A ver o Europeu (2)
Terminou 1-1, mas soube a derrota. Frente à modestíssima Islândia, que se estreia num Campeonato da Europa, a selecção das quinas não conseguiu melhor do que um empate longe de quase todas as previsões.
Jogando num ritmo lento, denunciado, previsível, sem automatismos, deixámos os islandeses dominar em largos minutos da segunda parte apesar de termos terminado o encontro com 66% de posse de bola. Com um Ronaldo apático, um Danilo ineficaz e um Moutinho que mal se viu.
Valeu-nos o golo de Nani, conseguido ainda no primeiro tempo. Mas após o intervalo uma falha clamorosa de Vieirinha, que permitiu toda a liberdade ao atacante islandês Bjarnason, possibilitou o empate da equipa adversária, num remate à queima-roupa, sem hipóteses para Rui Patrício.
Fernando Santos parecia conformado com tamanho cinzentismo: deixou decorrer 71 minutos para fazer a primeira substituição. Mas as entradas de Renato Sanches (para o lugar de Moutinho), Quaresma (rendendo João Mário) e do invisível Éder (substituindo André Gomes) não produziram qualquer resultado.
Portugal estreia-se no Euro 2016 com este lamentável tropeção perante o incompreensível silêncio dos adeptos portugueses, que ocupavam uma larga percentagem dos lugares do vetusto estádio de Saint-Etiènne mas parecem só exibir credenciais patrioteiras quando encontram uma câmara de televisão pela frente. O público islandês, em muito menor número, deu uma lição aos nossos compatriotas, puxando pela equipa deles do princípio ao fim.
Portugal, 1 - Islândia, 1
.................................................
Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Exibiu bons reflexos logo aos 3', quando evitou um golo islandês que mudaria toda a história deste encontro. Outra grande defesa aos 86'. Sem culpa no golo sofrido.
Vieirinha - Falhou muitos cruzamentos e desposicionou-se com facilidade. Numa destas situações, com um grave erro de marcação, permitiu que Bjarnason recebesse a bola e disparasse à baliza, fazendo o empate.
Pepe - Combinou mal com Vieirinha e viu-se em apuros perante os atacantes islandeses, sobretudo no jogo aéreo. Também ficou mal na fotografia do golo que sofremos. Tentou rematar em lances de bola parada, sem sucesso.
Ricardo Carvalho - Agilidade e bons reflexos - proeza notável para o mais veterano da nossa selecção, já com 38 anos feitos, como ficou demonstrado num grande corte aos 29'. Cumpriu o essencial da missão que lhe foi atríbuída.
Raphael Guerreiro - De longe o melhor do nosso quarteto defensivo. Veloz e batalhador, marcou livres e cantos, integrando-se bem no ataque. Hábil na finta curta. Grande corte aos 74' num lance que podia ter dado golo.
Danilo - Lento e apático, sem iniciativa. Perdeu a bola aos 3' numa jogada que quase deu golo à Islândia. Parece ter ficado aturdido e nunca mais se reencontrou, remetendo-se às linhas mais recuadas como se fosse um terceiro central.
João Moutinho - Competia-lhe ser o principal transportador da bola da linha intermédia para o ataque, mas mal se deu por ele. Macio, inofensivo, passou quase ao lado da partida. Saiu aos 71'.
André Gomes - Boa primeira parte do médio do Valência, que culminou na assistência para o solitário golo português, com um centro primoroso a que Nani deu a melhor sequência. Foi sempre um dos mais inconformados. Saiu aos 84'.
João Mário - Partida discreta do médio leonino, que poucas oportunidades teve para fazer os movimentos de que mais gosta, partindo da ala para o centro. Bom passe para Cristiano Ronaldo aos 58'. Mas podia ter feito mais. Saiu aos 76'.
Nani - Todos o davam como suplente a 48 horas do nosso encontro inaugural do Euro 2016. Afinal foi o melhor português, justificando a titularidade. Golo à ponta de lança aos 31'. Podia ter marcado outros dois, aos 21' e 71'.
Cristiano Ronaldo - Jogo fraco do nosso capitão, que teve sempre dificuldade em fugir às marcações. O melhor que fez foi um cabeceamento aos 85', para defesa difícil do guardião islandês. Muito pouco para o que se esperava dele.
Renato Sanches - O seleccionador deu-lhe ordem para entrar aos 71', rendendo Moutinho. Procurou sacudir o jogo, mas agarrou-se demasiado à bola, perdendo sucessivas oportunidades de passe. Foi inofensivo.
Quaresma - Afinal acabou por jogar, entrando aos 76'. Mas com uma exibição muito pálida: nada a ver com o fulgor demonstrado frente à Estónia. Talvez devesse ter entrado mais cedo. Assim soube a pouco.
Éder - Entrou aos 84', rendendo André Gomes: permaneceu cerca de dez minutos em campo. Julgo que não terá chegado a tocar na bola.