A probabilidade de ganhar
Discute-se muito futebol, mas é importante perceber que o futebol será sempre um jogo de probabilidades e não de lances fortuitos, apesar destes também garantirem vitórias. Uma equipa que domine a grande maioria dos jogos, que crie muitas oportunidades de golo estará sempre mais perto de ganhar que aquela que se limita a reagir e que esporadicamente tem uma/duas oportunidades de golo. Obviamente que essa equipa pode perfeitamente ganhar um jogo à equipa que domina e não marca. Mas isso acontecerá por mero acaso e não por concepção estratégica e qualidade de jogo. Também é preciso perceber que equipas que na maioria dos seus jogos são favoritas e jogam em domínio e posse sobre o seu adversário necessitam que todos os sectores contribuam para a qualidade de jogo, que o colectivo reduza a importância da individualidade. É preciso que os laterais se envolvam, dêem linhas de passe no interior do meio campo adversário e profundidade ofensiva, é preciso que os centrais tenham saída de bola e capacidade de controlar a profundidade, é preciso que o guarda-redes tenha a capacidade de jogar com os pés e de ter sentido posicional para dar cobertura às costas da defesa. Tal como é precisa muita qualidade técnica para jogar em posse e dominar o jogo. Isto para além do natural cumprimento das funções básicas de cada sector.
Resumir a actual época às falhas na finalização é redutor. Prefiro dizer que o que tem falhado é a qualidade técnica dos intérpretes na altura da decisão, seja em momento ofensivo, defensivo ou de construção. E esse não é um problema do treinador. Ou pelo menos, não o é agora, e pode-se discutir a influência que teve na construção do plantel, mas esse exercício é inócuo neste momento. Se quisermos ser sérios na análise, facilmente se constata que dominámos todos os adversários com que jogámos, com excepção de 10 (1ª parte) + 25 (2ª parte) minutos no jogo com o Benfica e dos últimos 10 minutos do jogo com a Académica em que jogávamos em inferioridade numérica. De resto, tivemos sempre domínio dos jogos, o que não invalida a criação de jogadas de perigo e de até de golo por parte dos adversários. Isto, ao contrário do que muita gente pensa, é uma enorme melhoria em relação à época anterior. No entanto, o estigma da elevada pontuação alcançada anteriormente vai continuar a pairar e as comparações são inevitáveis, mesmo que para isso, se esqueça completamente a fraca qualidade de jogo que apresentámos em 2/3 do campeonato e que a qualidade dos jogadores (centrais, principalmente) era muito melhor. Saíram os dois melhores centrais do plantel, ficou aquele que já era o pior e os contratados deixam muito a desejar. No entanto, é irrelevante, nesta fase, discutir os jogadores que constituem o plantel. Mas não é irrelevante perceber que os erros individuais são o principal contributo para o facto de não termos alcançado os resultados que queríamos. Colectivamente a equipa apresenta-se muito bem, os princípios de jogo são bons, mas Marco Silva não controla os golos que se falham, a falta de qualidade dos centrais a sair com bola (para não falar do completo desconhecimento de noções de jogo), entre outras.
Dir-me-ão que uma equipa que perceba e controle os vários domínios do jogo mas que não marque golos não vale de nada. Eu acredito que as probabilidades de ganhar jogos, marcar golos e não sofrer são muito maiores nas equipas que jogam como o Sporting. Não obstante, teremos que viver com os jogadores que temos e com as suas limitações. Cabe a Marco Silva ter a coragem para colocar em campo os que melhor compreendem o jogo e não os que mais estatuto têm. De resto, manter a crença no trabalho desenvolvido e continuar a desenvolver o modelo de jogo.
P.s. Recuso-me completamente a alinhar na ideia de que William está em baixo de forma ou a jogar menos que no ano anterior. Basta analisar a quantidade de decisões que tem que tomar por jogo e ver quantas vezes toma a certa ou a errada. Aviso já que a conclusão será surpreendentemente positiva.