuaram dois nossos velhos conhecidos: Acuña e Gudelj. O primeiro viria a sair sob uma chuva de insultos e vaias - numa confirmação de que muitos sportinguistas tratam mal aqueles que honraram e serviram a verde e branca.
Nada de novo. Tanto se fala na ingratidão dos jogadores: devíamos reflectir mais na ingratidão dos adeptos.
Algo que começa a tornar-se frequente também em todos os nossos jogos: houve sururu e chega-p'ra-lá junto à linha. Mesmo nos supostos "amigáveis". Mesmo nos chamados "jogos de preparação". É uma tendência que espero não ver prolongada, mas sou capaz de apostar que veio para ficar, acompanhando a progressiva radicalização dos adeptos bem patente ao menor pretexto nas redes sociais e num canal de TV que se alimenta disto com quatro ou cinco mecos aos berros serão após serão.
Não levámos o troféu, não vencemos o jogo, mas termino com algumas notas positivas: boa "moldura humana" em Alvalade (éramos 31.075 no estádio), relvado em excelente condição e desta vez não houve petardos nem tochas. E temos pelo menos cinco eficazes marcadores de penáltis: Porro, Pedro Gonçalves, Rochinha, Tabata e Edwards. Na época passada, o agora ausente Sarabia encarregou-se de convertê-los quase todos.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Teve responsabilidade no golo sofrido, ao entregar a bola numa reposição. Não conseguiu defender nenhum dos penáltis no fim.
Gonçalo Inácio - Regressou à posição que já bem conhece - central do lado direito. Actuação certinha. Boa capacidade de passe longo.
Coates - Causa calafrios quando improvisa, saindo de posição, o que nos custou um golo contra a Roma. Repetiu a proeza duas vezes, desta vez sem estragos.
Matheus Reis - Apanhado em contrapé no lance do golo, deu a sensação de que podia ter feito melhor. Rende mais como lateral do que como central à esquerda.
Porro - Oscilou muito, como a própria equipa. Perdeu vários duelos, falhou vários passes, mas foi sempre dos mais inconformados.
Ugarte - Má abordagem no lance do golo, deixando Óliver Torres antecipar-se e tocar para Corona. Saiu pouco depois, aos 23'.
Matheus Nunes - Parece andar com a cabeça algures. Ontem quase nada lhe saiu bem, nem no passe nem na criação de lances. Saiu demasiado tarde, aos 72'.
Pedro Gonçalves - Melhor em campo. Fabuloso passe a isolar Paulinho (52'), outro para Edwards (75'). Assistência no golo (82'). Tentou ele próprio marcar (59' e 80').
Trincão - Bons apontamentos quando jogou do lado direito do ataque, com Acuña pela frente, mas ainda não criou automatismos. Substituído aos 72'.
Nuno Santos - Cruzou algumas vezes, mas ninguém dava sequência aos passes. Foi o primeiro a tentar o golo (45'+1). Saiu aos 85'.
Paulinho - Nem remates, nem capacidade para abrir espaços. Andava perdido até ao momento culminante: um grande golo aos 82'. Saiu logo a seguir, para os aplausos.
Morita - Em campo desde o minuto 23. Revela boa técnica, domínio de bola, visão de jogo, capacidade de passe. Pode ascender ao onze titular.
Rochinha - Único reforço dextro numa equipa cada vez com mais canhotos, entrou aos 72 para criar desequilíbrios. Mas ficou aquém do pretendido.
Edwards - Em campo desde os 72'. Desperdiçou um golo "cantado" aos 75'. Aos 88', tentou cavar um penálti sem ser tocado, iludindo o árbitro (mas não o VAR).
Tabata - Rendeu Paulinho aos 85'. Pouco tempo para mostrar o que vale - apesar dos 6' de tempo extra concedidos. Converteu muito bem o penálti final.
Fatawu - O mais jovem reforço leonino, em campo desde os 85' (substituiu Nuno Santos). Procurou agitar o jogo, como extremo esquerdo. Pena ter falhado o penálti.