A ver o Mundial (7)
A ESTRELINHA DE SANTOS VOLTA A LUZIR
Valeu-nos aquele monumental disparo de trivela do Ricardo Quaresma, em quem enfim o seleccionador apostou como titular, para carimbarmos o passaporte para os oitavos de final deste Mundial da Rússia. Sabendo desde já que disputaremos no sábado esse decisivo desafio com o destemido Uruguai de Luis Suárez, Cavani, Godin e Betancur, que ontem cilindrou a selecção anfitriã por 3-0.
Boa primeira parte da turma nacional, que soube trocar a bola num meio-campo onde Adrien se estreou também como titular - fazendo logo a diferença em intensidade, posse de bola e abertura de linhas de passe, combinando de olhos fechados com William Carvalho, autor do melhor passe longo do desafio, a isolar João Mário, que num toque de classe serviu Cristiano Ronaldo. Uma jogada logo aos 3' digna de ser vista e revista.
A pressão lusa foi intensa durante toda a primeira parte frente aos comandados por Carlos Queiroz, que em grande parte dos 45' iniciais se remeteram ao seu reduto defensivo, colocando-se quase todos atrás da linha da bola. Até que Quaresma fez em estilhaços essa estratégia ao marcar aquele grande golo, no último minuto regulamentar da primeira parte. Um golo em que tudo é perfeito, incluindo o passe inicial de Cédric e a fenomenal assistência de Adrien, com um precioso toque de calcanhar.
A história do segundo tempo foi bem diferente. E começou a ser escrita, na verdade, aos 53', quando Cristiano Ronaldo, derrubado em falta em zona proibida, decidiu imitar Messi e falhar - também ele - uma grande penalidade. Permitindo que o guarda-redes adivinhasse o lado para onde rematou.
Podia ser apenas um percalço. Mas redundou num descalabro exibicional da nossa selecção, que passou a jogar sobre brasas, cometendo faltas que nos podiam ter valido punições mais duras - numa delas Carlos Queiroz exigiu cartão vermelho a Ronaldo, que após visionamento do lance em vídeo-árbitro recebeu apenas o amarelo.
Os iranianos, dispostos a tudo neste duelo travado em Saransk, atreveram-se enfim: o perigo passou a rondar a nossa baliza, salva aos 58' por um espectacular corte de Pepe. As trocas renderam pouco ou nada, designadamente a saída de André Silva para a entrada do apagadíssimo Bernardo Silva e a mudança de João Mário por João Moutinho. Um sofrimento desmedido que culminou com um penálti favorável ao Irão castigando braço na bola de Cédric. Iam decorridos 93': Rui Patrício não conseguiu evitar. Os quatro minutos restantes do prolongamento decorreram com todos os jogadores de nervos em franja, até porque se disputava em simultâneo o Espanha-Marrocos, com sucessivas oscilações no marcador (resultado: 2-2), com reflexos na classificação final.
Foi um empate arrancado a ferros, que terminou com a equipa iraniana destroçada, fora deste Mundial. Espanha e Portugal seguem em frente. A estrelinha de Fernando Santos volta a luzir.
O melhor - Adrien. Estreia em grande no Mundial como titular repetindo a exibição de luxo do Euro-2016 e demonstrando que merece figurar no onze inicial. Pela forma como acelera o jogo português, como se articula com os colegas do meio-campo, como sabe abrir linhas de passe. Assistência primorosa para o golo de Quaresma.
O pior - Bernardo Silva. Passou ao lado do Europeu, por lesão. E parece estar a passar também ao lado do Mundial, tal como o seu ex-parceiro do Benfica Gonçalo Guedes, que desta vez ficou de fora e só entrou para queimar tempo. Actuou a partir dos 70' e nada fez que mereça elogio. Joga sem confiança, incapaz de um lance inspirador.
Portugal, 1 - Irão, 1