A ver o Europeu (10)
COMEÇÁMOS MUITO BEM
Portugal começa este Europeu da melhor maneira: com uma vitória fora de casa contra a Hungria, que contou com 60 mil espectadores a puxarem pela sua selecção em Budapeste. Campo inclinado, pois: este é o único estádio que permite lotação esgotada no Campeonato da Europa em plena era de pandemia. Irresponsabilidade total da UEFA. Péssima pedagogia que se faz para todo o mundo.
Vitória merecida, esta de ontem. Com seis campeões europeus no onze inicial, a primeira parte foi toda nossa. Tivemos três oportunidades flagrantes de golo: Diogo Jota desperdiçou uma, Cristiano Ronaldo outra e a terceira foi travada pelo guardião húngaro, também a remate de Jota. Durante os 45 minutos iniciais, Rui Patrício foi mero espectador.
Na segunda parte a Hungria soltou-se um pouco e aproximou-se mais da nossa área, o que acabou por beneficiar-nos: o autocarro magiar deixava de estar tão estacionado. As oportunidades mais perigosas continuaram a ser nossas: Gulacis, sem dúvida o melhor dos húngaros, impediu in extremis o golo português por Pepe, de cabeça, aos 47, e desviou para canto um tiro certeiro de Bruno Fernandes, aos 68'.
Quando o onze nacional começava a acusar algum cansaço, a partir do minuto 70, Fernando Santos mexeu bem na equipa. Fazendo trocas que deram frutos, sobretudo no meio-campo ofensivo. E aconteceram três golos em oito minutos.
O primeiro, aos 84', surgiu de um remate de Raphael Guerreiro em zona frontal, após duas carambolas - a última das quais traiu o guarda-redes. O segundo foi apontado por Ronaldo, aos 87', na conversão de um penálti castigando falta sobre Rafa - primeiro golo de grande penalidade alguma vez marcado por Portugal na fase final de um grande torneio europeu. O terceiro resultou de rápidas tabelinhas entre o benfiquista e CR7, com este a metê-la lá dentro, à ponta-de-lança, já no tempo extra (90'+2). Culminando uma exemplar construção colectiva que envolveu 33 toques de bola ao longo de minuto e meio.
Se na primeira parte o domínio foi todo nosso sem se traduzir em vantagem no marcador, à semelhança do que sucedera com a Espanha na véspera, na segunda cedemos parte desse domínio mas marcámos três a uma selecção que vinha de onze jogos seguidos sem perder. Ganhámos com a transição, impondo a nossa condição de campeões europeus. Conseguindo, logo ao primeiro embate, passaporte para a fase seguinte do torneio.
E o que interessa no futebol é isto.
Hungria, 0 - Portugal, 3
.................................................
Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Sofreu um golo, logo anulado por flagrante fora de jogo. De resto, pouco trabalho. Fez a primeira defesa (fácil) quando já estavam decorridos 37'. Atento entre os postes, impediu danos para as nossas redes aos 57' e aos 73'. Intransponível, uma vez mais.
Nelson Semedo - Chamado a titular por impedimento de João Cancelo, foi o elemento mais fraco do nosso quarteto defensivo. Arriscou muitas incursões pelo flanco direito, mas foram quase todas inconsequentes. Precisa de melhorar nos cruzamentos: falhou em excesso.
Pepe - Pilar da selecção. Aos 38 anos, continua sem acusar desgaste físico. Comandou o reduto defensivo, ganhou duelos, limpou a sua área, revelou-se exímio nos passes longos. E quando foi preciso aliviou sem rodeios. Esteve quase a marcar, de cabeça, aos 47'. Merecia esse golo.
Rúben Dias - Articulou-se bem com Pepe: ambos formam hoje o dueto indiscutível de centrais titulares da equipa das quinas. Pecou às vezes por excesso de contundência: num desses lances, aos 38', viu o cartão amarelo. Não havia necessidade.
Raphael Guerreiro - Fernando Santos renovou-lhe a confiança: o lateral esquerdo é campeão europeu e fez boa temporada ao serviço do Borussia Dortmund, conquistando a Taça alemã. Reforçou a titularidade com o golo agora marcado, que veio desfazer o nulo inicial aos 84'.
Danilo - Médio mais recuado, muito posicional, destacou-se sobretudo na recuperação de bolas - merecem aplauso as que fez aos 13' e aos 61', por exemplo. Articulou-se bem com Willliam no eixo do terreno, revelando segurança no transporte e precisão no passe.
William Carvalho - Teve uma temporada apagada no campeonato espanhol, mas ninguém diria ao vê-lo neste jogo em que confirmou as qualidades que já lhe conhecíamos: voltou a ser crucial na consistência da equipa, à semelhança do que sucedeu no Euro-2016. Saiu esgotado aos 81'.
Bruno Fernandes - Primeira parte apagada. Foi-se soltando mais e integrando-se melhor na manobra ofensiva, culminando no tiro à baliza húngara que Gulacis travou com a defesa da noite (68'). É ele quem começa a construir o primeiro golo com um passe de ruptura. Saiu aos 89'.
Bernardo Silva - Talvez o mais fraco desempenho no nosso onze inicial. Arriscou várias vezes o drible, procurando fazer uso da sua técnica individual, mas quase nunca criou desequilíbrios. Abusou do individualismo. Foi bem substituído aos 71', tendo saído já tarde de mais.
Diogo Jota - O avançado do Liverpool anda de pé quente, mas desta vez não facturou. Teve uma das perdidas da noite ao optar pelo remate, aos 5', com CR7 a seu lado, isolado, em posição frontal. Esteve melhor num remate à meia-volta, aos 40', parado pelo guarda-redes. Saiu aos 81'.
Cristiano Ronaldo - Assobiadíssimo sempre que tocava na bola, o capitão não se atemorizou. Foi procurando sempre o golo e acabou recompensado: marcou dois. É o quinto Europeu em que consegue facturar. Está a três golos de igualar o recorde de Ali Daei. Homem do jogo, aos 36 anos.
Rafa - Substituiu Bernardo aos 71'. Inicialmente nada lhe saiu bem: passes falhados, perdas de bola. Mas esteve nos três golos: remata frouxo provocando carambola que sobra para Raphael no primeiro; sofre o penálti no segundo; e é bem-sucedido nas tabelinhas que geram o terceiro.
Renato Sanches - Entrou aos 81', rendendo William Carvalho. Fez impor a sua boa condição física e a sua qualidade no transporte. O lance decisivo da grande penalidade começa a ser construído por ele ao ganhar uma bola dividida com eficácia e competência.
André Silva - O segundo maior marcador da Liga alemã entrou aos 81', para o lugar de Diogo Jota. Mostrou-se combativo, mas sem grande sucesso nos confrontos individuais. Muito marcado, esteve longe das zonas de tiro.
João Moutinho - Em campo a partir dos 89', substituindo Bruno Fernandes. Para queimar tempo, já com 2-0, e ajudar a segurar a bola. Cumpriu.