A 9 de Setembro de 1940...
... era noticia:
«Abertura da temporada
Os campeões de Espanha foram batidos facilmente
Sporting, 5 [Peyroteo (2), Cruz (2) e Pireza] - Athetic Madrid, 1[Pruden]
A jornada de abertura da época de 1940-41 ainda que revestida de importância pela natureza dos contendores, não forneceu a luta que se esperava.
A equipa visitante não chegou para criar dificuldades ao Sporting.
Os campeões da Liga de Espanha evidenciaram falta de preparação. O conjunto raras vezes ligou com entendimento e faltou energia- e folego para impor andamento vivo, que pelo menos costuma ser a nota saliente da primeira meia-hora destes jogos de abertura.
O futebol espanhol acusa ainda o efeitos das provações que os seus homens passaram durante a guerra. Todos os sectores da actividade do País vão a caminho da recuperação desejada, mas notam-se claramente as dificuldades a vencer para conseguir tal objectivo.
Não é de estranhar por isso que o Athletic não tenha podido corresponder á expectativa.
Além das dificuldades acima indicadas, fez-se sentir tambem com nitidez o handicap do terreno duro.
O Campo do Lumiar parecia um court de tenis.
Habituados aos terrenos de relva, os jogadores visitantes mostraram-se notavelmente embaraçados no primeiro quarto de hora.
Foram lentos, dominando a bola com dificuldade. despachando mal e levantando o jogo em demasia.
Ao intervalo havia 1-0, mas só a falta de remate do ataque do Sporting não permitiu que a diferença fosse mais expressiva.
Na segunda parte o jogo teve um pouco mais de animação.
O Sporting fez três goals de enfiada no breve espaço de três minutos e sete minutos depois o marcador passava para 5-0.
Como havia ainda mais de vinte minutes por jogar supôs-se que os visitantes iriam sofrer- desaire mais pesado, mas precisamente nessa altura, em vez de se entregarem os homens do Athletic reagiram com vontade e equilibraram melhor a partida.
Aproveitando faltas de actuação da defesa do Sporting os madrilenos apresentaram-se algumas vezes em frente da baliza de Azevedo, e com mais segurança no remate podiam ter ido além do ponto de honra que conseguiram marcar a cinco minutos do fim.
Sob a arbitragem de Carlos Fontaínhas, os dois grupos alinharam os seguintes elementos:
Athletic: Guiilermo; Mesa (cap.) e Cabo: Gérman e Escudero; Enrique, Arencibia, Gabilondo (no segundo tempo Urquidi), Muñoz (substituído por Pruden, aos 25 minutos, por se ter magoado), Campos e Vazquez.
Sporting: Azevedo; Barrosa (substituído aos 20 minutos por Rui de Araújo) e Cardoso; Paciência, Gregório e Marques; Mourão (cap.), Ferreira, Peyroteo, Pireza e Cruz.
* * *
O Sporting levou a bola à baliza do adversário logo na primeira descida, e podia ter feito um goal logo ao primeiro minuto. Peyroteo fez uma boa fuga pela ponta direita, centrou com boa conta, mas Mourão e Cruz falharam lamentavelmente o remate só com o guarda-redes na sua frente.
Azevedo só aos dez minutes entrou em acção para defender um bom tiro de Muñoz.
Na altura do primeiro quarto de hora, uma mão intencional de Mesa, a cortar um passe perigoso, forçou o arbitro a assinalar uma grande penalidade que Cruz não soube transformar, apontando por forma que Guillermo pôde mergulhar por terra e defender.
O único goal do primeiro tempo foi marcado aos 20 minutos por PEYROTEO.
Centro bem medido de Cruz e entrada oportuna de cabeça do avançado-centro do Sporting. A bola faz tabela no poste e segue ao seu destino, surpreendendo o guarda-redes que se lançou já atrasado.
A sete minutos do intervalo, o interior esquerdo espanhol. Campos, tentou um remate a cerca de trinta metros, apanhando Azevedo desprevenido. A bola bateu na barra, ficou quasi sobre a linha, mas não entrou.
Perto já do intervalo houve ainda um remate perigoso de Pruden, que Azevedo defendeu com dificuldade.
Os primeiros dez minutos do segundo tempo foram mornos e pareciam indicar que o resultado não se desnivelaria muito não obstante a superioridade demonstrada pelo- Sporting.
