A orfandade da idolatria é, infelizmente, um fenómeno que hoje ultrapassa em larga medida o fenómeno desportivo, contaminando todas as franjas da sociedade, e se espraia sobretudo pelos territórios da política. Bruno de Carvalho, na sua ascensão e queda, só pode ser explicado à luz deste fenómeno. Saído de cena, deixou um vácuo. Que os órfãos sentem imensa dificuldade em preencher.
Nada fácil, preencher esse vazio na chamada "sociedade do espectáculo". Num certo sentido será mesmo impossível. Porque Varandas é uma espécie de anti-Carvalho. O seu avesso.
Repare, meu caro: essa orfandade não afecta apenas adeptos. Podemos vê-la também, serão após serão, nos bitaiteiros do ludopédio: antes tinham pasto diário para horas de galhofa na pantalha, agora espremem o limão e dali quase não sai gota alguma. Um horror. Como encher horas e horas de emissão sem assunto?
Lá têm esses mabecos de mudar de agulha. É o que temos visto nos últimos dias: tiro ao Vitória, tiro ao Vieira, penta xau, xau, xau. The show must go on: a roda sempre a girar.
Esse foi claramente um dos resultados benignos da queda: os bitaiteiros perderam o alvo preferido e tiveram de preencher esse vazio. Felizmente, para eles, não foi necessário andar muito. Bastou seguirem as viaturas da PJ e ter algum para não tropeçarem numa toca.