A Cofina
Há cerca de um ano, eu - tal como muitos sportinguistas, e aqui vários co-bloguistas - mudei de opinião acerca do então presidente do Sporting. Ou seja, se até então desvalorizara o incómodo, até desconfiança, que sentia face ao que imaginava estar subjacente à sua contínua rusticidade, desde o início de 2018 que me pareceu que algo se destrambelhara, até abissalmente. Ponderei que talvez fosse apenas uma flutuação individual (algo como o depois celebrizado "burnout", no português do dr. Barroso), e cheguei a blogar que poderia Carvalho fazer um intervalo de funções, deixando a caravela (que ambicionamos transformada em porta-aviões) nas mãos dos seus colegas de direcção durante o período de descanso. Mas também temi, sem o blogar, que muito do despautério - comunicacional e executivo - adviesse de um falhanço de medidas de risco entretanto tomadas, um "stress" cujas causas seriam interiormente conhecíveis mas ainda obscuras ao observador interessado. Nesse abrasivo contexto a partir desse início de 18 comecei, como vários de nós aqui no És a Nossa Fé, a criticar o rumo da direcção do clube. E nos meses seguintes, por razões do vulcânico ambiente sportinguista, foi uma azáfama aqui no blog, entre inúmeros postais e debate nos comentários, estes quantas vezes de uma jactância até dolorosa.
O que me convoca estas memórias é muito simples. Durante esses meses de estertor do "carvalhismo" aqui apareceram imensos comentários apoiando o então presidente, injuriando os seus críticos. E, de uma forma constante, invectivando a comunicação social, considerando-a uma teia conspiratória contra Carvalho e contra o Sporting. Nesse eixo de "reflexão" tendo muito realce as agressões à entidade Cofina, vista como essencial inimiga do clube e do então seu presidente, pois presa a interesses esconsos e agrestes. Como mero exemplo lembro que estando eu a trabalhar de madrugada, li num jornal que Rui Patrício rescindira o contrato e aqui logo fiz um postal. Para de imediato receber comentários, negando ou duvidando da veracidade da notícia, atribuindo-a às manobras da tal Cofina.
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Enfim, passou um ano. Carvalho foi destituído, o primeiro presidente a sofrer tal opróbrio no século de história do clube. Foi suspenso de sócio. O número de sportinguistas seus apoiantes imenso decresceu. Ele é, irremediavelmente, passado. Mas mesmo assim continuam, agora uma minoria no "Universo Sporting", os seus apoiantes activos nos sítios digitais (apodam-nos de "viúvas", que é um termo e um tom que me desagrada). Os seus "argumentos" - melhor dizendo, as suas invectivas - continuam iguais. Mas algo mudou:
Carvalho publicou um livro, as suas "memórias presidenciais", escritas - ao que li - por um militante benfiquista que muito o houvera injuriado in illo tempore. Coisas da vida, essa que nos obriga a ganhá-la. Nesse livro diz mal de tudo e de todos, com excepção de Jardim e de Slimani. E até da ex-mulher, com o qual casou em registo mediático presidencial, algo inapropriado para quem tenha uma visão mais associativa de um clube desportivo. E confesso que, para mim, isto de um tipo escrever um livro a dizer mal da mulher, de quem tem uma filha ainda por cima, é uma javardice abaixo dos mínimos ... distritais.
Ora eu não comprei o livro. Tenho lido alguns excertos, publicados com intuitos promocionais, nas publicações jornalísticas electrónicas pertencentes ... ao grupo Cofina. Sim, exactamente esse que os furiosos defensores de Carvalho diziam e berravam inimigo do clube, e do ex-presidente. Mas agora? Nem o "Bruno" protesta com a Cofina nem o seu "exército" ulula aversões à empresa. E nem pensam nisso. Acho que nem sequer reparam. Pois o que lhes realmente interessa, o que lhe é verdadeiramente necessário, é continuar a urrar ...