A ver o Europeu (7)
Tudo está bem quando acaba bem. Num jogo que começou da pior maneira para nós, com a Polónia a marcar logo aos 2', e a equipa das quinas mergulhada numa confrangedora confusão táctica durante a meia-hora inicial, o sofrimento manteve-se apesar do golo do empate, iam decorridos 33'. E não parou até ao fim do tempo regulamentar nem durante o prolongamento. A selecção comandada por Fernando Santos concedia espaço excessivo ao adversário na fase de construção, abdicava de atacar a bola no meio-campo polaco, errava passes e perdia sucessivos ressaltos.
Cristiano Ronaldo, muito apagado durante a partida disputada em Marselha, só pode queixar-se dele próprio: desta vez até foi servido em duas ocasiões - primeiro por João Moutinho, talvez no melhor lance individual do jogo, depois por Eliseu. Mas estava em dia não: nada lhe saía bem. Valha a verdade que foi carregado em falta aos 30' na grande área da Polónia: um penálti flagrante ao qual o árbitro fez vista grossa.
Portugal podia ter resolvido o jogo na segunda parte, sem se sujeitar ao desgaste físico provocado por meia-hora suplementar nem ao desgaste emocional que a marcação de penáltis finais sempre suscita. Mas faltou intensidade e ousadia. Faltou também frescura muscular: era notório que alguns jogadores já actuavam em esforço. O mesmo sucedia aos polacos, o que afectou a qualidade do espectáculo.
Vale a pena fazer destaques individuais. Desde logo Pepe, que voltou a ser o melhor em campo: defendeu tudo quanto havia para defender de modo irrepreensível e lançou sempre a equipa com qualidade na fase inicial de construção. Depois William, incansável a recuperar bolas no meio-campo defensivo e a distribuí-las com a qualidade de passe a que já nos habituou. Finalmente Renato Sanches, pela primeira vez titular no Europeu e também pela primeira vez a marcar na fase final de uma grande competição: foi dele o golo do empate, com um pontapé muito bem colocado, desferido com o pé esquerdo, correspondendo da melhor maneira a uma vistosa assistência de calcanhar feita por Nani.
O melhor estava para vir. E veio no fim. Os nossos cinco jogadores chamados a converter as grandes penalidades cumpriram a missão com brilhantismo. Primeiro o capitão, Cristiano Ronaldo. Depois Renato. Seguiram-se Moutinho, Nani e Quaresma. É fundamental assinalar também a extraordinária defesa de Rui Patrício, que evitou a conversão do quarto penálti polaco, a cargo de Kuba, num voo rasante só ao nível dos guarda-redes de inegável categoria.
Missão comprida, missão cumprida. Estamos nas meias-finais do Campeonato da Europa, o que nos acontece pela quinta vez. Vamos defrontar a Bélgica ou o País de Gales, falta saber qual destas selecções teremos pela frente no próximo desafio, marcado para quarta-feira às 20 horas.
Mas isso pode esperar. Vamos agora festejar a ultrapassagem deste obstáculo chamado Polónia. Devagar se vai ao longe.
Portugal, 1 - Polónia, 1 (5-3,no desempate por penáltis)
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Atento, sempre seguro entre os postes. Acabou por não ter tanto trabalho como se antevia, mas correspondeu quando necessário. Boa defesa aos 69'. Sem hipótese no golo. O seu melhor momento foi a defesa do penálti marcado por Kuba. Totalmente decisivo.
Cédric - Cometeu um erro infantil logo no segundo minuto de jogo ao falhar o tempo de salto em zona proibida, o que permitiu que a Polónia se adiantasse no marcador, com golo de Lewandowski. Redimiu-se ao longo da partida, ganhando quase todos os duelos individuais no seu flanco.
Pepe - Voltou a ser o melhor português pelo segundo jogo consecutivo. Agigantou-se em todos os lances que disputou, desviando o que havia para desviar sem necessidade de recorrer a faltas. Recuperou uma bola aos 81' e lançou um contra-ataque rapidíssimo, pondo os polacos em sentido. Exibição de luxo.
José Fonte - Completou bem as tarefas defensivas de Pepe: até parece que jogam juntos há anos. Acorreu à dobra quando Eliseu era ultrapassado, revelando segurança e maturidade. Bom cabeceamento aos 78', mas a bola saiu à figura do guardião polaco.
Eliseu - Voluntarioso e combativo, sobra-lhe em força anímica o que já lhe val faltando em pernas. O seu melhor momento foi um cruzamento milimétrico aos 92' que Ronaldo desperdiçou: esse lance podia ter arrumado o encontro. Mas vários outros passes não lhe saíram bem.
William Carvalho - Um poço de energia enquanto esteve em campo. Não lhe bastou ser o maior tampão contra as investidas polacas, recuperando inúmeras bolas: sabia sempre recolocá-las em jogo, desmarcando os colegas. Saiu aos 96', já esgotado de tanto correr e um cartão amarelo que o exclui da meia-final.
Adrien - Combinou da melhor maneira com William, aproveitando as rotinas que ambos já criaram no Sporting, destacando-se igualmente na recuperação de bolas. Aos 66' fez um dos melhores passes para Ronaldo, infelizmente desaproveitado. Saiu aos 74', já "amarelado".
Renato Sanches - Entrou finalmente como titular e demonstrou ao seleccionador que valeu a pena apostar nele. Marcou o nosso golo solitário e imprimiu dinâmica de vitória à equipa. No final, voltou a ser decisivo ao marcar o penálti que lhe competia. Falta-lhe só mais rigor no processo defensivo.
João Mário - Fez talvez o seu jogo mais apagado deste Europeu, em parte por parecer sempre deslocado da sua posição ideal: Fernando Santos mandou-o encostar à linha esquerda, auxiliando Eliseu na tentativa de impedir a progressão polaca. Nem sempre se entendeu com Ronaldo. Saiu aos 80'.
Nani - Teve dois momentos altos durante a partida. O primeiro aos 28', ao servir muito bem Ronaldo num lance em que o capitão é carregado em falta, o segundo aos 33', com uma soberba assistência de calcanhar para o golo de Renato. Voltou a destacar-se ao marcar um dos penáltis finais.
Cristiano Ronaldo - Devia ser ele a fazer a diferença para uma grande exibição portuguesa, mas ainda não foi desta que isso sucedeu. Sem contornar as marcações, falhando por sistema o tempo de intervenção, perdendo até vários confrontos individuais, quase passou ao lado do jogo. Valeu o penálti marcado no fim: a ronda vitoriosa começou nele.
João Moutinho - Rendeu Adrien aos 74'. Parece ter-lhe feito bem o descanso no jogo anterior, por acaso o único que conseguimos vencer até agora nesta fase final do Europeu. Aos 86', foi dele o melhor lance individual da partida ao picar a bola que sobrevoou toda a defesa polaca e foi anichar-se nos pés de Ronaldo, que a dominou mal.
Quaresma - Substituiu João Mário aos 80' para dar frescura e dinamismo à equipa, numa fase em que os polacos pareciam já ter desistido de chegar à nossa grande área. Tentou servir Ronaldo, desta vez sem sucesso. Mas voltou a ser o talismã da selecção: o golo de penálti que nos pôs nas meias-finais foi dele.
Danilo - Entrou aos 96', substituindo William Carvalho, voltando a demonstrar que continua a faltar-lhe a qualildade de passe do colega. Com ele em campo a selecção recua 20 metros. Mas era mesmo essa, pelos vistos, a missão que Fernando Santos lhe pedia.