Agarrem-me senão eu saio
Prometeram-nos o título.
O presidente, num daqueles exageros a que já habituou os adeptos, chegou a convidar os jornalistas a contemplar uma prateleira vazia no museu, garantindo-lhes que aquele era o espaço já reservado para a taça comemorativa da conquista da Liga 2016/17.
Prometeram-nos uma equipa de combate.
O plantel foi construído de raiz com as escolhas do treinador, acrescidas de duas ou três "prendas" que o presidente entendeu dar-lhe, na sequência da renovação do contrato ocorrida meses antes como prémio do segundo lugar no campeonato.
Prometeram-nos ser fiéis ao lema do fundador, o Visconde de Alvalade: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.
Anunciaram sem rodeios que estava de regresso o Sporting dos grandes feitos e das grandes proezas, com o maior investimento de sempre no futebol leonino e supostos craques aterrados em Lisboa, oriundos das mais diversas proveniências.
Isto ocorreu entre Julho e Setembro.
Escassos meses depois, em Janeiro de 2017, o Sporting já estava arredado de todas as frentes da competição futebolística.
Uma derrota no Porto, mal iniciada a segunda volta, deixou-nos fora da luta pelo título e com a certeza antecipada de que a tal prateleira no museu de Alvalade permaneceria vazia.
O Chaves atirou-nos para fora da Taça de Portugal, envergonhando a nação leonina.
O Vitória de Setubal empurrou-nos para fora da Taça da Liga, que viria a ser ganha pelo Moreirense.
Nas competições da UEFA, nem à Liga Europa chegámos. Porque nos foi travado o passo pelo poderoso Légia de Varsóvia, colosso do futebol mundial.
Fizemos exibições vergonhosas frente ao Tondela, ao Braga e ao Belenenses em casa. Chegámos a ser humilhados pelo Rio Ave em Vila do Conde.
Balanço: fraco futebol para a fasquia que foi fixada. Digamos, sem limar arestas, que foi uma época perdida.
As contratações - "prendas" incluídas - revelaram-se um monumental fiasco.
Os craques afinal não o eram. Mesmo tendo sido escolhidos a dedo pelo treinador.
Concluiu-se que a equipa foi afinal mal organizada, estando servida por laterais paupérrimos nas duas alas. Laterais que vieram por designação do técnico, a quem o presidente fez questão de satisfazer com uma generosidade inédita na história do clube em geral e desta SAD em particular.
Descontente, apesar disso, o treinador termina a época queixando-se da necessidade de recorrer a "terceiras escolhas".
Esquecendo-se de que só ele foi responsável por tais escolhas.
Num aparente milagre da multiplicação das fontes, começaram de imediato a circular notícias assegurando o súbito interesse do FC Porto - segundo classificado do campeonato - na aquisição do treinador da equipa situada em terceiro.
E não só do Porto: chovem as propostas de trabalho do estrangeiro, com o hipersupermegaempresário supostamente de telefone na mão, garantindo novos paradeiros para o profissional em causa. Da França, da Itália, da Espanha, da Inglaterra, da Turquia: todos o querem.
Já vimos esta telenovela.
É a reedição de outras, intituladas "Agarrem-me Senão Eu Saio". Que terminaram sempre com final feliz para o protagonista, contemplado com sucessivos aumentos salariais.
Chegou a altura de conceber outro fim para a telenovela. E de lhe atribuir novo nome. Adianto desde já uma sugestão: "Segue o Teu Rumo".
E manda um postal aos que por cá ficam.