A la Fernando Santos
Já cá canta a taça da liga, o 4º troféu doméstico mais relevante. O jejum tem sido grande e é natural, e saudável, o júbilo adepto. Até porque, ainda que sem a compensar, amansa um pouco a mágoa do esbulho anterior, já quase com uma década, esse que tamanho foi que causou esta desvalorização da para-sempre (?) "lucílio baptista". E, mais do que tudo, na esperança que seja a anunciação de um clube renovado na condição de conquistador de troféus de futebol sénior. Assim o seja. Foi um triunfo muito difícil, mesmo "à taça", uma mera vitória e quatro empates em cinco jogos. A la Fernando Santos, até naquilo do anúncio de Jorge Jesus "fiz a mala até ao dia da final". Assim o continue a ser.
O Vitória Futebol Clube, sito em e dito de Setúbal, é o meu segundo clube, coisas daquelas suas tão belas cores, ainda que dispostas não da forma absolutamente óptima, e da minha memória, encantada, daquela equipa de Big Mal, onde pontificavam Manuel Fernandes e, o então até ressuscitado, Rui Manuel Trindade Jordão. Assim confesso, neste blog sportinguista, este para mim inusitado balançar do coração durante o dia da final. Nisto do 100% sportinguista, e agora até sôfrego de vitórias, e a até inopinada descoberta de um excedente cardíaco, um algo mais sadino, coisa de um "a perder-se ... que seja com estes couceiros".
Não pude ver o jogo, fiquei-me pelo seu "resumo alargado", já a desoras. Desses 20 minutos, mostra de um verdadeiro jogo de taça, com o "mais pequeno" a jogar de igual para igual, como deve ser, retirei três coisas, porventura oriundas desse meu travo sadino. No Vitória está um belo ponta-de-lança, filho do nosso antigo treinador Domingos Paciência (esse que foi abalroado pelo "sistema", numa época marcada logo à entrada pelos oito pontos roubados nos três primeiros jogos, convém sempre lembrar), e pena é que pertença aos quadros do pérfido Porto. A jogar assim temos homem, também ele, a la Fernando Santos, para a campanha russa - e, já agora, que esta não seja napoleónica. Ou seja, que não se soçobre, já em Moscovo, nos penáltis. Repito, belo e pujante avançado, pérola rara no futebol português.
E um guarda-redes à porta da lenda. Pedro Trigueira engatou uma bela exibição. Mas o lance do nosso penálti é, nesse caminho das lendas futebolísticas, uma injustiça. Pois o homem fez duas assombrosas defesas a bons remates à queima-roupa e ainda iria fazer uma terceira, o que o colocaria, em definitivo, no panteão. Feito que decerto seria monumentalizado por uma qualquer "instalação" videográfica, pedestal mui contemporâneo a colocar em praça da cidade, porventura ali perto do Arco Zeca Afonso, coisa muito nessa linha. Enfim, e para nós ainda bem, o seu colega Podstawski, muito humanamente, precipitou-se, deitando a perder a taça ao clube e roubando a imortalidade ao guarda-redes.
O terceiro detalhe é sobre o video-árbitro, que todos os benfiquistas e tantos portistas abominam. Permite erros, convoca decisões discutíveis? Sim, a perfeição é impossível. Mas fica provado, numa final ainda para mais, que ajuda e muito à competência das decisões. Mas permite também uma outra conclusão: há excesso de críticas aos árbitros. Eu não sei como foi a arbitragem deste jogo (o resumo não mostra grandes erros mas isso não chega para ajuizar). Mas mostra, detalhadamente, o lance do penálti. Em particular há uma câmara atrás da baliza com ângulo suficiente para abarcar o campo. O guarda-redes e o defesa estão praticamente encaixados, os braços e as mãos praticamente paralelos (Podstawski vai ter insónias por uns bons dias). Entre eles e o árbitro, que estava cerca do topo da grande área, há uma verdadeira fileira de jogadores. O lance é rapidíssimo e imensamente agitado (a tal proto-lenda Trigueira). Assim sendo, é mais do que natural, até mesmo obrigatório, que o árbitro ou não tenha visto a infracção, pensando que era defesa do guarda-redes, ou que tenha tido dúvidas - e, nos penáltis, em caso de dúvida protege-se o defesa, mandam os mandamentos (ao contrário dos foras-de-jogo). Ainda assim, apesar de tudo isso, vejo críticas ao árbitro, quase luciliando-o. Caramba, mesmo tendo marcado o penálti e mesmo tendo o Sporting ganho a taça. Quando aprenderemos que as críticas excessivas minoram a consistência e os efeitos das críticas certeiras (e tantas há a fazer)?
Quanto ao Sporting? Viva a Taça. Que era objectivo, menor mas objectivo. O jogo da equipa parece curto para os outros objectivos - talvez seja do Inverno, apesar deste não ter vindo tão duro, como se sabe pela seca. Nada como o futebol glamouroso e dominante de há duas épocas, com um plantel então herdado pelo treinador quando o de agora é por ele escolhido, e assim tão transformado. Mas o que é certo é que aquela equipa teve 7 pontos de vantagem e, estuporadamente, deitou-os fora. Que esta deste ano, tão mais cinzentona, pesada, tão menos artística e explosiva, seja menos perdulária, mais utilitária. E ganhe. A la Fernando Santos. Com o "click" do Fernando Santos.
É o que espero. Que desejo. E que o Vitória assegure a manutenção.