a nossa champions
Nunca tive muita paciência para a fase de grupos da Champions. Ou se é tubarão e a passagem acaba por estar quase garantida, ou tudo pode acontecer. E não tenho paciência, porque há um fingimento geral em relação a isso.
Vejamos. Distracções, penalties duvidosos, livres directos, bolas na trave, jogadores inspirados que fazem a exibição de uma vida, tudo entra em campo nesta altura e acaba por nivelar a coisa, mais do que se suponha, entre não tubarões. Neste sentido, as equipas portuguesas (não sendo tubarões), precisam de sorte e de a saber procurar. Desde logo no sorteio, em seguida na ordenação das jornadas e na sua ligação à jornada doméstica e à forma e adaptação dos reforços. Com tudo isto no tabuleiro, pronto para ir ao forno, irritam-me os comentadores, adeptos e teóricos que acham que se pode concluir muita coisa acerca da equipa. Porque todos fingem que a Champions é importante na vida dos clubes portugueses, como fingem que as equipas dos nossos grupos são do melhor que há. Não é, como JJ já disse várias vezes e não são. O Besiktas por exemplo é uma péssima equipa, como é o Légia, ou o Brugge. O Leicester nada tem a ver com o Real ou o Dortmund e mesmo o Napoles está a dois mil quilómetros de ser um colosso.
No fim do dia, o que interessa mesmo é ganhar a liga nacional e ir para o Marquês (ou avenida dos Aliados). Todos o sabem, do segurança que está na cancela da Academia ao presidente, mas todos alinham nesta coisa mais ou menos parola de que os clubes portugueses têm pergaminhos na Champions. Não têm. O que acontece é que em alguns anos têm mais sorte que outros e vão passando a fase de grupos até serem comidos por um tubarão. É ir ver o sorteio do Porto que ganhou a final do Mónaco e aquela sorte do golo do Costinha em Manchester ter sido validado.
Para que me percebam melhor, o apuramento é fundamental por causa da massa e da visibilidade que dá aos atletas (para os vender), os pontos são precisos pela massa extra, mas a partir de determinada altura é cerrar os dentes e acender velinhas para não levar uma coça que fará os adeptos dos outros clubes gozarem com o nosso. É pensar pequeno? Eu chamo-lhe damage control e gestão das expectativas, porque muito do nosso futebol se joga fora de campo. Ou no campo, sem ter a ver com o jogo em si. Rui Vitória deixa André Horta a titular (e tira Sálvio) e faz subir Carrillo porque a ideia é mostrá-los no mercado. Adrian Lopez joga porque pode ser que faça um golo que lhe suba a cotação. É também isto a nossa Champions.
Eu acho que não estou sozinho neste encarar de Champions como algo exógeno aos objectivos da época. Acho que se nota nos nossos jogadores (dos três grandes). Pressente-se que eles sabem que não terão nenhuma hipótese de vencer aquela competição e se entregam à sorte do jogo. Se marcarem primeiro, tanto melhor. Se não o empate serve. A derrota? Se não for por muitos, também está bem… Viu-se no pós-jogo de Madrid, mas também no pós-Besiktas, um conjunto de bons rapazes muito bem pagos, mas que de equipa e sistema de jogo nada têm. Se o Real é de facto bom, embora só tenha jogado minimamente nos últimos 10 minutos, pintarem o Besiktas como grande equipa já é gozar. Mesmo o Leicester, enfim…
Curiosamente Gelson ou Gonçalo Guedes (como Renato o ano passado) pareceram ter outra atitude, mais esfomeada. A ver vamos…