A mais importante das coisas pouco importantes
Há uma boa máxima do nosso futebol, atribuída a Arrigo Sacchi, segundo a qual o futebol é a mais importante das coisas pouco importantes.
Tocou-me saber que Nélson Veríssimo, no mesmo dia em que regressou ao posto de treinador principal do Benfica, perdeu a sua mãe.
Impressionou-me saber que, enquanto a mãe era velada, Nélson Veríssimo ainda orientou um treino da equipa.
E também causou impressão que no dia seguinte estivesse a comandar a equipa no Dragão.
É possível que Nélson Veríssimo tenha tomado a iniciativa de treinar, bem como de comandar a equipa frente ao Porto. De resto, não criou nenhum precedente, pois no passado sucederam idênticos episódios. Desde logo, no nosso clube, com António Oliveira e Paulo Bento a vestirem a verde e branca no dia em que souberam do falecimento dos seus pais. Mais recentemente, tivemos Cristiano Ronaldo a jogar na Rússia, depois de tomar conhecimento da morte do pai.
Estes "sacrifícios" por parte dos nossos desportistas costumam ser destacados pela imprensa e até alvo de aplausos por parte de muitos adeptos, sobretudo dos mais aguerridos do clube em causa.
Cada um sabe de si, mas entendo que há momentos em que o futebol deve ser colocado na devida ordem da sua importância e a morte de alguém tão marcante nas nossas vidas, como um Pai ou uma Mãe, é um desses. Em contraste com os exemplos vindos de referir, temos o testemunho de Luís Campos que, quando treinava o Setúbal, falhou um jogo do clube porque o sogro havia falecido.
Teve a atitude que se impunha e que julgo dever ser a regra e não, infelizmente, a excepção. Mas, para isso, é preciso também que os clubes tenham sensibilidade. Mesmo perante a vontade do atleta ou treinador em disputar o jogo, devem dizer que primeiro está a família e o futebol vem depois, a mais importante das coisas pouco importantes.