A catedral de zinco
Os benfas são, efectivamente, um espectáculo. Parece que no domingo não aconteceu nada. Aliás, se aconteceu, a culpa é a) do Sporting, cujos adeptos queimaram umas cadeiras em 2011, o que estragou a cobertura, parte da qual voou um ano depois durante um vendaval qualquer, e outra parte voou dois anos depois, durante outro vendaval; b) do comunicado do Sporting a exigir efectivas condições de segurança num estádio cuja cobertura já voou duas vezes, tendo aliás em consideração que o tempo continua bastante mau; c) da Liga, porque deixou as coisas chegarem até ali; d) de toda a gente, excepto dos próprios benfas. Típica irresponsabilidade benfas: são muito bons, nunca têm culpa de nada, anda tudo é a querer tramá-los.
Eu até acreditei naquela coisa dos adeptos do Sporting, até hoje ter visto no jornal que o incêndio foi numa ponta do estádio e as chapas que voaram no domingo foram na outra (as que voaram há um ano foram, realmente, do lado do incêndio). Parecem-me eventos razoavelmente independentes, que colocam mesmo em causa as condições estruturais de segurança do estádio. Espanta-me, aliás, o sangue-frio com que o Benfica está a lidar com a situação. Eles não estão bem a ver o filme: por cinco minutos, alguém não levou com aquelas placas de zinco na cabeça, podendo morrer logo ali, ou pelo menos ficar seriamente ferido. Mas o pior não seria isso. O pior seria o pânico que quase de certeza se seguiria, onde nos arriscávamos a uma repetição de Heysel, com gente esmagada ou a tombar por escadas e bancadas. Gostava de saber para quem é que iam então lançar as culpas.
Podem-se atirar bojardas para todo o lado, mas aquilo é o estádio do Benfica e o Benfica é responsável pela segurança do que lá acontece. O Benfica tem de dar garantias de que o estádio é seguro. E a Liga também tem de se certificar do mesmo, assim como as autoridades que licenciam os recintos desportivos. Não é uma questão de clubes. É uma questão de segurança pública.