O Sporting animou-se porém com um segundo goal marcado per CRUZ ao doze minutos e fez mais dois a seguir, o terceiro aos treze minutos novamente por CRUZ e o quarto por PIREZA aos quinze minutos.
Os dois goals do extremo esquerdo do Sporting foram magnifico«. O primeiro do lado esquerdo e com o pé direito, imparavel. O segundo, apontado quasi da extrema direita-onde aparecera como por encanto - com o pé esquerdo, remata a cair sobre d angulo da baliza e em que Guillermo teve grandes culpas.
Mas se os dois goals de Cruz tinham sido fartamente aplaudidos, o de Pireza, com um excelente remate à entrada da área, mereceu plenamente a ovação que o público lhe dispensou.
O quinto e último goal do Sporting marcou-o PEYROTEO aos 22 minutos, aproveitando uma fase à boca das redes, com a bola abandonada.
Mourão deu o toque e Peyroteo confirmou, barrando bem a entrada de Mesa.
Aos 30 minutos, o avançado-centro espanhol é carregado pelas costas dentro da grande área, mas o arbitro não atende as justas reclamações dos visitantes.
Cinco minutos tiepois Vázquez foge bem, faz um excelente cruzamento ao seu colega da direita, mas Enrique, com a baliza vista, perde a oportunidade.
Finalmente aos 40 minutos, e novamente em fase iniciada por Vázquez - o mais perigoso avançado do Athletic - surge o único goal dos visitantes.
Vázquez fez o lançamento da bola da linha lateral e o avançado-centro PRUDEN, mal marcado pela defesa do Sporting, pode acercar-se da baliza e rematar com boa direcção. Azevedo nem esboçou sequer a defesa.
* * *
O Athletic acusou pouco treino, estranhou o terreno e alguns dos seus homens não estão devidamente apetrechados sob o ponto de vista de condições físicas.
Não devemos esquecer, na apreciação do seu trabalho, as grandes dificuldades que a Espanha atravessou e está ainda atravessando.
O guarda-redes GUILHERMO. embora com culpas em dois dos goals sofridos, mostrou valor e decisão
MEZA é seguro, mas está pesado demais. Sustentou hem o embate com Peyroteo. Pouca direcção no shot. Levantou muito a bola.
COBO fraquito. Na linha de médios falou a experiencia de GERMÁN, que deu boa luta ao trio central, e teve algumas aberturas bem vistas aos extremos, sobretudo a Enrique, mas de que este não soube tirar partido.
GABILONDO foi o que melhor bateu a bola em terreno duro, e foi o elemento que mais nos agradou na defesa.
ESCUDERO e URQUIDI, ambos diligentes, foram dos mais uteis,
Na linha de ataque VÁZQUEZ foi o mala efectivo e o mais perigoso. Domina bem a bola e sabe centrar.
CAMPOS deve ter estado abaixo do seu normal, porque não correspondeu ás referencias
que temos lido a seu respeito.
MUNOZ e PRUDEN denunciaram shot fácil, mas o fraco rendimento do conjunto não lhes permitiu pôr mais vezes à prova essa qualidade.
ARENCIBIA serviu por vezes com precisão, revelando bom domínio de boia, mas não se mostrando muito afoito na luta de perto.
ENRIQUE foi o mais fraco dos avançados. Recebeu muito jogo em excelentes condições - pois o defesa contrário deu-lhe muitas largas-mas não soube dar-lhe o necessário seguimento. Em vez de caminhar para a baliza voltava atrás, para passar com o pé esquerdo, impondo assim um compasso de espera que só favorecia a colocação da defesa do Sporting.
* * *
O «onze» lisboeta fez uma partida multo aceitável para começo de época.
Na defesa os melhores elementos foram Azevedo, Cardoso e Gregorio.
Rui de Araújo ainda cumpriu multo satisfatoriamente. quando entrou a substituir Barrosa (reserva).
Na linha da frente o extremo esquerdo Cruz foi o mais valioso. Peyroteo esforçado ao máximo, mas muito vigiado pelos adversários e vitima da standardização do sistema de ataque do Sporting, em que lhe cabe sempre tarefa igual.
Pireza com o mesmo assombroso domínio de bola. mas por vezes lento demais, travando um pouco o ataque.
Ferreira esteve pouco feliz a passar, fazendo gorar por isso -algumas descidas.
Mourão podia ter tirado mais partido do defesa fácil que defrontou.
RIBEIRO DOS REIS»
In.: Os Sports. dir. Raul de Oliveira, nº 2395 de 9 de Setembro de 1940.