Abecedário do debate de ontem
AUTOCARRO. Pedro Madeira Rodrigues, que partiu para esta campanha com notoriedade próxima do zero, precisava de vencer este debate por goleada para manter a esperança de uma vitória nas urnas a 4 de Março. A Bruno de Carvalho, que partiu com larga vantagem, bastava um empate. Por isso decidiu estacionar o autocarro - ao jeito das equipas menores - e concedeu a iniciativa ao adversário. Teve uma derrota tangencial devido à postura excessivamente defensiva e por falta de remates enquadrados.
BOLONI. O treinador que levou o Sporting à conquista do campeonato de 2002 virá do estrangeiro para liderar o futebol leonino, sob a batuta de Madeira Rodrigues. Problema: estamos em 2017, não em 2002.
CAMPEONATO. Os maus resultados do Sporting nesta época desportiva são vitais para o candidato alternativo, que se agarrou ao tema com unhas e dentes. Quanto pior melhor?
DELFIM. Outro nome avançado por Madeira Rodrigues para o futebol leonino. Foi campeão como jogador nas duas épocas em que actuou no Sporting. Será mesmo trunfo?
EXPECTATIVAS. Um debate vive muito de expectativas. Pedro Madeira Rodrigues tinha à partida expectativas muito baixas. Superou-as ao mostrar-se mais preparado e sobretudo mais acutilante do que se previa. Num frente-a-frente com estas características, é quanto basta para sair vencedor. O que não equivale a sair em frente.
FAMÍLIA. O candidato alternativo jurou que não pretendia transformar os "valores familiares" em trunfo eleitoral. Mas não parou de falar da família durante o debate.
GELO. Os dois candidatos obviamente detestam-se. Isso ficou bem patente durante o debate de ontem. Bruno emitiu de quando em vez sonoras expressões de enfado. Via-se que procurava conter a irritação. Disfarçou mal.
HERANÇA. A de 2013 foi bem pesada: "o clube estava na falência", recordou Bruno. Nem o seu antagonista foi capaz de levantar um dedo em defesa de Godinho Lopes.
INSULTOS. Madeira mente mal: alegou desconhecer os insultos desbragados e soezes que um membro da sua lista aos órgãos sociais do Sporting dirigiu ao presidente. Devia ter-se demarcado dessa linguagem sem sofismas nem sonsices.
JESUS. Mal aconselhado, o candidato alternativo transformou esta campanha numa espécie de duelo com o treinador em funções no Sporting. Também neste debate gastou demasiado tempo a pronunciar-se sobre Jorge Jesus, sem nunca apresentar soluções concretas. Como pagará a indemnização?
LIMPINHA. Foi o sound bite da noite: "A saída de Jorge Jesus do Sporting será limpinha, limpinha", disse Madeira Rodrigues. Tem graça. Mas nada esclarece.
MODALIDADES. Futebol, futebol, futebol: Madeira esqueceu-se que o Sporting é um clube eclético, hoje com 50 modalidades - algumas recuperadas por Bruno, como o hóquei em patins, o ciclismo e o futebol feminino. Esquecimento imperdoável.
NENHUM. Em quatro anos, nem um só campeonato ganho. Como nos onze anos anteriores. O candidato alternativo jura: não se recandidatará se o clube permanecer nos próximos quatro arredado do título. O problema é que ninguém pode prometer vitórias. Porque elas não dependem só de nós.
OLHOS. Madeira Rodrigues marcou pontos ao fixar de frente o adversário, em evidente contraste com o olhar errante de Bruno de Carvalho. A comunicação não-verbal é fundamental, sobretudo em televisão.
PAPÉIS. Bruno de Carvalho, em determinadas fases, agarrou-se demasiado aos papéis que tinha à sua frente. De cabeça baixa. Atitude defensiva, que não lhe ficou bem.
QUATRO. De Março. O Dia D. Continuidade ou mudança radical no Sporting?
REDES SOCIAIS. O candidato alternativo afirmou que não frequenta o Facebook, procurando estabelecer contraste com Carvalho. Mas pouco depois mostrou-se conhecedor de tudo quanto o presidente escreve nesta rede social. Uma coisa não joga com outra.
SPORTING TV. Este foi seguramente o programa com mais audiência de sempre da Sporting TV. Prejudicado, no entanto, pelos problemas sonoros existentes no início da emissão.
TEMPO. O frente-a-frente era para durar uma hora, talvez esticada para 80 minutos, e acabou por durar quase duas e meia. O candidato-presidente mostrou-se mais acutilante na recta final. Mas nessa altura o efeito cansaço já se fazia sentir junto dos telespectadores. Um debate deste género não deve durar mais que um jogo: hora e meia basta.
UM. Há quatro anos houve dois debates televisionados entre os três candidatos à presidência (Carvalho, Couceiro, Severino). Desta vez, apenas um. Nisto, em vez de se caminhar para a frente, andou-se para trás.
VISCONDE. O fundador do Sporting foi o único, a par da actual direcção, a "dar património ao clube". Palavras de Bruno. Manifestamente exageradas.
X. Quem será o treinador da equipa principal do Sporting caso Madeira Rodrigues vença? Mistério. O trunfo - se de facto o for - continuou na manga.
ZURRAR. Do mal o menos: este deselegantissimo verbo não surgiu no debate. Mas ladrar, sim. Com Bruno a garantir que não ladra, mas ruge. E Madeira a jurar que não só ruge mas morde. Não havia necessidade.