A noite em que Alvalade foi diferente de todas as outras noites
O entendimento de qualquer realidade depende muito da experiência de cada um sobre a mesma e da percepção que conseguiu obter.
Por exemplo, o entendimento da Covid19 é muito diferente entre quem se viu forçado ao lay-off ou confinado ao teletrabalho "aturando" filhos irrequietos, ou quem esteve nos Cuidados Intensivos ou viu morrer familares sem lhes poder valer. Muito diferente. Como em muitos outros casos.
O meu entendimento do que seria a desgraça de Bruno de Carvalho, que conseguiu depois aliar a completa deserção do comando do futebol do Sporting ao descontrolo da situação com a Juveleo, ao que se seguiu o não pedido imediato de demissão depois do assalto a Alcochete e a teimosia de se agarrar ao poder que conduziu às rescisões e a atropelos vários aos estatudos e regulamentos do clube, teve muito a ver com a recepção ao Paços de Ferreira em Alvalade, em que por cinco ou seis vezes durante o jogo se ouviu um coro de (mais ou menos, a julgar do sítio onde eu estava) 50% do estádio, a clamar "Bruno, cabrão !!! Pede a demissão !!!"
A minha percepção foi a de quem lá esteve, mas muitos não estiveram e nunca perceberão o que foi naquele dia a repulsa duma grande fatia dos sócios presentes pelo descontrolo completo da personagem que muitos tinham ajudado a reeleger poucos meses antes.
Tentando recuperar na Net o que foi esse dia, encontro esta descrição na TVI24 (https://tvi24.iol.pt/sporting/liga/a-noite-em-que-alvalade-foi-diferente-de-todas-as-outras-noites):
"O Estádio José Alvalade viveu neste domingo uma situação pouco habitual. Durante o jogo entre Sporting e Paços de Ferreira, os cerca de 40 mil espectadores presentes nas bancadas fizeram questão de manifestar de que lado estão na «guerra» guerra entre jogadores e presidente.
Bruno de Carvalho assistiu ao jogo no banco de suplentes e foi notório que, se a relação entre dirigente e jogadores está longe de ser saudável, a aceitação no seio dos adeptos também já viveu melhores dias.
Quando o presidente dos leões subiu ao relvado, instantes antes do apito inicial da partida, a grande fatia das bancadas (à exceção da zona das claques) dirigiu-lhe um enorme coro de assobios e, entre insultos pelo meio, exigiu a sua demissão. Após o jogo, Bruno de Carvalho não deixou passar o momento e deixou um aviso em declarações aos jornalistas: «Alguns adeptos do Sporting vão, mais cedo ou mais tarde, perceber a gravidade moral daquilo que fizeram hoje. Têm todo o direito de chamar nomes, mas chamarão às pessoas da família deles e não a mim.»
Ao longo da noite, houve lenços brancos, muito apoio aos jogadores mas também contestação: a Juve Leo, ao lado do presidente Bruno de Carvalho, desfraldou duas tarjas com a seguinte mensagem: «Jogadores: amar e sentir o clube. Tudo o que vocês não sentem.»
Os incentivos à equipa contrastaram com os apupos dirigidos a Bruno de Carvalho, que voltaram a subir de tom ao intervalo e após o apito final, altura em que o presidente do Sporting, com claras limitações físicas, precisou do auxílio de alguns elementos do staff leonino e de um segurança para se levantar do banco de suplentes e sair do relvado pelo túnel de acesso aos balneários.
Nessa altura, a equipa de Jorge Jesus trocava cumprimentos com adversários e agradecia pouco depois o apoio das claques junto à bancada sul. De seguida, os jogadores deram uma volta ao relvado e agradeceram o apoio dos restantes adeptos, com Alvalade ao rubro e, pela primeira vez na noite, em aparente plena comunhão de espírito."
Conferência de imprensa:
Acho que estes documentos ficam muito aquém do que foi aquela noite. Quem tiver melhores que os refira, mas já dão uma ideia.
Bruno de Carvalho quer mesmo voltar a ser presidente do Sporting?
SL