A hecatombe
Doze notas sobre o Sporting-Marselha (0-2)
O Sporting foi derrotado ontem à noite, em Alvalade, pelo Marselha: 0-2. Há nove anos que a equipa francesa não marcava fora na Liga dos Campeões.
Em apenas uma semana, passámos do primeiro lugar no nosso grupo da liga milionária para o terceiro posto. Com apenas um golo marcado e seis sofridos frente à turma gaulesa, numa dupla jornada que constituiu um pesadelo.
Esta noite terminámos com apenas nove jogadores em campo, após expulsões de Esgaio e Pedro Gonçalves. Expulsões que denotam absoluta instabilidade emocional dos jogadores leoninos. Somada à péssima condição física: Coates voltou a lesionar-se, sendo forçado a sair aos 35'.
Foi jogo de sentido único, com o Sporting largamente remetido aos primeiros 30 metros, sem passar dali.
Aos 30', o resultado estava feito. Com o primeiro golo na conversão do penálti provocado por Esgaio e o segundo num rápido lance ofensivo, com Gonçalo Inácio a colocar o adversário em posição legal. Quase houve um terceiro sofrido, quando Marsà esteve a milímetros de marcar na própria baliza, aos 84': a bola esbarrou no poste.
Enfim, uma hecatombe.
Algumas notas que este jogo me suscitou:
1. Erro inconcebível de Rúben Amorim ao escalar o onze. Por incluir Esgaio como lateral direito tendo Porro no banco. Nem dá para acreditar.
2. Esgaio comete duas faltas dignas de amarelo em dois minutos, vendo o vermelho aos 18'. Enterrou a equipa, tal como Adán tinha feito em Marselha. Só o técnico ainda consegue ver alguma utilidade neste jogador que mandou vir de Braga.
3. Porro acabou por entrar, mas só aos 59' - algo que de todo não se entende, depois de Amorim ter inventado Fatawu como defesa direito com a missão teórica de percorrer todo o corredor, desdobrado em ala. Algo que não chegou a acontecer pois o jovem extremo ganês ficou quase só remetido a posições defensivas até o espanhol chegar.
4. Como foi a exibição do onze leonino? Vergonhosa. Primeiro e único remate enquadrado (frouxo, de Trincão) só aos 37'. Primeiro canto aos 44'. Nenhuma oportunidade de golo. Sucessivos passes falhados. Jogadores incapazes de atacarem o portador da bola, de imprimirem intensidade e velocidade ao jogo.
5. Amorim não soube adaptar-se à pressão do Marselha, que dominou o meio-campo fazendo avançar as linhas e encurralando a nossa saída de bola. Manteve-se «fiel aos seus princípios e à sua ideia de jogo», como é costume dizer-se à laia de elogio. Neste caso nada há a elogiar. Começou aí a nossa derrota, nessa incapacidade do treinador em abandonar o seu rígido esquema táctico.
6. Inacreditável, ver Pedro Gonçalves fazer-se expulsar por uma falta inútil lá na frente e palavras dirigidas ao árbitro quando já tínhamos um a menos: recebeu dois amarelos de rajada nesse fatal minuto 60. Comportamento disciplinar inaceitável. Passámos a jogar só com nove na última meia hora, em que quase nunca saímos dos primeiros 30 metros.
7. Substituições incompreensíveis. Só com dez a partir do minuto 19, o treinador faz sair consecutivamente os nossos maiores desequilibradores: Morita, Edwards, Trincão e Nuno Santos. O campo ficou ainda mais inclinado para o lado do Marselha.
8. Arthur, que marcou contra o Tottenham, não voltou a jogar. Alguém entende porquê? Eu não consigo.
9. Onde estava St. Juste? Não estava. O defesa mais caro da história do Sporting encontra-se novamente lesionado. Ainda não completou um jogo desde que chegou.
10. Onde estava Paulinho? A ver a partida fora das quatro linhas. O avançado mais caro da história do Sporting nem saiu do banco.
11. Chega a ser atroz, a nossa inépcia defensiva. Os números desta triste época não deixam lugar a dúvidas: 18 golos sofridos em 13 jogos.
12. Com estas duas derrotas consecutivas na Liga dos Campeões, desperdiçámos o acesso a cerca de 5,6 milhões de euros.