A maior razia do Sporting veio com Jesus
Texto de RASR
Tenho a pretensão de que a culpa é de parte a parte.
Por um lado, temos o jogador. Forma-se no clube e tem uma ligação muitas vezes de mais de dez anos. Entraram enquanto putos e viveram o clube de uma forma que nós não conseguimos, por dentro. Eles sabem o que correram pela glória do clube nos seus determinados escalões.
É óbvio que os seus pais, muitos deles vindos de situações sociais e económicas totalmente complexas, assim como os seus agentes, com a ganância de contratos luxuosos que vêem em cada puto um novo Ronaldo de contratos bilionários, ficam todos na expectativa que este atinja a idade do contrato profissional, para assumirem o plantel principal e as primeiras boas coroas.
Quando começam a ser preteridos por outros jogadores que vêm de fora, começam a estudar formas de dar a volta à situação, através de vendas antecipadas pelos valores irrisórios que temos vindo a assistir. Eles, os "putos", pouco melhor sabem, confiando naqueles que os representam nas mesas de negociações.
É fácil falar de fora, que deviam ficar, dar o murro na mesa. Muitos têm pouco mais de 18 anos quando começam a ver o primeiro contrato com seis algarismos e mal sabem ainda pensar por si próprios...
Por outro lado, temos os treinadores.
Poucos são Rúben Amorim, Alex Ferguson ou Paulo Bento. São, aliás, uma raridade, os treinadores-formadores! Desta forma, para clubes formadores, como são a maioria dos portugueses, são precisos os treinadores certos para potenciar jovens.
A maior razia do Sporting veio com a contratação milionária de Jorge Jesus, consequentemente tapando a porta, à formação, da via de acesso ao plantel principal e à capacidade de valorização a curto prazo que sempre lhes cantaram ao ouvido durante anos e anos...
Assim, a porta de saída é o caminho mais rápido e, talvez, o mais fácil.
Por último, os presidentes.
Estes querem dos seus jovens o máximo rendimento possível com a sua venda. Tudo bem, nada contra. Porém, devemos ter a capacidade de perceber o ponto em que o clube se encontra, no mercado.
O Sporting tem passado por uma das suas maiores travessias do deserto. Quando algum clube estrangeiro negoceia connosco, é normal que pense que com meia dúzia de tostões nos conseguem levar todos os possíveis craques. Está lá o presidente para defender os interesses do clube, neste sentido. Não podemos é, também, deixar que um presidente perca o fio à meada e não consiga perceber o real momento da instituição.
Manter-se intransigente em exigir cláusulas de rescisão por jogadores que já estão a atingir o pico da sua performance é desmedido. Colocar cláusulas de rescisão absurdamente elevadas em jogadores que são bons mas apenas isso é perigoso, porque coloca a possível mobilidade profissional daquela pessoa em risco.
Tem igualmente de haver alguma transigência nas negociações e não emprenhar pelos ouvidos de quanto este jogador vale aos olhos dos adeptos (verdadeiros apaixonados pelo clube mas não entendidos nestas matérias).
Também queria o Bruno Fernandes a ser vendido por 120M, mas não era o valor de mercado correcto para ele, nem para o Sporting, nem para mais ninguém.
Adrien, Rui Patrício, William deviam ter saído pós-Euro'16 e mantiveram-se mais dois anos, à espera do tão propalado contrato milionário que Bruno de Carvalho tanto queria para enaltecer a sua presidência. Teve a de João Mário, mas depois foram apenas desastres atrás de desastres.
Resumindo, foi uma tempestade perfeita para termos, actualmente, "ratos", "traidores", "seres de esgoto" que estiveram às ordens do clube durante mais de dez anos mas que se viram impedidos de prosseguir as suas carreiras profissionais por desvarios e intransigências de pessoas que deviam ser profissionais.
Perderam todos, o clube também!
Texto do leitor RASR, publicado originalmente aqui.