Acabou
Acabou o campeonato. Mas também acabou o tempo da alegria com segundos lugares e meras vitórias na Taça e na Supertaça. Estou triste com o segundo lugar mas não sinto que tenha enfiado um melão. Nem eu nem os 2.000 que estiveram ontem em Alvalade à espera dos jogadores. Desde logo, porque o Sporting foi a equipa que jogou melhor, coisa que já não se podia dizer há muito muito tempo. Depois, porque ainda consigo levar o segundo lugar à conta da recuperação do fosso de 2013 (que foi o culminar de uma rampa descendente vinda de 2005). Convém não esquecer que há apenas três anos o Sporting viveu a fase mais negra da sua história centenária: ficou em sétimo lugar e namorou a falência e a descida de divisão. Que diferença para um campeonato em que só um dos grandes o venceu numa noite de chouriço, em que fez a melhor pontuação da sua história e em que disputou o campeonato até ao último jogo.
Mas o argumento da recuperação não dura sempre. Eu também acho que este é o caminho, mas o caminho faz-se por etapas e temos de passar à seguinte. Os sportinguistas têm de exigir mais. E sobretudo têm de encontrar um antídoto para certas coisas. Este ano percebemos que não basta o Sporting fazer a sua melhor pontuação de sempre, nem o treinador que venceu três camponatos pelo Benfica chegar a uma pontuação a que nunca lá chegou. Se bem se recordam, este foi o ano Estrutura vs. Jesus. Pode dizer-se que a estrutura efectivamente ganhou. É contra essa estrutura que se tem de encontrar o antídoto. Como tentei dizer noutra altura, a estrutura funciona na margem: bastam mais um ou dois pontos para fazer a diferença. Sei lá, bastava um dos jogos do Benfica com o Belenenses ter sido a sério e (quem sabe?) acabar em empate para a história do campeonato ser diferente. A estrutura nem sequer do último jogo do campeonato esteve ausente, por interposta mãozinha de Talisca e pezinho de Fejsa, de que resultariam dois penáltis, sendo pelo menos o primeiro evidente (e resta saber se Pizzi não estava em fora-de-jogo no terceiro: as imagens que vi abrem a possibilidade embora não sejam concludentes).
Fazer barulho no facebook e nos jornais pode entrar nessa estratégia, mas não basta. É preciso atingir mesmo a estrutura nalgum ponto nevrálgico. Senão, fica tudo muito parecido com a pregação contra os males do mundo, que toda a gente acha muito bem mas a que não liga nada. Ainda hoje, o presidente anunciou, quase como um pregador milenarista anuncia o Apocalipse, o "fim da impunidade". Lá está, não basta: a impunidade não acaba quando se anuncia o seu fim; acaba quando acaba.